São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

EUA não usam poder de veto, e Bush volta a criticar Israel, que rejeita a resolução; ataque em Gaza mata 9 palestinos

ONU exige fim do cerco israelense a Arafat

DA REDAÇÃO

Israel manteve o cerco ao presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, em Ramallah (Cisjordânia), desafiando resolução do Conselho de Segurança da ONU, aprovada ontem, com abstenção dos EUA.
A resolução exige a saída imediata das forças israelenses, mas não prevê sanções se Israel desrespeitá-la. O governo de Ariel Sharon afirmou que não cumprirá a exigência enquanto os supostos terroristas que se abrigam no que restou do QG de Arafat não se entregarem.
Na faixa de Gaza, nove palestinos foram mortos em uma das mais duras ofensivas israelenses na região desde a eclosão da Intifada (o levante palestino contra a ocupação israelense), iniciada em setembro de 2000. O alvo dos ataques israelenses foram os militantes do grupo extremista Hamas.
Apesar da ação militar de ontem, Israel ainda não deu início a uma possível operação em larga escala em Gaza, similar a outras que ocorreram na Cisjordânia.
No Conselho de Segurança, por 14 votos a 0, além da abstenção dos americanos, foi aprovado um texto que, além de exigir o fim imediato do cerco a Arafat, pede aos israelenses que cessem "a destruição da infra-estrutura civil e de segurança palestina". A resolução exige que a ANP leve a julgamento os responsáveis por atos terroristas.
Muitos analistas enxergam a decisão dos EUA de não usar o seu poder de veto como uma forma de não desagradar os países árabes em um momento em que busca apoio para atacar o Iraque.
Ontem, o presidente dos EUA, George W. Bush, voltou a criticar Israel. "Nós já tivemos muito sofrimento. Eu acredito que as ações tomadas pelos israelenses não ajudem a estabelecer e desenvolver as instituições necessárias para a criação do Estado palestino."
O papa João Paulo 2º também pediu para Israel encerrar o cerco a Arafat. Em Israel, também crescem as críticas, especialmente na imprensa, ao cerco. Para esses opositores, a ação deveria visar o Hamas, que assumiu a autoria do atentado que matou cinco pessoas, na semana passada, em Tel Aviv.
O ministro da Defesa de Israel, Binyamin Ben Eliezer, afirmou: "Nenhuma resolução, nenhuma pessoa, nada pode nos tirar o nosso direito de defender nossas casas e nosso povo".
Gideon Saar, secretário de gabinete israelense, acrescentou que o cerco a Arafat irá continuar até que cerca de 200 pessoas que estão dentro do quartel-general do líder palestino se entreguem.
O porta-voz do premiê Ariel Sharon, Raanan Gissin, disse que, "como os palestinos não irão deter os terroristas, então Israel não deverá cumprir unilateralmente a resolução". Os palestinos comemoraram a aprovação da resolução da ONU. Arafat divulgou comunicado festejando a decisão. Saeb Erekat, principal negociador palestino, disse que a resolução deveria ser imposta à força.
As linhas de telefone dos escritórios de Arafat -única parte de seu QG que ainda não foi destruída- foram cortadas, de acordo com autoridades palestinas. Arafat e seus assessores estariam mantendo contato apenas por celular. Visitas foram proibidas.
Ramallah está sob toque de recolher. Mesmo assim acontecem manifestações pró-Arafat. Há protestos também em outras cidades palestinas. Em Gaza, cerca de 30 mil foram às ruas para protestar contra as ações israelenses.
Na ofensiva israelense em Gaza ontem, foram utilizados 90 tanques, escoltados por helicópteros. Dos nove mortos, seis eram civis e três, militantes extremistas. Israel afirma ter destruído 13 fábricas de bomba. Ao menos 1.564 palestinos e 600 israelenses morreram na Intifada.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Terror: Senado dos EUA aprova comissão independente para investigar o 11 de setembro
Próximo Texto: Ásia: Ataque a templo mata 30 na Índia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.