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Banir véu é antibritânico, diz ministro
Chefe da Imigração afirma que Reino Unido não seguirá países europeus com legislações contrárias à burca
Polêmica diferencia os franceses dos ingleses no que é progressista e mais adequado para a sociedade atualmente
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
Estação de metrô de Shadwell. Quinta-feira, 13h. É necessário esperar dez minutos
até ver a primeira mulher
sem algum tipo de véu a cobrir-lhe a cabeça e parte do
rosto. Muitas mostravam
apenas os olhos por trás das
vestes pretas até os pés.
Não se trata de um país
muçulmano, mas de um bairro a menos de cinco quilômetros do palácio de Buckingham, onde mora a rainha.
Essa diversidade é algo
que oficialmente orgulha os
britânicos. E deve continuar
assim, na contramão de vários países europeus que
querem banir burcas e afins.
"Dizer às pessoas o que
elas podem ou não podem
usar, se elas estão apenas andando nas ruas, seria algo
"não britânico"", afirmou Damian Green, ministro da Imigração, em entrevista ao jornal "Daily Telegraph".
Segundo ele, não há chance de o Reino Unido vetar
burcas ou lenços islâmicos.
Outra ministra, Caroline
Spelman, do Meio Ambiente,
foi mais radical e polêmica ao
falar sobre a burca, que cobre
até os olhos. "Estive no Afeganistão e acredito que entendi porque muitas mulheres querem usar burcas. Para
elas, a burca confere dignidade. É a escolha delas."
"Banir a burca seria totalmente contrário aos princípio desta nação."
Voltando a Shadwell, um
dos bairros com maior concentração de muçulmanos
de Londres (cerca de 35%),
não são apenas as mulheres
que se vestem "diferente".
No Watney Market, de lojas e camelôs, a maioria dos
homens usa chinelo, calça,
túnica e um barrete. Quase
todos têm barba comprida.
No mercado, é possível
comprar brinquedos, suvenir, comida e, é claro, lenços
como niqab (o véu que cobre
o rosto). Saem por 5 libras (
R$ 14). Burcas não há.
Os não muçulmanos parecem não se importar. "Eu já
me acostumei. Vejo essas
pessoas todos os dias. Quando comecei a trabalhar aqui,
notava. Agora, não mais",
diz Susan Carter, 26, uma inglesa católica que trabalha
num pub perto do mercado.
Mas faz sentido um pub
num "enclave" muçulmano,
grupo que não bebe álcool?
"É claro que só os "brancos"
vêm beber aqui", diz ela, revelando um lado preconceituoso no discurso inclusivo.
DIFERENÇAS
Na França, a Assembleia
Nacional aprovou lei que
proíbe as mulheres de saírem
às ruas com o rosto coberto.
Ainda é necessária a quase
certa aprovação do Senado.
Não há menção ao islã no
projeto, mas ele tem endereço: muçulmanas que por opção ou por ordem de maridos
e pais escondem seus corpos,
dos pés à cabeça. A mulher
que desrespeitar a lei estará
sujeita a multa de 150. Pais
e maridos podem ser presos
por até um ano.
A Itália já aplica multas
àquelas que não revelam a
face. Na Espanha, algumas
cidades da Catalunha, incluindo Barcelona, aplicam
multas, mas a Câmara vetou
uma lei federal.
A polêmica mostra mais
uma vez diferenças de opinião com os franceses.
Numa margem do Canal
da Mancha (França), progressista é defender a proibição dos véus em nome do Estado laico. "A nova lei assegura os valores franceses",
disse Michèle Alliot-Marie,
ministra da Justiça.
Na outra margem (Reino
Unido), determinar por lei o
que pode ser vestido é reacionário e um atentado às liberdades individuais.
Alheias a tudo isso, a católica e as muçulmanas de
Shadwell continuam a tocar
a própria vida.
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