São Paulo, sexta-feira, 25 de setembro de 2009

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Golpistas convidam Carter para mediar crise

Ex-presidente americano recusa o convite e expressa o seu apoio aos esforços de negociação promovidos pela OEA

FMI decide que só reconhece governo Zelaya, o que significa suspensão de repasse de US$ 164 mi ao qual Honduras teria direito


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O líder do regime golpista de Honduras, Roberto Micheletti, convidou o ex-presidente americano Jimmy Carter (1977-1981) para mediar o conflito entre ele e Manuel Zelaya, o presidente deposto hondurenho, atualmente vivendo como hóspede na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.
A informação foi dada pela porta-voz de Carter, Deanna Congileo, que disse que o ex-presidente não aceitou o convite e expressou apoio ao mediador apontado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), o presidente da Costa Rica, Óscar Arias. O democrata está à frente do Centro Carter, em Atlanta, que atua como observador em eleições e medeia crises internacionais.
O convite de Micheletti a Carter teria sido feito depois de o ex-presidente telefonar para os golpistas e se oferecer para ajudar. Ganhador do Prêmio Nobel da Paz como Arias, Carter disse que viajaria a Honduras com o costa-riquenho e o grupo de chanceleres que a OEA planeja enviar para ajudar nas negociações.
"O presidente Carter está em contato com o governo hondurenho [referindo-se ao regime golpista] para expressar sua preocupação com a atual situação", disse Deanna Congileo. "Ele não está se oferecendo como mediador, mas apoiando a mediação do presidente Óscar Arias e da missão da OEA."
Depois de a notícia vir a público, a Secretaria das Relações Exteriores do regime golpista soltou nota em que diz que escreveu à Secretaria-Geral da OEA para comunicar "a continuação do diálogo sobre a situação em Honduras".
No mesmo texto, afirma ter aceitado tanto "a proposta do presidente Jimmy Carter", sem especificar qual seja, como a missão integrada por Arias e o vice-presidente do Panamá, Juan Carlos Varela.
Se ocorrer, não será a primeira incursão do ex-presidente democrata em crises latino-americanas recentes. Em junho de 2008, Carter mediou tentativa de acordo entre Colômbia e Equador, com relações diplomáticas rompidas após ataque colombiano a acampamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no Equador.
Embora os dois governos tenham soltado nota na época em que confirmavam a disposição de retomar as relações, o fato é que isso ainda não aconteceu.
Seja como for, o Departamento de Estado diz ver com bons olhos a tentativa de mediação entre as partes. "Estamos concentrados no grupo de ministros das Relações Exteriores da OEA", disse Ian Kelly. "Esperamos que o presidente Arias continue envolvido."
A Chancelaria americana definiu a situação naquele país como "calma, porém tensa" e se disse satisfeita com relatos de que o fornecimento de água e eletricidade tinha sido restabelecido na Embaixada do Brasil.
FMI
Ontem ainda, o Fundo Monetário Internacional (FMI) soltou comunicado em que reconhece o de Zelaya como o governo de Honduras. "Nas últimas semanas, o Fundo consultou seus membros via diretores-executivos", diz o comunicado. "Baseado nessa consulta, a gerência do FMI determinou que vai reconhecer o governo do presidente Zelaya como o governo de Honduras."
O Fundo faz isso quase três meses após o golpe de Estado. A decisão significa a suspensão de um repasse de US$ 164 milhões ao qual Honduras teria direito.


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