São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2005

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Para EUA, meta não é ter força, mas influência

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

A aproximação entre EUA e Paraguai se insere em um programa estratégico da Casa Branca de aumentar sua influência na região, mas não passa necessariamente por maior presença física de soldados na área da Tríplice Fronteira, insistentemente apontada por Washington como pólo de financiamento de grupos supostamente vinculados a ações terroristas.
Nesse contexto, os exercícios de treinamento entre militares americanos e paraguaios são apenas mais uma peça no quebra-cabeças que envolve diversos órgãos do governo dos EUA na chamada "guerra ao terror", diretriz máxima da administração de George W. Bush após o 11 de Setembro.
Interessados em ampliar o fluxo de informações com os paraguaios, os EUA vêm promovendo diversas ações bilaterais, como os exercícios militares, o estudo de abertura de um posto avançado do FBI e o incremento no intercâmbio de dados de inteligência, tema que a CIA não comenta oficialmente.
Como não se trata de uma guerra convencional, a construção de uma base militar ou a instalação permanente de tropas americanas no país é descartada pelo Pentágono. O mais importante, e necessário dentro da estratégia de Washington, é a cooperação com autoridades paraguaias, intensificada nos últimos meses.
"Não há planos para basear soldados americanos no Paraguai por períodos extensos", afirma o Departamento de Defesa. Os exercícios conjuntos que vêm sendo realizados no país desde agosto, por períodos de duas semanas, são chamados pelo departamento de "exercícios humanitários". "Estamos satisfeitos com a ativa cooperação do Paraguai na luta contra o terrorismo", acrescenta o Pentágono.
Para um especialista em relações estratégicas ouvido pela Folha, atualmente os paraguaios cooperam "em praticamente tudo" com os EUA. Incluindo troca de informações sobre grupos vistos pelos americanos como vinculados a terrorismo e sobre a colônia árabe da região da Tríplice Fronteira, por exemplo.
Os exercícios militares servem, de acordo com o especialista, para que os EUA acumulem informações sobre o modo de atuação de militares paraguaios, além de promoverem uma abordagem mais pragmática e suave a respeito de atividades contra grupos terroristas. Sensibiliza os paraguaios, atrai seu interesse pelo tema e acumula dados sobre a atuação de suas forças armadas, diz.
Já no círculo diplomático estrangeiro, cujo acesso a documentos e ao governo americano é maior, há poucos que temem o avanço das relações EUA-Paraguai como algo perigoso para o Brasil. Servidores do Itamaraty ouvidos pela Folha em Washington manifestam mais interesse em descobrir se o "pacote" envolve alguma negociação comercial.


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