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EUA
Houston, principal cidade do Estado, escapou do impacto direto do furacão; outras sofreram alagamentos e incêndios
Rita causa estragos e curiosidade no Texas
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A HOUSTON
Barulhos estranhos vindo de todas as direções. Uma placa de rua
(Texas Street, no centro) entorta
com a ação do vento. Um semáforo cai no meio do cruzamento. Estilhaços de vidros de um prédio
comercial abandonado acima
voam pelo ar como se fosse uma
chuva de papel. Diversos transformadores estouram em seqüência a alguns quarteirões de distância, dando a impressão de que a
cidade está sendo atacada por
bombas ou mísseis.
Fios desencapados se encostam
por força do ar deslocado e produzem faíscas no céu escuro completamente fechado por nuvens,
criando um efeito de fogos de artifício. E a chuva grossa, incessante.
E o vento, de até 60 km/h, que emborracha o rosto em expressões
involuntárias, arranca as frases
das bocas, gruda as roupas nos
corpos e insiste em fazer cada passo parecer tão difícil e desengonçado quanto uma caminhada na
Lua.
Assim foi a madrugada do furacão em Houston, no Texas.
Algumas pessoas insistem em
ver de perto "como é um furacão", apesar das recomendações
oficiais de que nenhum dos que
ainda não tivessem abandonado a
cidade saísse de casa e do toque de
recolher oficial, que ia da 0h às 6h
de ontem. São sem-teto que não
conseguiram abrigo, apesar de a
Cruz Vermelha ter criado durante
a noite mais 15 endereços de
emergência. São aspirantes a saqueadores esperando a oportunidade perfeita -depois, as autoridades anunciariam que 16 deles
foram presos, a maior parte tentando entrar num supermercado
da rede Target. São policiais,
bombeiros, seguranças particulares e jornalistas.
E são sujeitos decididamente estranhos, como o húngaro que mal
conseguia se expressar em inglês
mas sabia o suficiente para dizer
que se dirigia a Galveston, ao sul
da cidade, uma das cidades texanas mais atingidas pelos efeitos
do Rita, com sua câmera na mão,
porque "nunca tinha visto um furacão de perto e queria fotografar
tudo". Chegando lá, informou depois, encontrou surfistas que esperavam pela "onda perfeita",
que nunca veio (eram exceções;
95% da cidade foi evacuada).
"Sorte"
"Tivemos sorte", disse o prefeito da cidade, Bill White, no começo da manhã de ontem, na entrevista coletiva dada no Astrodome,
agora de novo o centro oficial dos
esforços de resgate do Rita. Realmente, um desvio de última hora
para o leste fez que o olho do furacão atingisse o continente norte-americano às 3h30 locais de sábado (5h30 de Brasília) pela cidade
de Cameron, em Sabine Pass,
pouco habitada, do lado da Louisiana na divisa com o Estado de
George W. Bush, já na categoria 3.
Assim, Galveston e Houston (2
milhões de habitantes) saíram da
rota principal, apesar de terem sido atingidas igualmente. A primeira cidade foi sede do principal
incêndio, no bairro histórico de
Strand, que destruiu dois prédios
centenários e um edifício comercial novo, provavelmente pela
queda de um poste de energia.
Com o fogo, uma mulher teria sofrido queimaduras de terceiro
grau, embora a polícia de Houston não tenha comentado esta informação. Se confirmada, ela terá
sido a primeira vítima do furacão.
Ironicamente, um dos prédios
foi construído em 1905, cinco
anos depois de outro furacão ter
atingido a mesma cidade e matado 6.000 pessoas. O fogo também
foi o principal problema enfrentado pelas autoridades de Houston.
Na madrugada de ontem, em Pasadena, na região metropolitana,
uma loja foi destruída, de causas
ainda não conhecidas. Diversos
pontos da cidade ficaram às escuras, deixando mais de 675 mil pessoas sem energia elétrica.
Saíram Galveston e Houston,
mas entraram Beaumont e Port
Arthur, cidades industriais, também no Texas, que mais sofreram
os efeitos da passagem do furacão, que atingiu terra firme com
ondas de 6m, 25 cm de chuva e
ventos de até 160 km/h, causando
alagamentos.
Janes Joplin
Nas duas cidades texanas, conhecidas por abrigarem refinarias
de petróleo e pela fama de uma de
suas crias -Beaumont é o berço
oficial da era do petróleo nos
EUA, com a descoberta do poço
de Spindletop, em 1901, Port Arthur é a cidade-natal da cantora
Janis Joplin (1943-1970)-, telhados voaram com o vento, pelo
menos três incêndios foram registrados e 250 mil pessoas ficaram
sem eletricidade. As ruas estavam
alagadas, principalmente em Port
Arthur, e muitas casas foram destruídas por ação do vento.
Mesmo "poupada", Houston
está longe de voltar ao normal. O
comércio essencial só deve ser
reaberto amanhã, e o recado do
prefeito da cidade foi claro. "Vocês que estão fora não voltem para
casa ainda", disse Bill White. O
comando reunido no Astrodome
faria primeiro um balanço da destruição e da situação do combustível antes de anunciar quando o
tráfego para volta será liberado,
assim como as lojas e o trabalho
das empresas.
Autoridades reunidas no estádio estimaram os custos da destruição no Estado em US$ 8,2 bilhões, depois de terem afetado de
alguma maneira a vida de 5,2 milhões de texanos em 19 condados
(divisão administrativa norte-americana), destruindo 6 mil casas e gerando 26 milhões de toneladas de destroços. Por reunir o
maior número de refinarias de
petróleo, também, o Estado pode
contribuir para que o galão de gasolina chegue a US$ 4, valor não
atingido desde a crise de 1971. Hoje em dia, os valores variam entre
US$ 2,50 e US$ 3.
No começo da manhã, Max
Mayfield, diretor do centro do furacão no Astrodome, disse que as
áreas de Houston e Galveston
"deram sorte". Rita foi um dos
três piores furacões a atingir o Texas na história do Estado, é verdade, mas os estragos têm sido menores do que o esperado. O motivo? "Preparação", disse o funcionário federal. Ou os caprichos da
natureza, de acordo com os meteorologistas.
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