São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Hotéis eram usados por jornalistas estrangeiros e empresários; Constituição iraquiana corre risco de veto

Ataque a hotéis mata ao menos 20 em Bagdá

DA REDAÇÃO

Ao menos 20 pessoas -das quais ao menos seis civis, de acordo com militares americanos- morreram no fim da tarde de ontem em um atentado com veículos-bomba perto de dois hotéis em Bagdá usados por jornalistas estrangeiros. Até o fechamento desta edição, a identidade das vítimas não havia sido divulgada.
O assessor de Segurança Nacional do Iraque, Mouwafak al Rubaei, definiu o ataque como uma tentativa "muito clara" de tomar o hotel e fazer os jornalistas reféns. Um dos hotéis, o Palestine, sofreu danos, mas não teve sua estrutura seriamente afetada.
"Três carros vieram por três ruas diferentes, em uma sucessão que visava abrir brechas de segurança para os terroristas. Eles [os terroristas] estavam armados com granadas-foguetes e armas leves", disse Rubaei. "Para nós, o plano ficou claro: tomar o controle dos dois hotéis, fazer dos jornalistas estrangeiros e árabes reféns e usá-los de moeda de troca."
Para a organização Repórteres sem Fronteiras, "o atentado prova que os jornalistas se tornaram um alvo no Iraque".
Um dos veículos usados no ataque foi uma betoneira. Imagens feitas pela Associated Press mostram o motorista primeiro dando ré e avançando algumas vezes, depois dirigindo de encontro aos muros do Hotel Palestine, antes de explodir ao lado de um veículo militar dos EUA vazio.
Um representante do governo americano em Washington afirmou que nenhuma das vítimas que morreram estava nos hotéis no momento do ataque. Sete pessoas no Palestine foram feridas.
Segundo Al Rubaei, pelo menos 40 pessoas foram feridas, sobretudo transeuntes. O vice-ministro do Interior, Hussein Kamal, disse que ao menos quatro policiais iraquianos estão entre os mortos.
Além da betoneira-bomba, outros dois carros explodiram momentos antes, quase simultaneamente, aparentemente numa tentativa de desviar as atenções -um deles atrás da 14ª mesquita Ramadã, no lado oposto da mesma praça, e outro diante de um posto policial nas imediações.
A última vez que o Palestine foi atacado foi em outubro de 2004. Antes, durante a guerra, o hotel havia sido atingido por um tiro disparado por um tanque americano. Dois cinegrafistas, um ucraniano e um espanhol, morreram.

Americano morto
Os EUA anunciaram a morte de mais um marine no último domingo em Ramadi, a oeste de Bagdá. Com isso, estão a três baixas da marca psicológica de 2.000 militares mortos desde a invasão do Iraque, em março de 2003, segundo contagem da Associated Press. Já o Pentágono contava até a última sexta 1.983 mortos.
Também ontem, no sul do país, 12 pedreiros iraquianos foram mortos em Mussayyib.

Constituição em risco
A Comissão Eleitoral Iraquiana anunciou que mais de dois terços dos eleitores em duas das 18 governadorias (Províncias) do país rejeitaram a Constituição. Caso o resultado se repita em mais uma Província, a Carta será vetada.
Em Anbar e Saladim, majoritariamente sunitas, o "não" ganhou com larga vantagem. Em Nineve, a outra Província onde os seguidores dessa corrente islâmica são maioria clara, os resultados ainda não foram totalmente apurados.
Minoritários no Iraque e privilegiados pelo regime de Saddam Hussein (1979-2003), os sunitas se opuseram à Carta por se sentirem marginalizados em sua redação.
Eles citam três problemas: o federalismo (que aumenta a autonomia das regiões e, temem, tira-lhes o acesso ao petróleo, produzido em áreas curdas e xiitas), o papel do islã no Estado e a proibição de que membros do extinto partido Baath tenham cargos no governo. Grande parte dos sunitas pertenceu ao partido.


Com agências internacionais

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