|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
IGREJA
Danneels, forte candidato à sucessão de João Paulo 2º, também deseja que a Igreja Católica se concentre menos na figura do papa
Cardeal belga quer descentralizar Vaticano
DA REUTERS
Um dos mais importantes candidatos à sucessão do papa João
Paulo 2º quer que a Igreja Católica
reduza o poder de sua hierarquia
centralizada e se concentre menos
no pontífice que comanda a
maior das organizações religiosas
do mundo.
O cardeal belga Godfried Danneels disse que o carismático papa
polonês se tornou uma "figura
enorme" na igreja e uma personalidade na mídia mundial, enquanto os bispos de todo o mundo estão afogados em formalidades
impostas pelo trabalho burocrático do Vaticano.
Danneels, 70, arcebispo de Bruxelas, bem conhecido por suas
posições francas, deixou claro que
seus comentários tratavam da
tendência de centralização que
domina o Vaticano nas últimas
décadas, não de João Paulo 2º, 83,
que a supervisionou.
Moderados da igreja, como
Danneels, uma minoria centralizada especialmente no oeste da
Europa e na América do Norte,
argumentam que o Vaticano de
João Paulo 2º removeu poder demais dos bispos, tornando-os
agentes de suas políticas conservadoras -e pouco influentes na
formulação da política católica.
"Talvez precisemos de um momento de calma na igreja para
respirar um pouco", disse ele em
entrevista sobre o futuro da Igreja
Católica, publicada na mais recente edição da revista católica
italiana "30 Giorni".
O arcebispo disse que o Vaticano centralizara o controle da igreja nos últimos séculos, copiando o
exemplo das monarquias européias, mas que o mundo atual requeria um estilo diferente: "Uma
certa redução de tom, sem exageros, seria desejável".
Ainda que esteja fraco a ponto
de quase não poder falar ou mover-se, João Paulo 2º prometeu
governar até morrer. Danneels está entre os cardeais, a maior parte
dos quais latino-americanos, vistos como favoritos a sucedê-lo no
comando da Igreja Católica, que
tem cerca de 1 bilhão de fiéis.
Danneels afirmou que era natural que João Paulo 2º, que celebrou seus 25 anos de pontificado
em outubro, se tivesse tornado a
personificação da igreja aos olhos
da mídia mundial.
"Ele tem uma personalidade
verdadeiramente carismática,
que atrai a atenção", declarou. "E
o mecanismo que a mídia usa, especialmente a televisão, é a lente
de aumento. Ela se concentra em
um detalhe ou em uma personalidade, fora do contexto, e desvia a
atenção para ele ou para ela."
Mas, acrescentou Danneels, "a
identificação completa entre o papel do papa e a personalidade que
o representa não é boa".
Ele afirmou que a aposentadoria, no caso de papas idosos ou
adoecidos -alternativa rejeitada
por João Paulo 2º-, poderia ajudar a romper o elo entre o papado
em si e o homem que o ocupa
temporariamente.
Danneels também sugeriu que a
Igreja Católica pudesse se reformar, transformando os sínodos
de bispos -as ocasionais reuniões de consulta entre líderes locais da igreja e o papa- em discussões mais abertas. Os críticos
alegam que essas reuniões são
apenas formalidades.
A Cúria Romana -a burocracia que se expandiu consideravelmente desde o Concílio Vaticano
2º, na década de 60- deveria reduzir "seu fluxo incessante de papel", declarou Danneels. "A cada
dia, nós ficamos mais inundados
com documentos, com instruções
e com manuais extremamente
longos."
Danneels deixou claro que não
quer enfraquecer o papado. "Não
se trata de diminuir a influência
do papa ou de outros bispos em
detrimento de um ou de outro."
Texto Anterior: Análise: Os EUA querem marginalizar a França Próximo Texto: Cardeal Danneels Índice
|