São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2005

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Furacões crescem com aquecimento global, diz especialista britânico

MICHAEL McCARTHY
DO "INDEPENDENT"

Os furacões superpoderosos que atingem os EUA são evidências incontestáveis do aquecimento global, diz um dos mais importantes cientistas britânicos.
A crescente violência de ciclones como o Katrina, que destruiu Nova Orleans, e o Rita, que assusta o Texas, deve resultar das mudanças climáticas, diz sir John Lawton, presidente da Comissão Real de Poluição Ambiental.
Para ele, os furacões se intensificam, como os modelos computadorizados previram, em função da elevação da temperatura do mar. "A intensidade crescente desse tipo de tempestades extremas muito provavelmente se deve ao aquecimento global."
Em uma série de comentários muito francos em que fez um ataque pouco velado à administração Bush, Lawton criticou os neoconservadores americanos que ainda negam a realidade das transformações climáticas.
Referindo-se à chegada do furacão Katrina, ele disse: "Se isso fizer os malucos climáticos nos EUA compreenderem que temos um problema, então algo de bom terá saído de uma situação verdadeiramente pavorosa".
Enquanto ele falava, pessoas fugiam da costa do Texas e o Rita, um dos furacões mais intensos da história, aproximava-se de Houston, a quarta maior cidade dos EUA.
Sobre que conclusão o governo Bush deveria tirar do fato de dois furacões de intensidade tão alta atingirem os EUA em rápida sucessão, sir John disse: "Se aquilo que, ao que tudo indica, será um caos horroroso levar os céticos americanos extremos em relação às mudanças climáticas a reconsiderarem suas opiniões, isso será um resultado de grande valor".
Quanto ao fato de chamar esses céticos de "malucos", ele respondeu: "Existe um grupo de pessoas em várias partes do mundo [...] que não quer aceitar que as atividades humanas podem modificar o clima e estão modificando. Comparo-as às pessoas que negam que cigarro provoca câncer".
Os comentários de sir John seguem pesquisas recentes, boa parte delas de origem americana, que indicam que a violência dos furacões vem aumentando.
Um artigo de pesquisadores americanos publicado na semana passada no periódico americano "Science" mostra que nos últimos 35 anos dobrou a incidência de tempestades com a intensidade do furacão Katrina.
Embora a frequência global das tempestades tropicais em todo o mundo mantenha-se estável desde 1970, o número de tempestades extremas, de categoria 4 ou 5, subiu muito. Na década de 1970, ocorriam em média dez furacões de categoria 4 ou 5 por ano, mas, desde 1990, a média atingiu 18 por ano. Durante o mesmo período, a temperatura da superfície do mar, um dos fatores que determinam a intensidade dos furacões, aumentou em média 0,5 grau centígrado.
Segundo Lawton, "cada vez mais, parece que temos uma prova inegável. É justo concluir que o aquecimento global, provocado em grande medida pelo homem, provoca o aumento da temperatura superficial do mar e o aumento da violência dos furacões".


Tradução de Clara Allain


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