DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO E
DA SUCURSAL DO RIO

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmou ontem no Rio que a população iraquiana precisa controlar seu próprio governo o mais rápido possível. Segundo ele, é preciso "respeitar a integridade territorial do país" e "os iraquianos precisam ter controle sobre seu destino político e sobre seus recursos naturais".
Em entrevista no Copacabana Palace, que manteve a bandeira da ONU hasteada a meio mastro em homenagem a Sérgio Vieira de Mello, representante especial da ONU no Iraque morto em Bagdá, Annan disse que "o dia em que o povo iraquiano governará a si próprio precisa chegar rápido".
Annan chegou ao Rio no sábado e embarcou de volta a Nova York ontem às 18h. Ao deixar o hotel, foi aplaudido por cerca de 20 pessoas. "A opção de retirada [da ONU do Iraque] não é algo que consideramos. O povo do Iraque precisa de nós, e os fanáticos e violentos que nos tiraram Sérgio não vão ditar o que devemos fazer", afirmou.
O corpo de Vieira de Mello foi velado durante o fim de semana no Palácio da Cidade, em Botafogo (zona sul). Ontem, no segundo dia do velório, parentes, amigos e admiradores foram se despedir do brasileiro. A mãe de Vieira de Mello, Gilda, 85, e a babá Francisca Domingos, 89, que trabalhou em sua casa por 40 anos, choraram abraçadas. A babá cuidou do diplomata dos 12 aos 18 anos, quando ele foi estudar na França.
O corpo foi levado ontem à tarde do Rio para a Suíça, onde será sepultado na quinta-feira no Cimetière des Rois (Cemitério dos Reis), em Genebra. Lá estão enterradas personalidades como o autor argentino Jorge Luis Borges.
A decisão de enterrá-lo na Suíça foi da mulher do diplomata, Annie Marie. Os filhos do casal, Laurent, 25, e Adrien, 23, haviam manifestado o desejo de enterrar o pai na cidade em que moram, Thonon-Les-Bains, na França, a 20 km de Genebra.
Annan foi ao velório no sábado. Ontem, ele aproveitou o dia ensolarado para sobrevoar por mais de uma hora o Rio num helicóptero. Em seguida, almoçou numa churrascaria da zona sul.
Annan confirmou a tentativa da ONU de transformar a atual força de ocupação numa força multilateral. Mas a decisão depende da boa vontade dos EUA de abrir mão do controle do país. Realista, Annan disse que o fim das discussões vai "demorar muito".