São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

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TRAGÉDIA NO CARIBE

Multidão toma posto que fazia distribuição de comida

Tropa da ONU usa gás para dispersar haitianos famintos

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO HAITI

Tropas da ONU no Haiti tiveram de disparar ontem bombas de gás lacrimogêneo para tentar dispersar uma multidão de haitianos desesperados em um posto de distribuição de alimentos em Gonaives. A cidade foi a mais atingida pela tempestade tropical Jeanne, há uma semana. Morreram ao menos 1.160 pessoas e ainda há 1.250 desaparecidos. Os desabrigados chegam a 300 mil.
Cerca de 500 pessoas invadiram uma escola onde uma ONG distribuía alimentos. Soldados argentinos dispararam as bombas e conseguiram dispersar os haitianos, mas eles voltaram assim que a fumaça baixou.

"Loucura"
"Quando chega um comboio [de ajuda], é uma loucura, os argentinos têm trabalho para organizar a distribuição", disse o tenente-coronel brasileiro Hudson Marques Júnior, que fez uma visita de helicóptero ontem à cidade inundada.
A emergência em Gonaives afetou pesadamente a atuação da força de paz, que está com o efetivo bem aquém do previsto. "Militar não reclama", diz o general-de-divisão brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, comandante das forças militares da Minustah (Missão da ONU para a Estabilização do Haiti).
Heleno pediu ao representante do secretário-geral das Nações Unidas e ao comando das forças de paz que acelerassem o envio de novas tropas.
Hoje estão no país caribenho apenas 2.800 dos 6.700 soldados autorizados pelo Conselho de Segurança da ONU, além de 480 dos 1.622 policiais civis previstos. Dos militares, 1.197 são brasileiros.

Futebol
O último jogo de futebol no principal estádio do Haiti foi pela paz; o próximo vai ser para arrecadar dinheiro para as vítimas de Gonaives.
Desde o jogo da seleção brasileira (6 a 0 sobre o Haiti, em 18 de agosto) que o estádio Sylvio Cator não é usado. Mas um torneio com oito times haitianos deve começar no dia 1º de outubro para angariar dinheiro para ajudar os desabrigados, segundo o responsável pelo estádio, Gerson Edee (cujo nome em homenagem ao ex-jogador brasileiro Gerson, tricampeão mundial no México, em 1970).
Gerson ainda se lembra com emoção do jogo. "Havia gente que dizia que queria ver o jogo e morrer, de tanta felicidade."
Heleno disse que "perdeu dez anos de vida" no evento da seleção, em razão da necessidade de reforçar as medidas de segurança.
Mas o futebol não apaga a crise política nem substitui a falta de patrulhas -2.300 das quais já foram realizadas em três meses de atuação da brigada brasileira, segundo o seu comandante, o general-de-brigada Américo Salvador de Oliveira.


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