Partido Trabalhista, liderado por Kevin Rudd, obtém 53% dos votos e encerra 11 anos de governo liberal de Howard

Ex-diplomata quer ratificar Protocolo de Kyoto, retirar forças do Iraque e aproximar o país da China; premiê conservador aceita derrota

DA REDAÇÃO

O Partido Trabalhista australiano, liderado pelo diplomata de carreira Kevin Rudd, venceu as eleições ocorridas ontem no país, pondo fim a 11 anos de governo conservador. O premiê John Howard, do Partido Liberal, admitiu a derrota.
Apurados mais de 75% dos votos até o fechamento desta edição, os trabalhistas venciam com 53%, seguidos pela coalizão liderada pelos liberais (46,5%). Os dados são da Comissão Eleitoral Australiana.
"Hoje a Austrália olhou para o futuro", afirmou Rudd, 50, em cadeia de TV. "O povo australiano decidiu que somos uma nação que se move para a frente [...], para, juntos, escrevermos uma nova página na história deste país", disse.
"Serei um premiê para todos os australianos", concluiu.
Durante a campanha, Rudd se apresentou como líder de uma nova geração. Prometeu retirar do Iraque as forças do país e assinar o Protocolo de Kyoto para a redução de emissão de gases do efeito estufa.
Sob Howard, a Austrália se tornou um dos dois únicos países do mundo a não ratificar o protocolo, ao lado dos EUA. Assim, em ambas as questões, Rudd buscou se contrapor ao governo de George W. Bush, de quem Howard era aliado.
Bush cumprimentou o trabalhista: "EUA e Austrália têm sido parceiros e aliados fortes há muito tempo, e o presidente espera ansiosamente para trabalhar com o novo governo e continuar a parceria histórica", diz comunicado da Casa Branca.
Rudd, que fala mandarim, também deve estreitar os laços com a China e outras nações asiáticas. Ele já havia declarado desejar que a Austrália tenha uma voz mais independente em política externa, mas preservando a aliança com os EUA.
O futuro premiê afirmou ontem desejar "uma certa unidade entre o público e o privado, o sindical e o empresarial, e começar a construir um novo sistema educativo e atuar sobre as mudanças climáticas imediatamente". Ele também pediu a colaboração de Howard: "Há grandes diferenças entre nós, mas compartilhamos o orgulho comum por esta grande nação".
A campanha também foi marcada por questões internas, como a renegociação da Lei Trabalhista. Mas Rudd se comprometeu a continuar a gestão conservadora na economia.

Derrota humilhante
A derrota foi considerada humilhante para Howard, que tinha a seu favor uma economia sólida, em que o desemprego é baixo, a moeda se valorizou e o PIB chega a dois terços do brasileiro (para uma população de quase um décimo).
Uma das mais importantes figuras políticas do país por cerca de 30 anos, ele admitiu ontem que pode perder até em Bennelong, sua base eleitoral.
"Assumo total responsabilidade pela campanha do Partido Liberal, em vista disso, e pela derrota da coalizão", declarou.