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Agricultores de Gaza sofrem com bloqueio
Morangos e flores cultivados para o mercado europeu ameaçam apodrecer; Israel atrasou exportação
DO "INDEPENDENT", EM BEIT LAHIYA
Quase toda a história turbulenta da faixa de Gaza tem alguma relação com a plantação de
morangos de Jamil Abu Hmaideh em Beit Lahiya, no extremo norte do território.
Lá no alto, dois helicópteros
Apache israelenses sobrevoam
a área à procura de equipes de
lançamento de foguetes Qassam. Ao final dos canteiros organizados da plantação, ficam
as altas barreiras de areia do
outro lado da fronteira de Beit
Lahiya com Israel -das quais
desceram as máquinas de terraplanagem militares na última
vez em que destruíram um dos
campos de Hmaideh, no final
de agosto.
Na parede de sua casinha de
dois cômodos no meio da plantação há uma "foto de mártir"
de seu filho de 21 anos, Nael,
morto em maio, vítima não
combatente dos confrontos
selvagens entre o grupo islâmico Hamas e o secular Fatah.
Mas o que está preocupando
Hmaideh agora, quando ele
olha para sua plantação de morangos que ocupa pouco mais
de um hectare, é outra tragédia
da faixa de Gaza, conseqüência
do bloqueio econômico e comercial imposto ao território
por Israel, que fechou o posto
principal de travessia de cargas
em Karni.
O fechamento ocorreu depois que o Hamas assumiu o
controle de Gaza, em junho, e o
governo israelense declarou a
área "território inimigo".
Toda a plantação de Hmaideh de morangos de alta qualidade, cultivados com pouco inseticida, estava prevista para
ser exportada há duas semanas,
boa parte dela para o varejo europeu de alto padrão. Normalmente, a safra lhe garantiria os
entre seis e oito dólares por
quilo de que ele precisa para cobrir seus custos, o que dirá auferir um lucro modesto.
Se não conseguir exportar,
Hmaideh não poderá importar
as lonas plásticas adicionais de
que precisa para proteger as
frutas das chuvas ou das geadas
do inverno que virão em algumas semanas. Assim como ele,
as 8.000 famílias empregadas
na produção de morangos, tomates-cereja e cravos da faixa
de Gaza vão perder sua receita.
A exportação de frutas e flores de Gaza só foi autorizada
por Israel na última quinta-feira. Para que isso acontecesse, a
cooperativa de agricultores de
Beit Lahiya pediu ajuda aos
EUA, à ONU e a Tony Blair, que
foi indicado pelo Quarteto
(ONU, EUA, Rússia e União
Européia) para propor maneiras de reavivar a economia palestina.
A carta enviada pela cooperativa avisava que, se os agricultores palestinos perdessem seu
lugar no mercado europeu neste ano, provavelmente o perderiam definitivamente para a
Espanha e o Egito.
"Não sou Fatah, não sou Hamas", diz Hmaideh. "Sou agricultor. Construímos este mercado com nosso sangue, e, se eu
o perder, perderei minha vida.
Como vamos recuperar esses
mercados se os holandeses e
outros europeus deixarem de
receber nossos produtos?"
Hmaideh culpa o Fatah e o
Hamas pelos conflitos internos
sangrentos que terminaram
com a tomada militar da faixa
de Gaza pelo Hamas. Mas porque, como todos os moradores
de Gaza, ele tem consciência
dos problemas políticos maiores, ele também culpa o Quarteto, garantidor do acordo, mediado em novembro de 2005
por Condoleezza Rice, que deveria manter o posto de Karni
aberto para o comércio.
Mesmo antes de junho, o
acordo nem sempre era honrado. "Foram eles que garantiram
que manteriam o posto aberto", disse Hmaideh.
Com agências internacionais
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