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Escândalo político varre Nova Jersey
Em investigação de dez anos sobre corrupção, FBI prende prefeitos, rabinos e funcionários públicos
Delitos vão de lavagem de dinheiro a suborno e tráfico de órgãos; caso pode abalar disputa ao governo estadual ao tirar foco da economia
Chip East/Reuters
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Suspeito chega algemado a tribunal de Newark, em Nova Jersey;
ação contou com 200 agentes
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
Prefeitos, funcionários públicos e rabinos estão entre os
principais acusados de um
grande esquema de corrupção
investigado pelo FBI nos Estados norte-americanos de Nova
York e Nova Jersey. Na última
quinta-feira, 44 pessoas foram
detidas com acusações que vão
desde corrupção a lavagem de
dinheiro e tráfico de órgãos.
Mais de 200 agentes do FBI
foram espalhados em Nova
Jersey e Nova York para fazer
prisões e incursões em casas e
escritórios. O caso surpreendeu até a população de Nova
Jersey, Estado em que casos de
políticos envolvidos em corrupção resultaram na condenação de mais de cem funcionários públicos desde 2001.
O prefeito de Hoboken, Peter
Cammarano, com apenas três
semanas no cargo, está entre os
acusados, assim como os de Secaucus e Ridgefield. Além de
autoridades locais, a investigação envolveu líderes religiosos.
A investigação se estendeu ao
longo de dez anos, mas o caso
começou a avançar, de fato, a
partir de 2007, com a ajuda de
um informante identificado como Solomon Dwek, um empreendedor imobiliário falido
que havia sido preso em 2006
sob acusação de fraude bancária. Dwek passou a colaborar
com o FBI depois de ser preso
por ter passado um cheque sem
fundos de US$ 25 milhões para
um banco em Nova Jersey.
"O problema da corrupção
em Nova Jersey é um dos piores, se não o pior, do país", afirmou Ed Kahrer, agente do FBI
encarregado da investigação.
Segundo ele, a corrupção já se
tornou "um câncer" na cultura
política do Estado.
Esquema duplo
As autoridades encontraram
dois esquemas distintos.
Inicialmente, representantes da comunidade de judeus
sírios são suspeitos de lavar dinheiro por meio de organizações de caridade. A ação consistia em receber cheques dos negócios, cobrar uma taxa e devolver dinheiro vindo principalmente de Israel e de um
banco suíço. Para se aproximar
do esquema, o informante se
apresentou como alguém envolvido na falsificação de bolsas
de grife, como Gucci e Prada. O
rabino-chefe da comunidade
judaica síria nos EUA, Saul
Kassin, é um dos investigados.
O caso se desdobrou para
corrupção pública quando um
contato da lavagem de dinheiro
apresentou a Dwek funcionários públicos com ligações políticas. Dwek passou então a se
apresentar como um empresário disposto a construir arranha-céus ou projetos a funcionários públicos e prefeitos.
Ele oferecia US$ 5.000 em
dinheiro para uma campanha
ou como suborno e prometia
mais fundos. Em um episódio,
chegou a repassar US$ 97 mil
dentro de uma caixa de cereais.
O prefeito de Hoboken, por
exemplo, é acusado de ter recebido US$ 25 mil em suborno. O
político teria dito que "poderia
ser acusado e ainda assim receber de 85% a 95% dos votos". A
maior parte dos acusados foi
solta sob fiança.
Durante a investigação,
Dwek se deparou também com
um suspeito de ser traficante
de rins do Brooklyn, Levy-Izhak Rosenbaum. Ele é acusado de se aproximar de pessoas
em dificuldade, principalmente em Israel, e convencê-las a
vender o rim por US$ 10 mil,
para então vender o órgão por
US$ 160 mil nos EUA. Em conversas, Rosembaum diz atuar
no tráfico há dez anos.
O episódio poderá ter consequências políticas na eleição
para governador em novembro,
por desviar a atenção da economia para o histórico de corrupção do Estado.
O democrata Jon Corzine,
que tenta a reeleição e conta
com o apoio do presidente dos
EUA, Barack Obama, afirmou
que "a escala de corrupção que
estamos vendo nesse caso é
simplesmente inaceitável e não
pode ser tolerada".
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