São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2006

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Oposição aumenta pressão na Bolívia

Dirigentes de Santa Cruz, o departamento mais rico do país, convocam greve de fome contra medidas do governo Morales

Evo Morales diz que ação é de "pequenos grupos"; presidente defende ainda que nova Constituição torne Congresso unicameral

DA REDAÇÃO

Líderes políticos do departamento de Santa Cruz, o mais rico da Bolívia e reduto da oposição ao presidente Evo Morales, convocaram uma greve de fome e ações de "resistência civil" contra o governo. A convocação é em protesto contra o sistema de votação por maioria simples na Assembléia Constituinte, aprovado pelos governistas na semana passada.
"Já estamos cansados de tantas ofensas. Não somos caciques, não somos oligarcas, não defendemos os latifundiários, não somos frouxos, não somos culpados pelo ódio ancestral que professam por 500 anos. Se querem continuar mastigando frustrações, vão em frente", disse Germán Antelo, o presidente do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, que reúne empresários da região, ao anunciar a greve de fome.
O atual governador de Santa Cruz, Rubén Costas, foi presidente do Comitê Cívico.
Em reação, Morales respondeu que não cederá às pressões e não voltará atrás nas mudanças que seu governo defende.
A convocação se soma à greve de fome iniciada há nove dias em Sucre, sede da Constituinte, pela bancada do partido centrista União Nacional, liderada pelo empresário constituinte Samuel Doria Medina.
Caso o sistema de maioria simples seja mantido, os governadores dos departamentos de Santa Cruz e de Beni disseram ainda que convocarão um referendo em sua jurisdição para decidir se aceitam ou não a nova Carta. A oposição defende que a votação ocorra por maioria de dois terços, conforme fixa a Lei de Convocatória da Constituinte, aprovada em abril pelo Congresso. O problema para Morales é que seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo), controla apenas 52,5% da Assembléia.
Na segunda-feira, dirigentes dos departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija devem se encontrar para discutir que ações tomar em conjunto.
Além do sistema de votação na Assembléia, outros dois pontos têm gerado atrito entre a oposição e Morales. Um deles é a proposta governista que dá ao Congresso o poder de fiscalizar e até cassar os governadores dos departamentos.
O argumento é que, com o aumento da arrecadação, devido aos novos contratos com petrolíferas, o dinheiro dos Estados precisará ser mais bem fiscalizado. Seis dos nove governadores romperam com o governo Morales no último fim de semana. Nesses seis departamentos, vivem 80% dos 9 milhões de bolivianos.
O outro ponto de atrito é a lei de reforma agrária, que aumenta os poderes do Executivo para determinar se uma terra é produtiva ou não.

"Pequenos"
Em entrevista coletiva ontem, Morales afirmou que esses protestos são articulados por "pequenos grupos" que defendem o latifúndio, "o que é inconstitucional".
"Como podemos negociar o latifúndio? Como podemos negociar a não fiscalização [dos governadores]? Essas coisas não são negociáveis, não se negocia a corrupção", disse.
Morales defendeu ainda que a Constituinte aprove projeto que dissolva o Senado, tornando o Congresso boliviano unicameral. Na semana passada, o Podemos, principal partido de oposição, retirou sua bancada de 13 senadores, em protesto contra o governo.
"Aqueles que não defendem os pobres ou a maioria estão geralmente no Senado. Por que precisamos de um Senado, onde ainda há uma maioria neoliberal que o boicota? Esse é o melhor argumento de que a nova Bolívia que buscamos deve ser unicameral", afirmou Morales na entrevista. "Essas ações das minorias que fecham o Senado, isso sim é inconstitucional, isso sim é autoritarismo, isso sim é uma ditadura", acrescentou.
Ontem, o Podemos condicionou a retomada dos trabalhos no Senado a que o MAS volte atrás na questão da maioria simples.


Com agências internacionais


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