São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2005

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Símbolo da invasão, hotel era a nossa casa

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Assim como Bagdá não pode ser vista como uma cidade normal -a capital iraquiana está sitiada, invadida, insurgida e sendo destruída e construída a cada dia-, o Palestine não é só um hotel.
Tornou-se um símbolo.
Primeiro, para os jornalistas. Quando George W. Bush deu o ultimato para a família Hussein deixar o governo ou "encarar as conseqüências", em março de 2003, havia 2.000 repórteres em Bagdá.
O primeiro míssil atingiu o primeiro palácio de Saddam horas depois; menos de 200 profissionais haviam ficado na cidade (do Brasil, este repórter e o fotógrafo Juca Varella eram os únicos).
Os que ficamos fomos "seqüestrados" e semiconfinados ao Palestine, entre o bíblico Tigre e a simbólica praça Firdos (paraíso, em árabe). Virou nosso lar, porto seguro mas cada vez mais deteriorado na volta noturna das escapadas diárias.
Então, o primeiro golpe. Em 8 de abril de 2003, um obus de um tanque norte-americano atingiu o quarto 1504, quatro pisos acima do nosso, 1104, matando dois jornalistas e ferindo outros. O Palestine virara alvo.
No dia seguinte, foi tomado pelos soldados invasores, que fizeram do edifício a primeira sede do comando militar da coalizão. Virou o símbolo da invasão.
Hoje, os norte-americanos fingem que controlam o país a partir da Zona Verde. E já não há mais Hotel Palestine.


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