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ANÁLISE
Fim da crise pode ser eleição, conciliação ou intervenção
Resultado final dependerá da capacidade do presidente deposto Manuel Zelaya de obter nas ruas apoio que torne Honduras ingovernável pelo regime golpista
ANDRES OPPENHEIMER
Os diplomatas antecipam
três possíveis desfechos para a
crise política em Honduras, um
país com dois líderes, um dos
quais detém o controle das instituições, enquanto o outro está
desprovido de poder mas conta
com o reconhecimento da comunidade internacional.
O resultado dependerá da capacidade de Manuel Zelaya,
que se refugiou na embaixada
brasileira em Tegucigalpa, de
obter nas ruas apoio que baste
para tornar o país ingovernável
e, assim, deflagrar uma maior
intervenção internacional que
o reconduziria ao poder, a fim
de impedir maiores violências.
"No final, tudo vai depender
do número de peões que cada
um dos presidentes poderá mobilizar", disse um bem informado embaixador latino-americano. "Caso haja grandes tumultos e mortes, aumenta a probabilidade de que os EUA e os países latino-americanos reforcem a pressão pelo retorno de
Zelaya ao posto", acrescentou.
Eis os cenários mais prováveis para Honduras:
Cenário 1
Caos seguido por intervenção da ONU. Os partidários de
Zelaya saem às ruas, provocando ainda mais repressão por
parte do governo de Roberto
Micheletti. O número de mortos e feridos é considerável. O
presidente venezuelano Hugo
Chávez alega que existe um
"genocídio" apoiado pelos EUA
contra o povo hondurenho.
O governo de Micheletti decide forçar a saída de Zelaya da
embaixada a fim de detê-lo, invocando uma decisão da Suprema Corte que determinou sua
prisão antes que ele fosse deposto, em 28 de junho, com base em suposta violação de normas constitucionais que o proibiriam de procurar reeleição.
Além de cortar a água e a eletricidade da embaixada brasileira, o governo de Micheletti
forçaria a saída de Zelaya bombardeando o edifício com heavy
metal em alto volume, da mesma maneira que os EUA fizeram, com êxito, para forçar o
antigo ditador panamenho Manuel Noriega a abandonar seu
refúgio na Embaixada do Vaticano no Panamá, em 1990.
O Brasil apela ao Conselho de
Segurança da ONU por intervenção na crise hondurenha.
Ao contrário da Organização
dos Estados Americanos
(OEA), a ONU pode enviar forças de paz a um país, caso seu
Conselho de Segurança considere que existe risco de violência. Mais ou menos como no
Haiti, em 1994, quando o Conselho de Segurança autorizou
que uma força multinacional
reconduzisse ao poder o presidente deposto, Jean-Bertrand
Aristide. Forças de paz da ONU
entrariam em Honduras para
reconduzir Zelaya ao poder e
supervisionar eleições.
Cenário 2
Um caos de curta duração,
seguido por eleições. Zelaya fica na embaixada brasileira, e, a
despeito de incidentes dispersos de violência, o governo Micheletti consegue restaurar a
ordem. Depois de alguns dias
de comoção, a crise em Honduras desaparece das manchetes.
Washington e os países latino-americanos começam a
ponderar se aceitam os resultados da eleição convocada para
29 de novembro pelo governo
de Micheletti. Diversos países
passam a enfatizar que a maioria das atuais democracias latino-americanas nasceu de eleições convocadas por ditaduras.
Além disso, argumentarão que
o golpe hondurenho não foi um
golpe militar tradicional porque os responsáveis pela ação
jamais pretenderam permanecer no poder.
"A ideia desse novo tipo de
golpe, um "golpe corretivo" que
não pretende manter o poder
por muitos anos, mas sim bloquear uma ação presidencial
[ilegal], poderia ganhar terreno", diz Dante Caputo, assessor
especial de José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA.
Cenário 3
Um governo de unidade nacional. Sob crescente pressão
internacional, Micheletti e Zelaya começam a negociar um
governo de coalizão com alguma espécie de representação
para Zelaya no poder, o que ofereceria a todos uma saída sem
vexames. O novo governo de
unidade nacional, baseado em
uma proposta do presidente
Óscar Arias, da Costa Rica, supervisionaria a eleição.
Minha opinião: como eterno
otimista, creio que veremos algo próximo ao terceiro cenário.
Talvez pressionado pela ameaça de uma intervenção da ONU,
o governo Micheletti provavelmente aceitará um diálogo dirigido a garantir reconhecimento
internacional para o resultado
da eleição de novembro.
Caso isso não aconteça, o
vencedor da eleição de novembro pode convocar um novo
pleito, sob fiscalização internacional, para resolver a crise.
De qualquer forma, como
muitas vezes acontece, é provável que a crise logo perca espaço nas manchetes. Nem Zelaya
nem Micheletti podem ser considerados estadistas ponderados ou líderes carismáticos. Seria surpresa para mim que alguém recorde seus nomes no
futuro e muito mais que sua falta seja sentida.
ANDRES OPPENHEIMER é colunista do "Miami
Herald". Este artigo foi distribuído pela Tribune
Media Services.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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