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São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

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IGREJA

Danneels, forte candidato à sucessão de João Paulo 2º, também deseja que a Igreja Católica se concentre menos na figura do papa

Cardeal belga quer descentralizar Vaticano

DA REUTERS

Um dos mais importantes candidatos à sucessão do papa João Paulo 2º quer que a Igreja Católica reduza o poder de sua hierarquia centralizada e se concentre menos no pontífice que comanda a maior das organizações religiosas do mundo.
O cardeal belga Godfried Danneels disse que o carismático papa polonês se tornou uma "figura enorme" na igreja e uma personalidade na mídia mundial, enquanto os bispos de todo o mundo estão afogados em formalidades impostas pelo trabalho burocrático do Vaticano.
Danneels, 70, arcebispo de Bruxelas, bem conhecido por suas posições francas, deixou claro que seus comentários tratavam da tendência de centralização que domina o Vaticano nas últimas décadas, não de João Paulo 2º, 83, que a supervisionou.
Moderados da igreja, como Danneels, uma minoria centralizada especialmente no oeste da Europa e na América do Norte, argumentam que o Vaticano de João Paulo 2º removeu poder demais dos bispos, tornando-os agentes de suas políticas conservadoras -e pouco influentes na formulação da política católica.
"Talvez precisemos de um momento de calma na igreja para respirar um pouco", disse ele em entrevista sobre o futuro da Igreja Católica, publicada na mais recente edição da revista católica italiana "30 Giorni".
O arcebispo disse que o Vaticano centralizara o controle da igreja nos últimos séculos, copiando o exemplo das monarquias européias, mas que o mundo atual requeria um estilo diferente: "Uma certa redução de tom, sem exageros, seria desejável".
Ainda que esteja fraco a ponto de quase não poder falar ou mover-se, João Paulo 2º prometeu governar até morrer. Danneels está entre os cardeais, a maior parte dos quais latino-americanos, vistos como favoritos a sucedê-lo no comando da Igreja Católica, que tem cerca de 1 bilhão de fiéis.
Danneels afirmou que era natural que João Paulo 2º, que celebrou seus 25 anos de pontificado em outubro, se tivesse tornado a personificação da igreja aos olhos da mídia mundial.
"Ele tem uma personalidade verdadeiramente carismática, que atrai a atenção", declarou. "E o mecanismo que a mídia usa, especialmente a televisão, é a lente de aumento. Ela se concentra em um detalhe ou em uma personalidade, fora do contexto, e desvia a atenção para ele ou para ela."
Mas, acrescentou Danneels, "a identificação completa entre o papel do papa e a personalidade que o representa não é boa".
Ele afirmou que a aposentadoria, no caso de papas idosos ou adoecidos -alternativa rejeitada por João Paulo 2º-, poderia ajudar a romper o elo entre o papado em si e o homem que o ocupa temporariamente.
Danneels também sugeriu que a Igreja Católica pudesse se reformar, transformando os sínodos de bispos -as ocasionais reuniões de consulta entre líderes locais da igreja e o papa- em discussões mais abertas. Os críticos alegam que essas reuniões são apenas formalidades.
A Cúria Romana -a burocracia que se expandiu consideravelmente desde o Concílio Vaticano 2º, na década de 60- deveria reduzir "seu fluxo incessante de papel", declarou Danneels. "A cada dia, nós ficamos mais inundados com documentos, com instruções e com manuais extremamente longos."
Danneels deixou claro que não quer enfraquecer o papado. "Não se trata de diminuir a influência do papa ou de outros bispos em detrimento de um ou de outro."


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