São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 2002

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TERROR

Polícia diz que Farc lançariam avião contra palácio presidencial no dia da posse de Uribe; para analistas, possibilidade é remota

Colômbia diz ter frustrado atentado suicida

France Presse
Helicóptero militar colombiano transporta soldado ferido após explosão de bomba em San Juan de Rioseco, a 50 km de Bogotá


ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

A polícia colombiana anunciou ontem ter desbaratado um plano da guerrilha marxista Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para jogar um avião contra o palácio presidencial, em Bogotá, no dia 7 de agosto, dia da posse de Alvaro Uribe na Presidência.
O anúncio foi feito por Germán Jaramillo, diretor do DAS (Departamento Administrativo de Segurança). Segundo ele, o plano teria sido descoberto após a prisão, no dia 18, de Jorge Enrique Carvajalino, irmão de um dos principais líderes das Farc, conhecido como Andrés París. Carvajalino seria o encarregado de coordenar o atentado.
Segundo Jaramillo, um piloto de Medellín, que havia trabalhado para o narcotraficante Pablo Escobar, o mítico chefe do Cartel de Medellín, teria concordado em participar da missão em troca de US$ 2 milhões. O plano previa o desvio de um avião de Bogotá ou Barranquilla (norte).
As Farc não se pronunciaram sobre as denúncias. Em uma breve declaração à imprensa, Carvajalino disse não ter nada a ver com as denúncias e que o assunto se esclarecerá "cedo ou tarde".
Após a denúncia, as autoridades colombianas redobraram a vigilância sobre o espaço aéreo da capital. Nos últimos dois meses, quatro pequenas aeronaves sobrevoaram a cidade sem autorização. Nenhuma foi interceptada, apesar do rápido envio de caças da Força Aérea. Os pilotos também não foram identificados.

"Especulações"
O vice-presidente e ministro da Defesa, Gustavo Bell, disse que os organismos de inteligência estão trabalhando para prevenir possíveis ataques, mas qualificou de "especulações magnificadas pelos meios de comunicação" a hipótese de um ataque ao palácio.
Para especialistas consultados pela Folha, parece remota a possibilidade de as Farc cometerem um atentado suicida nos moldes dos ataques aéreos contra o World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro.
"As Farc não são uma organização com um paradigma religioso. Os guerrilheiros não demonstram uma disposição de morrer por sua causa de maneira suicida", afirmou o analista militar Marco Romero, professor da Universidade Nacional de Bogotá. "Nunca houve um atentado suicida cometido pelas Farc", disse ele.
Adam Isacson, coordenador do Projeto Colômbia do Centro de Política Internacional, de Washington, também considera pouco provável um ataque suicida, mas afirma que uma ação com um avião controlado à distância seria mais factível. "As Farc já roubaram alguns aviões pequenos nos últimos meses, um dos quais foi encontrado no lado venezuelano da fronteira carregado de explosivos", afirmou.
Apesar disso, ele considera que o governo colombiano está hoje melhor preparado para enfrentar uma ameaça como essa. "Por indicações anteriores, os colombianos melhoraram muito sua capacidade de controle aéreo e de proteção contra ataques", disse ele.
Segundo o comandante da Força Aérea Colombiana, Héctor Velasco, o esquema de segurança previsto para a posse de Uribe inclui a presença de aviões de vigilância dos EUA.
A execução de um atentado como o denunciado, na visão dos analistas, significaria para as Farc um golpe duro do ponto de vista de suas pretensões políticas e poderia estimular os EUA a aumentar sua ajuda ao governo colombiano para o combate às guerrilhas.
"Isso significaria para as Farc entrar cada vez mais na lógica do terrorismo internacional, enquanto eles lutam para se desvincular dessa imagem e para serem reconhecidos como grupo político", avaliou Romero. "Não creio também que as Farc teriam interesse em provocar ainda mais os EUA", disse.
Para Adam Isacson, as Farc "nunca mais recuperariam sua credibilidade internacional e sua capacidade de negociar uma saída política para o conflito".
As Farc vêm mantendo uma forte ofensiva desde fevereiro, quando o governo rompeu o processo de paz iniciado com o grupo no final de 1998, após o sequestro de um senador. Segundo os analistas, o grupo deve aumentar sua pressão sobre o Estado colombiano para tentar se fortalecer antes da posse de Uribe, eleito com um discurso militarista de combate à guerrilha.

Com agências internacionais

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