São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2008

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Palestinos impedem Egito de fechar fronteira com Gaza

Sob pressão de EUA e Israel, egípcios tentaram cortar fluxo de pessoas na área

Moradores do território sob embargo há dez dias buscam mantimentos no país vizinho; Hamas tomou controle das passagens

DA REDAÇÃO

Fracassou ontem a primeira tentativa das autoridades egípcias de fechar a fronteira com a faixa de Gaza, três dias depois que militantes do grupo radical islâmico Hamas explodiram parte do muro que separa os dois territórios, rompendo o bloqueio imposto aos palestinos por Israel.
Após tolerar a entrada em solo egípcio de uma multidão de moradores de Gaza que buscava comprar comida e outros produtos, autoridades locais, sob pressão de Israel e EUA, ordenaram por alto-falante aos palestinos que regressassem a suas casas, e policiais formaram um cordão de isolamento para bloquear a entrada.
Numa tentativa de conter a maré humana, forças de segurança usaram cassetetes e jatos d'água, provocando a fúria da população, que atirou pedras nos agentes.
A situação escapou do controle das autoridades egípcias depois que membros da milícia radical islâmica Hamas, que controla a faixa de Gaza desde junho, abriram com escavadeiras novos pontos de passagem no muro. A multidão avançou, obrigando as forças egípcias a bateram em retirada.
A explosão da fronteira de Gaza ocorreu depois que o Exército israelense reforçou o cerco imposto há dois anos ao território palestino, como parte de uma operação para impedir o lançamento de foguetes Qassam contra Israel. Também houve incursões militares, que deixaram pelo menos 26 mortos em Gaza -quatro deles eram militantes do Hamas alvejados ontem.
Segundo a ONU, mais de 700 mil palestinos haviam entrado no Egito nos dois dias após a derrubada do muro -o número desconsidera o fato de muitos moradores da área terem cruzado a fronteira várias vezes.
Logo depois que os militares egípcios abandonaram a área, numa violação dos acordos de segurança assinados com Israel, militantes do Hamas assumiram o controle sobre o vai-e-vem de pessoas e mercadorias.
"Expulsamos da área aqueles infiéis [egípcios]. Se voltarem amanhã, nós os mataremos", ameaçou um militante encapuzado, com uma metralhadora. Segundo a agência de notícias Efe, o governo egípcio prepara o retorno das tropas à fronteira.

Moto e salgadinho
Sob a vigilância do Hamas, palestinos continuaram comprando tudo o que podiam na parte egípcia da cidade fronteiriça de Rafah. Num clima de parque de diversões, vendedores de sorvete e sanduíches instalaram-se junto a um trecho do muro derrubado.
"Comprei uma moto, cigarros, biscoitos, salgadinhos, queijo e um pequeno gerador elétrico. Agora eu nem me importaria se eles fechassem a fronteira", disse Said al Helo.
Outra moradora de Gaza queria justamente que a fronteira continuasse aberta. "Que nos deixem viver, respirar um pouco", pediu Mariam al Chal.
Diante das conseqüências imprevisíveis da atual situação em Gaza, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) se ofereceu novamente para controlar as fronteiras do território. O ditador egípcio, Hosni Mubarak, pediu aos palestinos que superem as divergências acirradas com a violenta tomada do controle de Gaza pelo Hamas e convidou as facções palestinas a se reunirem no Egito para discutir a crise.
"O Egito continua disposto a desempenhar um papel para cicatrizar as feridas entre os irmãos palestinos e garantir sua união", disse Mubarak em entrevista à revista "Osbue".


Com agências internacionais


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