São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2005

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AMÉRICA DO SUL

Vitória nas eleições legislativas mostra que presidente dá forma própria à maior força política argentina

Êxito de Kirchner consolida novo peronismo

MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES

Uma nova etapa do peronismo, a maior força política da Argentina, se estabelece no país a partir do triunfo obtido pelo presidente Néstor Kirchner, de centro-esquerda, nas eleições legislativas do último domingo. É a primeira vez que uma nova linha peronista se consolida desde o governo de centro-direita do ex-presidente Carlos Menem (1989-99).
A frente liderada pelo presidente conseguiu obter 40% dos votos -ou 50% se contados os candidatos de outros partidos que se aliaram a Kirchner-, com destaque para a vitória na Província de Buenos Aires, classificada de "a mãe de todas as batalhas" por sua importância política.
Foi onde a primeira-dama Cristina Kirchner ganhou como senadora com 46% dos votos, mais de 25 pontos acima dos 19,7% de "Chiche" Duhalde, mulher do ex-presidente Eduardo Duhalde, com quem Kirchner travou uma verdadeira batalha por poder dentro do peronista Partido Justicialista nos últimos meses.
Kirchner ganhou a briga e se fortalece ainda mais para as eleições presidenciais de 2007. Já Duhalde não morreu politicamente, mas não tem força nacional. Fica restrito ao que lhe restou de poder na Província de Buenos Aires, seu reduto eleitoral.
"Estou muito satisfeito", limitou-se a dizer Kirchner na noite de domingo, deixando os louros da vitória a Cristina, que cresceu como figura política no país e já é cotada como candidata a presidente em 2007 ou 2011.
Kirchner se consolida como líder de uma linha própria dentro do peronismo, de centro-esquerda e mais heterodoxa economicamente, em contraposição ao período de Menem. "É uma nova etapa depois do peronismo de Menem. O duhaldismo nunca chegou a se estabelecer como uma linha própria dentro do peronismo", diz Julio Burdman, do Centro de Estudos União para a Nova Maioria.
Apesar de ganhar mais poder político, o presidente vai ter que negociar com outras forças políticas para manejar o Congresso, já que está rompido com Duhalde. Com duhaldistas ao seu lado durante os primeiros anos de sua gestão -a bancada do PJ na Câmara de Deputados somava 129 deputados, o número exato para garantir a maioria-, o governo conseguiu aprovar seus projetos, mas o cenário hoje é outro.
A notícia boa para Kirchner é que a oposição não peronista está mais fragmentada do que nunca.
Kirchner amargou algumas derrotas nessas eleições. Além de perder nas Províncias de Santa Fé e Mendoza, o chanceler Rafael Bielsa, candidato a deputado pela capital federal, ficou em terceiro lugar, com 20,8% dos votos.
O grande vitorioso em Buenos Aires foi o presidente do time de futebol Boca Juniors, Mauricio Macri, da aliança PRO, que conseguiu 33,9% dos votos. Elisa Carrió, do ARI, ficou em segundo com 21,8%. Esse resultado diminui as chances de Carrió na disputa presidencial de 2007 e, ao mesmo tempo, pode consolidar Macri como liderança opositora de centro-direita ao governo.
Kirchner começa a pensar também nas mudanças em seu gabinete com a saída de membros do governo que se elegeram, como Bielsa.
Depois do pleito a União Cívica Radical (UCR) continuou como a segunda força política no Congresso, mas as derrotas que sofreu em algumas Províncias aprofundaram a queda do partido, o mais antigo da Argentina.


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