São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

País muda estrutura e pessoal que lida com mídia em Bagdá para vender imagem mais positiva aos americanos

EUA tentam melhorar imagem do pós-guerra

LUKE BAKER
DA REUTERS, EM BAGDÁ

Ao mesmo tempo em que as forças americanas combatem a crescente insurgência no Iraque, elas travam uma grande ofensiva na mídia para tentar mostrar a contestada ocupação sob uma ótica mais positiva. A blitz ocorre em meio a sinais de que tanto as tropas quanto a administração civil lideradas pelos EUA estão perdendo a batalha pelos corações e mentes iraquianos.
Na semana passada, os militares anunciaram o nome de um novo porta-voz das forças americanas no Iraque, o general Mark Kimmitt, mais experiente no trato da mídia que seus antecessores.
Antes do anúncio, o pódio das entrevistas coletivas foi modificado, com a instalação de dois monitores grandes de tela plana para mostrar apresentações em Powerpoint das operações militares, recurso com o qual os militares querem divulgar seus êxitos.
Um grande selo azul representando a Autoridade Provisória da Coalizão liderada pelos EUA ganhou destaque atrás do pódio, com os dizeres "Justiça, Liberdade, Direitos, Segurança".
"Há um clima claro de Casa Branca em tudo isso", disse um veterano correspondente de um jornal de Washington.
Outros chamam a atenção para as semelhanças com o esquema militar montado em Qatar durante a guerra, quando o general Vincent Brooks, experiente no contato com a mídia, apresentava a versão diária do Comando Central.
A campanha de mídia parece ser em parte uma tentativa de convencer o público dos EUA e a cética imprensa americana de que a ocupação está conquistando resultados, apesar das evidências da existência de um movimento guerrilheiro cada vez mais sofisticado e bem coordenado.
Como que para chegar mais diretamente à mídia nos EUA, passando ao largo dos correspondentes em Bagdá, potencialmente mais céticos, uma entrevista coletiva concedida à imprensa na semana passada foi transmitida por satélite diretamente à imprensa reunida no Pentágono.
Dan Senor, o principal porta-voz da coalizão, em várias ocasiões já expressou sua frustração pelo fato de não estarem sendo divulgadas as conquistas obtidas na reconstrução do Iraque. "Cerca de 14 mil projetos foram concluídos desde o fim dos combates principais [1º de maio". São cem projetos por dia. No entanto, isso nem sequer é mencionado."
A frustração se estende ao secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, visto como o principal arquiteto da guerra que derrubou Saddam Hussein e que vem afirmando que a mídia árabe tem viés contrário aos EUA.
Num briefing no Pentágono na semana passada, Rumsfeld disse esperar que a nova programação de TV por satélite que as autoridades americanas estão criando no Iraque ajude a contrabalançar o que qualificou como a hostilidade evidente dos principais canais árabes de jornalismo por satélite. "Como vocês sabem, a Al Arabiya e a Al Jazira são violentamente contrárias à coalizão, e a Al Jazira era evidentemente pró-Saddam."
A previsão é que a nova programação entre no ar em dezembro. Mas deve enfrentar forte oposição. Na semana passada, o xiita Conselho Supremo da Revolução Islâmica no Iraque chamou de "devassa" a programação que já é transmitida pela rede Iraqi Media, apoiada pelos EUA.


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