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Palestinos impedem Egito de fechar fronteira com Gaza
Sob pressão de EUA e Israel, egípcios tentaram cortar fluxo de pessoas na área
Moradores do território
sob embargo há dez dias buscam mantimentos no país vizinho; Hamas tomou controle das passagens
DA REDAÇÃO
Fracassou ontem a primeira
tentativa das autoridades egípcias de fechar a fronteira com a
faixa de Gaza, três dias depois
que militantes do grupo radical
islâmico Hamas explodiram
parte do muro que separa os
dois territórios, rompendo o
bloqueio imposto aos palestinos por Israel.
Após tolerar a entrada em solo egípcio de uma multidão de
moradores de Gaza que buscava comprar comida e outros
produtos, autoridades locais,
sob pressão de Israel e EUA, ordenaram por alto-falante aos
palestinos que regressassem a
suas casas, e policiais formaram um cordão de isolamento
para bloquear a entrada.
Numa tentativa de conter a
maré humana, forças de segurança usaram cassetetes e jatos
d'água, provocando a fúria da
população, que atirou pedras
nos agentes.
A situação escapou do controle das autoridades egípcias
depois que membros da milícia
radical islâmica Hamas, que
controla a faixa de Gaza desde
junho, abriram com escavadeiras novos pontos de passagem
no muro. A multidão avançou,
obrigando as forças egípcias a
bateram em retirada.
A explosão da fronteira de
Gaza ocorreu depois que o
Exército israelense reforçou o
cerco imposto há dois anos ao
território palestino, como parte de uma operação para impedir o lançamento de foguetes
Qassam contra Israel. Também
houve incursões militares, que
deixaram pelo menos 26 mortos em Gaza -quatro deles
eram militantes do Hamas alvejados ontem.
Segundo a ONU, mais de 700
mil palestinos haviam entrado
no Egito nos dois dias após a
derrubada do muro -o número
desconsidera o fato de muitos
moradores da área terem cruzado a fronteira várias vezes.
Logo depois que os militares
egípcios abandonaram a área,
numa violação dos acordos de
segurança assinados com Israel, militantes do Hamas assumiram o controle sobre o vai-e-vem de pessoas e mercadorias.
"Expulsamos da área aqueles
infiéis [egípcios]. Se voltarem
amanhã, nós os mataremos",
ameaçou um militante encapuzado, com uma metralhadora.
Segundo a agência de notícias
Efe, o governo egípcio prepara
o retorno das tropas à fronteira.
Moto e salgadinho
Sob a vigilância do Hamas,
palestinos continuaram comprando tudo o que podiam na
parte egípcia da cidade fronteiriça de Rafah. Num clima de
parque de diversões, vendedores de sorvete e sanduíches instalaram-se junto a um trecho
do muro derrubado.
"Comprei uma moto, cigarros, biscoitos, salgadinhos,
queijo e um pequeno gerador
elétrico. Agora eu nem me importaria se eles fechassem a
fronteira", disse Said al Helo.
Outra moradora de Gaza
queria justamente que a fronteira continuasse aberta. "Que
nos deixem viver, respirar um
pouco", pediu Mariam al Chal.
Diante das conseqüências
imprevisíveis da atual situação
em Gaza, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) se ofereceu
novamente para controlar as
fronteiras do território. O ditador egípcio, Hosni Mubarak,
pediu aos palestinos que superem as divergências acirradas
com a violenta tomada do controle de Gaza pelo Hamas e
convidou as facções palestinas
a se reunirem no Egito para discutir a crise.
"O Egito continua disposto a
desempenhar um papel para cicatrizar as feridas entre os irmãos palestinos e garantir sua
união", disse Mubarak em entrevista à revista "Osbue".
Com agências internacionais
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