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TRAGÉDIA NO CARIBE
Multidão toma posto que fazia distribuição de comida
Tropa da ONU usa gás para dispersar haitianos famintos
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO HAITI
Tropas da ONU no Haiti tiveram de disparar ontem bombas
de gás lacrimogêneo para tentar
dispersar uma multidão de haitianos desesperados em um posto de
distribuição de alimentos em Gonaives. A cidade foi a mais atingida pela tempestade tropical Jeanne, há uma semana. Morreram ao
menos 1.160 pessoas e ainda há
1.250 desaparecidos. Os desabrigados chegam a 300 mil.
Cerca de 500 pessoas invadiram
uma escola onde uma ONG distribuía alimentos. Soldados argentinos dispararam as bombas e conseguiram dispersar os haitianos,
mas eles voltaram assim que a fumaça baixou.
"Loucura"
"Quando chega um comboio
[de ajuda], é uma loucura, os argentinos têm trabalho para organizar a distribuição", disse o tenente-coronel brasileiro Hudson
Marques Júnior, que fez uma visita de helicóptero ontem à cidade
inundada.
A emergência em Gonaives afetou pesadamente a atuação da
força de paz, que está com o efetivo bem aquém do previsto. "Militar não reclama", diz o general-de-divisão brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, comandante
das forças militares da Minustah
(Missão da ONU para a Estabilização do Haiti).
Heleno pediu ao representante
do secretário-geral das Nações
Unidas e ao comando das forças
de paz que acelerassem o envio de
novas tropas.
Hoje estão no país caribenho
apenas 2.800 dos 6.700 soldados
autorizados pelo Conselho de Segurança da ONU, além de 480 dos
1.622 policiais civis previstos. Dos
militares, 1.197 são brasileiros.
Futebol
O último jogo de futebol no
principal estádio do Haiti foi pela
paz; o próximo vai ser para arrecadar dinheiro para as vítimas de
Gonaives.
Desde o jogo da seleção brasileira (6 a 0 sobre o Haiti, em 18 de
agosto) que o estádio Sylvio Cator
não é usado. Mas um torneio com
oito times haitianos deve começar
no dia 1º de outubro para angariar
dinheiro para ajudar os desabrigados, segundo o responsável pelo estádio, Gerson Edee (cujo nome em homenagem ao ex-jogador brasileiro Gerson, tricampeão
mundial no México, em 1970).
Gerson ainda se lembra com
emoção do jogo. "Havia gente que
dizia que queria ver o jogo e morrer, de tanta felicidade."
Heleno disse que "perdeu dez
anos de vida" no evento da seleção, em razão da necessidade de
reforçar as medidas de segurança.
Mas o futebol não apaga a crise
política nem substitui a falta de
patrulhas -2.300 das quais já foram realizadas em três meses de
atuação da brigada brasileira, segundo o seu comandante, o general-de-brigada Américo Salvador
de Oliveira.
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