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Oposição aumenta pressão na Bolívia
Dirigentes de Santa Cruz, o departamento mais rico do país, convocam greve de fome contra medidas do governo Morales
Evo Morales diz que ação é de "pequenos grupos"; presidente defende ainda que nova Constituição torne Congresso unicameral
DA REDAÇÃO
Líderes políticos do departamento de Santa Cruz, o mais rico da Bolívia e reduto da oposição ao presidente Evo Morales,
convocaram uma greve de fome e ações de "resistência civil"
contra o governo. A convocação
é em protesto contra o sistema
de votação por maioria simples
na Assembléia Constituinte,
aprovado pelos governistas na
semana passada.
"Já estamos cansados de tantas ofensas. Não somos caciques, não somos oligarcas, não
defendemos os latifundiários,
não somos frouxos, não somos
culpados pelo ódio ancestral
que professam por 500 anos. Se
querem continuar mastigando
frustrações, vão em frente",
disse Germán Antelo, o presidente do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, que reúne empresários da região, ao anunciar a
greve de fome.
O atual governador de Santa
Cruz, Rubén Costas, foi presidente do Comitê Cívico.
Em reação, Morales respondeu que não cederá às pressões
e não voltará atrás nas mudanças que seu governo defende.
A convocação se soma à greve
de fome iniciada há nove dias
em Sucre, sede da Constituinte,
pela bancada do partido centrista União Nacional, liderada
pelo empresário constituinte
Samuel Doria Medina.
Caso o sistema de maioria
simples seja mantido, os governadores dos departamentos de
Santa Cruz e de Beni disseram
ainda que convocarão um referendo em sua jurisdição para
decidir se aceitam ou não a nova Carta. A oposição defende
que a votação ocorra por maioria de dois terços, conforme fixa a Lei de Convocatória da
Constituinte, aprovada em
abril pelo Congresso. O problema para Morales é que seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo), controla apenas
52,5% da Assembléia.
Na segunda-feira, dirigentes
dos departamentos de Santa
Cruz, Beni, Pando e Tarija devem se encontrar para discutir
que ações tomar em conjunto.
Além do sistema de votação
na Assembléia, outros dois
pontos têm gerado atrito entre
a oposição e Morales. Um deles
é a proposta governista que dá
ao Congresso o poder de fiscalizar e até cassar os governadores
dos departamentos.
O argumento é que, com o
aumento da arrecadação, devido aos novos contratos com petrolíferas, o dinheiro dos Estados precisará ser mais bem fiscalizado. Seis dos nove governadores romperam com o governo Morales no último fim de
semana. Nesses seis departamentos, vivem 80% dos 9 milhões de bolivianos.
O outro ponto de atrito é a lei
de reforma agrária, que aumenta os poderes do Executivo para
determinar se uma terra é produtiva ou não.
"Pequenos"
Em entrevista coletiva ontem, Morales afirmou que esses
protestos são articulados por
"pequenos grupos" que defendem o latifúndio, "o que é inconstitucional".
"Como podemos negociar o
latifúndio? Como podemos negociar a não fiscalização [dos
governadores]? Essas coisas
não são negociáveis, não se negocia a corrupção", disse.
Morales defendeu ainda que
a Constituinte aprove projeto
que dissolva o Senado, tornando o Congresso boliviano unicameral. Na semana passada, o
Podemos, principal partido de
oposição, retirou sua bancada
de 13 senadores, em protesto
contra o governo.
"Aqueles que não defendem
os pobres ou a maioria estão geralmente no Senado. Por que
precisamos de um Senado, onde ainda há uma maioria neoliberal que o boicota? Esse é o
melhor argumento de que a nova Bolívia que buscamos deve
ser unicameral", afirmou Morales na entrevista. "Essas
ações das minorias que fecham
o Senado, isso sim é inconstitucional, isso sim é autoritarismo,
isso sim é uma ditadura", acrescentou.
Ontem, o Podemos condicionou a retomada dos trabalhos
no Senado a que o MAS volte
atrás na questão da maioria
simples.
Com agências internacionais
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