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AMÉRICA DO SUL
Vitória nas eleições legislativas mostra que presidente dá forma própria à maior força política argentina
Êxito de Kirchner consolida novo peronismo
MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES
Uma nova etapa do peronismo,
a maior força política da Argentina, se estabelece no país a partir
do triunfo obtido pelo presidente
Néstor Kirchner, de centro-esquerda, nas eleições legislativas
do último domingo. É a primeira
vez que uma nova linha peronista
se consolida desde o governo de
centro-direita do ex-presidente
Carlos Menem (1989-99).
A frente liderada pelo presidente conseguiu obter 40% dos votos
-ou 50% se contados os candidatos de outros partidos que se
aliaram a Kirchner-, com destaque para a vitória na Província de
Buenos Aires, classificada de "a
mãe de todas as batalhas" por sua
importância política.
Foi onde a primeira-dama Cristina Kirchner ganhou como senadora com 46% dos votos, mais de
25 pontos acima dos 19,7% de
"Chiche" Duhalde, mulher do ex-presidente Eduardo Duhalde,
com quem Kirchner travou uma
verdadeira batalha por poder
dentro do peronista Partido Justicialista nos últimos meses.
Kirchner ganhou a briga e se
fortalece ainda mais para as eleições presidenciais de 2007. Já Duhalde não morreu politicamente,
mas não tem força nacional. Fica
restrito ao que lhe restou de poder
na Província de Buenos Aires, seu
reduto eleitoral.
"Estou muito satisfeito", limitou-se a dizer Kirchner na noite
de domingo, deixando os louros
da vitória a Cristina, que cresceu
como figura política no país e já é
cotada como candidata a presidente em 2007 ou 2011.
Kirchner se consolida como líder de uma linha própria dentro
do peronismo, de centro-esquerda e mais heterodoxa economicamente, em contraposição ao período de Menem. "É uma nova
etapa depois do peronismo de
Menem. O duhaldismo nunca
chegou a se estabelecer como
uma linha própria dentro do peronismo", diz Julio Burdman, do
Centro de Estudos União para a
Nova Maioria.
Apesar de ganhar mais poder
político, o presidente vai ter que
negociar com outras forças políticas para manejar o Congresso, já
que está rompido com Duhalde.
Com duhaldistas ao seu lado durante os primeiros anos de sua
gestão -a bancada do PJ na Câmara de Deputados somava 129
deputados, o número exato para
garantir a maioria-, o governo
conseguiu aprovar seus projetos,
mas o cenário hoje é outro.
A notícia boa para Kirchner é
que a oposição não peronista está
mais fragmentada do que nunca.
Kirchner amargou algumas
derrotas nessas eleições. Além de
perder nas Províncias de Santa Fé
e Mendoza, o chanceler Rafael
Bielsa, candidato a deputado pela
capital federal, ficou em terceiro
lugar, com 20,8% dos votos.
O grande vitorioso em Buenos
Aires foi o presidente do time de
futebol Boca Juniors, Mauricio
Macri, da aliança PRO, que conseguiu 33,9% dos votos. Elisa Carrió, do ARI, ficou em segundo
com 21,8%. Esse resultado diminui as chances de Carrió na disputa presidencial de 2007 e, ao mesmo tempo, pode consolidar Macri
como liderança opositora de centro-direita ao governo.
Kirchner começa a pensar também nas mudanças em seu gabinete com a saída de membros do
governo que se elegeram, como
Bielsa.
Depois do pleito a União Cívica
Radical (UCR) continuou como a
segunda força política no Congresso, mas as derrotas que sofreu
em algumas Províncias aprofundaram a queda do partido, o mais
antigo da Argentina.
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