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Para analistas, Moscou terá de mostrar moderação
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Embora normalmente não demonstrem muita moderação no
tratamento que reservam aos rebeldes tchetchenos, desta vez, as
autoridades russas deverão ser
mais prudentes em seus esforços
para resolver a crise provocada
pela tomada de centenas de reféns
num teatro de Moscou, segundo
analistas ouvidos pela Folha.
"O teatro se situa num bairro de
classe média de Moscou, no qual
vivem muitas famílias, não num
ponto obscuro do sudoeste da
Rússia, onde ocorreu a trágica invasão de um hospital em 1995 [na
qual mais de 120 pessoas morreram após combates entre forças
russas e guerrilheiros tchetchenos]", disse Andrew Bennett, professor de política russa na Universidade de Georgetown (EUA).
"Seria muito impopular provocar a morte de dezenas -talvez
centenas- de pessoas numa ação
armada, em Moscou, para pôr fim
ao impasse. Por enquanto, creio
que o governo russo deva ser comedido, não ordenando um ataque que causaria muitas baixas."
Mas, como salientou Mark Kramer, da Universidade Harvard
(EUA), se os rebeldes começarem
a matar os reféns, a reação russa
poderá ser violenta, pois isso seria
"legítimo ante as circunstâncias".
"Trata-se de uma guerra sangrenta. Há quase uma década,
ambos os lados têm-se mostrado
brutais. Como o teatro invadido é
em Moscou, os russos terão de
moderar suas ações. Todavia, se
os tchetchenos começarem a matar os reféns, as autoridades russas poderão ver-se forçadas a agir.
E receio que essa ação possa ser
muito dura", afirmou Kramer.
Contudo nem todas as perspectivas são tão sombrias. Para Bennett, o presidente Vladimir Putin
poderá "seguir o exemplo do ex-premiê Viktor Tchernomirdin".
Este utilizou a invasão do hospital
de Budennovsk, as mortes por ela
causadas e outros ataques terroristas cometidos pelos tchetchenos para negociar o fim da guerra.
O primeiro conflito na Tchetchênia ocorreu de 1994 a 1996.
"Parte da opinião pública russa
que apoiava a ação na Tchetchênia em 1999 [ano do início da segunda guerra na república secessionista] está cansada de um conflito infindável, no qual as chances
de vitória são ínfimas. Assim, talvez Putin decida negociar com os
tchetchenos moderados, buscando esvaziar os argumentos dos
terroristas. Ele já admitiu que
nem todos os tchetchenos são terroristas, o que, nesse caso, é um
enorme avanço", avaliou Bennett.
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