São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

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Região mistura crime e terror, diz especialista

DE WASHINGTON

Magnus Ranstorp, especialista em terrorismo da Universidade St. Andrews, na Escócia, afirma que a Tríplice Fronteira (entre Brasil, Paraguai e Argentina) transformou-se em uma "usina" de financiamento de atividades ilícitas, entre elas o terrorismo.
Em depoimento à comissão do Congresso dos EUA que investigou o 11 de Setembro, Ranstorp qualificou a região como um "ponto cego", onde o crime organizado "se funde" com atividades de financiamento ao terror. Leia entrevista à Folha. (FCz)
 

Folha - O sr. diz que a Tríplice Fronteira é ""ponto cego". Por quê?
Magnus Ranstorp -
Há uma sinergia entre crimes comuns, crime organizado e terrorismo. A Tríplice Fronteira é um ""ponto cego", onde há um ambiente financeiro que funciona como uma usina de geração de fundos para essas atividades.
Há algumas iniciativas sérias dos governos da região para cuidar do problema, mas eu mesmo fiquei completamente surpreso ao conhecer números que mostram movimentações financeiras diárias da ordem de US$ 80 milhões por dia na região, uma cifra inferior apenas à de Hong Kong. Isso é muito dinheiro.
Sei que Brasil, Paraguai e Argentina têm atuado contra o problema e que algumas atividade migraram para regiões como a ilha Margarita, na Venezuela, e para outras áreas da América Latina. Mas ainda há muito a ser feito.

Folha - O sr. tem evidências da existência de terroristas vivendo na região?
Ranstorp -
Não há nenhuma evidência de planejamento de ações terroristas na região, mas certamente o financiamento ao terrorismo merece uma atenção maior. Depois da invasão americana, foram encontradas no Afeganistão uma série de fotografias de Foz do Iguaçu, e há evidências de que alguns terroristas viviam na região da Tríplice Fronteira.
Os EUA estão prestando atenção na região, já que o problema ocorre em seu próprio quintal. Mas o país ainda está em um processo crescente de selar suas próprias fronteiras e, nesse caminho, o México representa a principal barreira contra o resto da América Latina.

Folha - O narcotráfico teria um papel no financiamento ao terror?
Ranstorp -
Sim, mas não só ele. É toda atividade capaz de gerar um dinheiro ilícito, seja tráfico, contrabando ou pirataria de produtos. O dinheiro ilegal circula na região e pode ser usado em várias atividades, entre elas o terrorismo, que se vale dos mesmos mecanismos. É muito difícil saber onde esse dinheiro vai parar. E isso ocorre em uma região que não tem nenhum controle estrito de movimentação de pessoas.
Há vários outros exemplos no mundo onde o crime organizado transbordou para atividades terroristas, como no Leste Europeu. No Afeganistão, há terroristas envolvidos com drogas. Por que seria diferente na América Latina?


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