São Paulo, domingo, 25 de julho de 2010

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Venezuela fecha 2010 em grave recessão

Nova crise diplomática com Bogotá é tida por analistas como método para desviar atenção do caos econômico

Caracas terá inflação forte e contração do PIB, na contramão da maior parte das outras nações em desenvolvimento

Carlos Garcia Rawlins-23.jul.2010/Reuters
Homem exibe cédulas de bolívares na fronteira de Venezuela e Colômbia

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

Ao embarcar em nova crise diplomática com a Colômbia, Hugo Chávez tenta desviar atenção da crise econômica vivida pelo país, que terminará 2010 com a maior inflação e uma das recessões mais severas do mundo.
A radiografia da catástrofe econômica vivida pela Venezuela se reflete em uma série de recordes estatísticos negativos que o país colecionará este ano, segundo projeções de bancos, consultorias e instituições multilaterais.
A Venezuela deverá terminar 2010 com inflação de cerca de 40%, algo entre 10 e 20 pontos percentuais maior do que a dos outros países com forte descontrole de preços (como Gana e Argentina).
Enquanto a maioria dos países emergentes crescerá fortemente em 2010, o PIB (Produto Interno Bruto) da Venezuela contrairá entre 3% e 6%, segundo projeções.
Ainda que os números menos catastróficos se materializem, a Venezuela figurará na lista dos 3 a 5 países com as recessões mais severas.
O país enfrentou outras recessões nas últimas décadas, inclusive depois de iniciada a era chavista em 1999. E Chávez sobreviveu a essas crises, surfando principalmente na onda dos altos preços do petróleo (principal motor da economia), de 2005 a 2008.
O problema, dizem analistas, é que a crise atual é mais profunda e estrutural. E que a paciência dos cidadãos parece estar se esgotando.
Neste contexto, o choque diplomático com a Colômbia seria manobra para desviar atenção: "Esse tipo de comportamento provavelmente será mantido enquanto Chávez estiver no poder", diz Richard Hamilton, chefe de análise latino-americana da consultoria Business Monitor International.
A grande questão é se a estratégia surtirá efeito em um cenário de insatisfação crescente capturado em pesquisa da Consultores 21. Dos 1.500 entrevistados, 57% creem que Chávez é culpado pelos problemas do país. Outros 43% dizem ter mais confiança na oposição, enquanto 35% disseram o contrário.
Nesse contexto não muito favorável, a primeira prova de fogo para o governo virá em setembro, quando ocorrerão eleições legislativas.
Kate Parker, analista sênior da Economist Intelligence Unit, diz que, mesmo que Chávez perca a maioria absoluta no Congresso, manterá os poderes do Executivo.
Hamilton também não vê sérias ameaças ao chavismo no curto prazo. Mas acha que a provável persistência de Chávez tende a enfraquecer mais o governo, até a eleição presidencial de 2012.
Essa tendência negativa, diz, pode ser revertida caso haja uma forte alta nos preços do petróleo. No entanto, não é essa a previsão.


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