São Paulo, sábado, 25 de julho de 2009

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Escândalo político varre Nova Jersey

Em investigação de dez anos sobre corrupção, FBI prende prefeitos, rabinos e funcionários públicos

Delitos vão de lavagem de dinheiro a suborno e tráfico de órgãos; caso pode abalar disputa ao governo estadual ao tirar foco da economia

Chip East/Reuters
Suspeito chega algemado a tribunal de Newark, em Nova Jersey;
ação contou com 200 agentes


JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

Prefeitos, funcionários públicos e rabinos estão entre os principais acusados de um grande esquema de corrupção investigado pelo FBI nos Estados norte-americanos de Nova York e Nova Jersey. Na última quinta-feira, 44 pessoas foram detidas com acusações que vão desde corrupção a lavagem de dinheiro e tráfico de órgãos.
Mais de 200 agentes do FBI foram espalhados em Nova Jersey e Nova York para fazer prisões e incursões em casas e escritórios. O caso surpreendeu até a população de Nova Jersey, Estado em que casos de políticos envolvidos em corrupção resultaram na condenação de mais de cem funcionários públicos desde 2001.
O prefeito de Hoboken, Peter Cammarano, com apenas três semanas no cargo, está entre os acusados, assim como os de Secaucus e Ridgefield. Além de autoridades locais, a investigação envolveu líderes religiosos.
A investigação se estendeu ao longo de dez anos, mas o caso começou a avançar, de fato, a partir de 2007, com a ajuda de um informante identificado como Solomon Dwek, um empreendedor imobiliário falido que havia sido preso em 2006 sob acusação de fraude bancária. Dwek passou a colaborar com o FBI depois de ser preso por ter passado um cheque sem fundos de US$ 25 milhões para um banco em Nova Jersey.
"O problema da corrupção em Nova Jersey é um dos piores, se não o pior, do país", afirmou Ed Kahrer, agente do FBI encarregado da investigação. Segundo ele, a corrupção já se tornou "um câncer" na cultura política do Estado.

Esquema duplo
As autoridades encontraram dois esquemas distintos.
Inicialmente, representantes da comunidade de judeus sírios são suspeitos de lavar dinheiro por meio de organizações de caridade. A ação consistia em receber cheques dos negócios, cobrar uma taxa e devolver dinheiro vindo principalmente de Israel e de um banco suíço. Para se aproximar do esquema, o informante se apresentou como alguém envolvido na falsificação de bolsas de grife, como Gucci e Prada. O rabino-chefe da comunidade judaica síria nos EUA, Saul Kassin, é um dos investigados.
O caso se desdobrou para corrupção pública quando um contato da lavagem de dinheiro apresentou a Dwek funcionários públicos com ligações políticas. Dwek passou então a se apresentar como um empresário disposto a construir arranha-céus ou projetos a funcionários públicos e prefeitos.
Ele oferecia US$ 5.000 em dinheiro para uma campanha ou como suborno e prometia mais fundos. Em um episódio, chegou a repassar US$ 97 mil dentro de uma caixa de cereais.
O prefeito de Hoboken, por exemplo, é acusado de ter recebido US$ 25 mil em suborno. O político teria dito que "poderia ser acusado e ainda assim receber de 85% a 95% dos votos". A maior parte dos acusados foi solta sob fiança.
Durante a investigação, Dwek se deparou também com um suspeito de ser traficante de rins do Brooklyn, Levy-Izhak Rosenbaum. Ele é acusado de se aproximar de pessoas em dificuldade, principalmente em Israel, e convencê-las a vender o rim por US$ 10 mil, para então vender o órgão por US$ 160 mil nos EUA. Em conversas, Rosembaum diz atuar no tráfico há dez anos.
O episódio poderá ter consequências políticas na eleição para governador em novembro, por desviar a atenção da economia para o histórico de corrupção do Estado.
O democrata Jon Corzine, que tenta a reeleição e conta com o apoio do presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que "a escala de corrupção que estamos vendo nesse caso é simplesmente inaceitável e não pode ser tolerada".


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