São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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Agricultores de Gaza sofrem com bloqueio

Morangos e flores cultivados para o mercado europeu ameaçam apodrecer; Israel atrasou exportação

DO "INDEPENDENT", EM BEIT LAHIYA

Quase toda a história turbulenta da faixa de Gaza tem alguma relação com a plantação de morangos de Jamil Abu Hmaideh em Beit Lahiya, no extremo norte do território.
Lá no alto, dois helicópteros Apache israelenses sobrevoam a área à procura de equipes de lançamento de foguetes Qassam. Ao final dos canteiros organizados da plantação, ficam as altas barreiras de areia do outro lado da fronteira de Beit Lahiya com Israel -das quais desceram as máquinas de terraplanagem militares na última vez em que destruíram um dos campos de Hmaideh, no final de agosto.
Na parede de sua casinha de dois cômodos no meio da plantação há uma "foto de mártir" de seu filho de 21 anos, Nael, morto em maio, vítima não combatente dos confrontos selvagens entre o grupo islâmico Hamas e o secular Fatah.
Mas o que está preocupando Hmaideh agora, quando ele olha para sua plantação de morangos que ocupa pouco mais de um hectare, é outra tragédia da faixa de Gaza, conseqüência do bloqueio econômico e comercial imposto ao território por Israel, que fechou o posto principal de travessia de cargas em Karni.
O fechamento ocorreu depois que o Hamas assumiu o controle de Gaza, em junho, e o governo israelense declarou a área "território inimigo".
Toda a plantação de Hmaideh de morangos de alta qualidade, cultivados com pouco inseticida, estava prevista para ser exportada há duas semanas, boa parte dela para o varejo europeu de alto padrão. Normalmente, a safra lhe garantiria os entre seis e oito dólares por quilo de que ele precisa para cobrir seus custos, o que dirá auferir um lucro modesto.
Se não conseguir exportar, Hmaideh não poderá importar as lonas plásticas adicionais de que precisa para proteger as frutas das chuvas ou das geadas do inverno que virão em algumas semanas. Assim como ele, as 8.000 famílias empregadas na produção de morangos, tomates-cereja e cravos da faixa de Gaza vão perder sua receita.
A exportação de frutas e flores de Gaza só foi autorizada por Israel na última quinta-feira. Para que isso acontecesse, a cooperativa de agricultores de Beit Lahiya pediu ajuda aos EUA, à ONU e a Tony Blair, que foi indicado pelo Quarteto (ONU, EUA, Rússia e União Européia) para propor maneiras de reavivar a economia palestina.
A carta enviada pela cooperativa avisava que, se os agricultores palestinos perdessem seu lugar no mercado europeu neste ano, provavelmente o perderiam definitivamente para a Espanha e o Egito.
"Não sou Fatah, não sou Hamas", diz Hmaideh. "Sou agricultor. Construímos este mercado com nosso sangue, e, se eu o perder, perderei minha vida. Como vamos recuperar esses mercados se os holandeses e outros europeus deixarem de receber nossos produtos?"
Hmaideh culpa o Fatah e o Hamas pelos conflitos internos sangrentos que terminaram com a tomada militar da faixa de Gaza pelo Hamas. Mas porque, como todos os moradores de Gaza, ele tem consciência dos problemas políticos maiores, ele também culpa o Quarteto, garantidor do acordo, mediado em novembro de 2005 por Condoleezza Rice, que deveria manter o posto de Karni aberto para o comércio.
Mesmo antes de junho, o acordo nem sempre era honrado. "Foram eles que garantiram que manteriam o posto aberto", disse Hmaideh.


Com agências internacionais

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