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Região mistura crime e terror, diz especialista
DE WASHINGTON
Magnus Ranstorp, especialista
em terrorismo da Universidade
St. Andrews, na Escócia, afirma
que a Tríplice Fronteira (entre
Brasil, Paraguai e Argentina)
transformou-se em uma "usina"
de financiamento de atividades
ilícitas, entre elas o terrorismo.
Em depoimento à comissão do
Congresso dos EUA que investigou o 11 de Setembro, Ranstorp
qualificou a região como um
"ponto cego", onde o crime organizado "se funde" com atividades
de financiamento ao terror. Leia
entrevista à Folha.
(FCz)
Folha - O sr. diz que a Tríplice
Fronteira é ""ponto cego". Por quê?
Magnus Ranstorp - Há uma sinergia entre crimes comuns, crime organizado e terrorismo. A
Tríplice Fronteira é um ""ponto
cego", onde há um ambiente financeiro que funciona como uma
usina de geração de fundos para
essas atividades.
Há algumas iniciativas sérias
dos governos da região para cuidar do problema, mas eu mesmo
fiquei completamente surpreso
ao conhecer números que mostram movimentações financeiras
diárias da ordem de US$ 80 milhões por dia na região, uma cifra
inferior apenas à de Hong Kong.
Isso é muito dinheiro.
Sei que Brasil, Paraguai e Argentina têm atuado contra o problema e que algumas atividade migraram para regiões como a ilha
Margarita, na Venezuela, e para
outras áreas da América Latina.
Mas ainda há muito a ser feito.
Folha - O sr. tem evidências da
existência de terroristas vivendo
na região?
Ranstorp - Não há nenhuma evidência de planejamento de ações
terroristas na região, mas certamente o financiamento ao terrorismo merece uma atenção
maior. Depois da invasão americana, foram encontradas no Afeganistão uma série de fotografias
de Foz do Iguaçu, e há evidências
de que alguns terroristas viviam
na região da Tríplice Fronteira.
Os EUA estão prestando atenção na região, já que o problema
ocorre em seu próprio quintal.
Mas o país ainda está em um processo crescente de selar suas próprias fronteiras e, nesse caminho,
o México representa a principal
barreira contra o resto da América Latina.
Folha - O narcotráfico teria um
papel no financiamento ao terror?
Ranstorp - Sim, mas não só ele. É
toda atividade capaz de gerar um
dinheiro ilícito, seja tráfico, contrabando ou pirataria de produtos. O dinheiro ilegal circula na região e pode ser usado em várias
atividades, entre elas o terrorismo, que se vale dos mesmos mecanismos. É muito difícil saber
onde esse dinheiro vai parar. E isso ocorre em uma região que não
tem nenhum controle estrito de
movimentação de pessoas.
Há vários outros exemplos no
mundo onde o crime organizado
transbordou para atividades terroristas, como no Leste Europeu.
No Afeganistão, há terroristas envolvidos com drogas. Por que seria diferente na América Latina?
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