São Paulo, sexta-feira, 25 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Fim da crise pode ser eleição, conciliação ou intervenção

Resultado final dependerá da capacidade do presidente deposto Manuel Zelaya de obter nas ruas apoio que torne Honduras ingovernável pelo regime golpista

ANDRES OPPENHEIMER

Os diplomatas antecipam três possíveis desfechos para a crise política em Honduras, um país com dois líderes, um dos quais detém o controle das instituições, enquanto o outro está desprovido de poder mas conta com o reconhecimento da comunidade internacional.
O resultado dependerá da capacidade de Manuel Zelaya, que se refugiou na embaixada brasileira em Tegucigalpa, de obter nas ruas apoio que baste para tornar o país ingovernável e, assim, deflagrar uma maior intervenção internacional que o reconduziria ao poder, a fim de impedir maiores violências.
"No final, tudo vai depender do número de peões que cada um dos presidentes poderá mobilizar", disse um bem informado embaixador latino-americano. "Caso haja grandes tumultos e mortes, aumenta a probabilidade de que os EUA e os países latino-americanos reforcem a pressão pelo retorno de Zelaya ao posto", acrescentou. Eis os cenários mais prováveis para Honduras:

Cenário 1
Caos seguido por intervenção da ONU. Os partidários de Zelaya saem às ruas, provocando ainda mais repressão por parte do governo de Roberto Micheletti. O número de mortos e feridos é considerável. O presidente venezuelano Hugo Chávez alega que existe um "genocídio" apoiado pelos EUA contra o povo hondurenho.
O governo de Micheletti decide forçar a saída de Zelaya da embaixada a fim de detê-lo, invocando uma decisão da Suprema Corte que determinou sua prisão antes que ele fosse deposto, em 28 de junho, com base em suposta violação de normas constitucionais que o proibiriam de procurar reeleição. Além de cortar a água e a eletricidade da embaixada brasileira, o governo de Micheletti forçaria a saída de Zelaya bombardeando o edifício com heavy metal em alto volume, da mesma maneira que os EUA fizeram, com êxito, para forçar o antigo ditador panamenho Manuel Noriega a abandonar seu refúgio na Embaixada do Vaticano no Panamá, em 1990. O Brasil apela ao Conselho de Segurança da ONU por intervenção na crise hondurenha.
Ao contrário da Organização dos Estados Americanos (OEA), a ONU pode enviar forças de paz a um país, caso seu Conselho de Segurança considere que existe risco de violência. Mais ou menos como no Haiti, em 1994, quando o Conselho de Segurança autorizou que uma força multinacional reconduzisse ao poder o presidente deposto, Jean-Bertrand Aristide. Forças de paz da ONU entrariam em Honduras para reconduzir Zelaya ao poder e supervisionar eleições.

Cenário 2
Um caos de curta duração, seguido por eleições. Zelaya fica na embaixada brasileira, e, a despeito de incidentes dispersos de violência, o governo Micheletti consegue restaurar a ordem. Depois de alguns dias de comoção, a crise em Honduras desaparece das manchetes.
Washington e os países latino-americanos começam a ponderar se aceitam os resultados da eleição convocada para 29 de novembro pelo governo de Micheletti. Diversos países passam a enfatizar que a maioria das atuais democracias latino-americanas nasceu de eleições convocadas por ditaduras. Além disso, argumentarão que o golpe hondurenho não foi um golpe militar tradicional porque os responsáveis pela ação jamais pretenderam permanecer no poder.
"A ideia desse novo tipo de golpe, um "golpe corretivo" que não pretende manter o poder por muitos anos, mas sim bloquear uma ação presidencial [ilegal], poderia ganhar terreno", diz Dante Caputo, assessor especial de José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA.

Cenário 3
Um governo de unidade nacional. Sob crescente pressão internacional, Micheletti e Zelaya começam a negociar um governo de coalizão com alguma espécie de representação para Zelaya no poder, o que ofereceria a todos uma saída sem vexames. O novo governo de unidade nacional, baseado em uma proposta do presidente Óscar Arias, da Costa Rica, supervisionaria a eleição.
Minha opinião: como eterno otimista, creio que veremos algo próximo ao terceiro cenário. Talvez pressionado pela ameaça de uma intervenção da ONU, o governo Micheletti provavelmente aceitará um diálogo dirigido a garantir reconhecimento internacional para o resultado da eleição de novembro.
Caso isso não aconteça, o vencedor da eleição de novembro pode convocar um novo pleito, sob fiscalização internacional, para resolver a crise. De qualquer forma, como muitas vezes acontece, é provável que a crise logo perca espaço nas manchetes. Nem Zelaya nem Micheletti podem ser considerados estadistas ponderados ou líderes carismáticos. Seria surpresa para mim que alguém recorde seus nomes no futuro e muito mais que sua falta seja sentida.

ANDRES OPPENHEIMER é colunista do "Miami Herald". Este artigo foi distribuído pela Tribune Media Services.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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