São Paulo, quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Ataque aborta "operação charme" para vender a imagem da Rússia

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O atentado ao aeroporto russo de Domodedovo pode causar uma vítima não esperada: tende a machucar ou até matar a "operação charme" que as autoridades russas prepararam para o encontro anual do Fórum Econômico Mundial em 2011.
O presidente Dmitri Medvedev era o convidado de honra para pronunciar, hoje, o discurso de abertura -uma magnífica tribuna para vender a imagem de um país, se se considera que a plateia é formada por executivos de cerca de 1.200 das grandes companhias globais.
Até o fim da tarde de ontem, o programa oficial do fórum mantinha a fala de Medvedev. A porta-voz do presidente russo anunciara apenas o adiamento de sua viagem, não seu cancelamento.
Mas, mesmo que venha, o ambiente não será o mesmo após o ataque. O objetivo da viagem de Medvedev e sua nutrida comitiva era, concretamente, vender o programa russo de privatizações e, no plano da imagem, convencer o público de que o presidente é um grande modernizador, portanto confiável aos olhos da plateia de Davos.
Agora, as questões de segurança sobem, obviamente, ao primeiro plano, ainda mais que o "Financial Times", a bíblia desse público, trouxe ontem artigo de um especialista que diz que são poucas as armas que a Rússia tem contra o terrorismo.
Anatol Lieven, professor do Departamento de Estudos de Guerra do King's College, de Londres, diz que as estratégias usadas pelo Ocidente não são facilmente adaptáveis à Rússia. Para Lieven, o Ocidente trata mais de identificar e prender grupos terroristas antes que cometam atentados, em vez de esquemas de segurança fortíssimos nos potenciais alvos.
Na Rússia, não funcionaria porque "certas partes do Cáucaso do Norte são áreas inacessíveis para a política", em referência a regiões em que se supõe que o terrorismo encontra seus viveiros.
O empresariado ocidental já tinha dúvidas sobre o ambiente de negócios na Rússia devido à nova condenação do empresário Mikhail Khodorkovsky. Prova-o o fato de que os organizadores do fórum abriram para o público perguntas aos líderes, a serem feitas via YouTube.
Grande número das questões endereçadas a Medvedev diz respeito ao caso Khodorkovsky. Não quer dizer que uma delas será de fato feita ao presidente, uma vez que só três serão selecionadas. Mas dá uma ideia do incômodo que causou a nova condenação. Tanto que Medvedev despachou assessores para explicar que o presidente é favorável a uma rápida liberação do empresário, que está condenado até 2017.
Seria uma maneira delicada de dizer que Medvedev não tem a mesma posição linha-dura do premiê Vladimir Putin. Putin, aliás, esteve no ano passado em Davos e não fez a menor questão de exibir charme. Ao contrário, mostrou a sua face mais gelada.


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