São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

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Raúl adia troca de gabinete, mas promove general-empresário

DA REDAÇÃO

A ratificação de Raúl Castro como líder máximo de Cuba -e seu discurso sobre "eficiência" e promessas de mudanças econômicas- lança luz sobre o papel econômico das Forças Armadas na ilha, ampliado nas últimas duas décadas.
Empossado anteontem como presidente do Conselho de Estado, o irmão de Fidel evitou nomear o gabinete com o qual vai trabalhar. Disse que a escolha dos integrantes do Conselho de Ministros só será feita após a análise da estrutura do Estado e de avaliação do trabalho dos atuais titulares.
O prazo dado por Raúl, 76, para decidir as mudanças é também indicativo do ritmo que ele quer imprimir às reformas. "Pedimos um ano completo para estudar com profundidade estes aspectos", disse à Assembléia Nacional, ressaltando que, para a decisão, consultou o PC e Fidel.
A exceção no adiamento das nomeações foi, justamente, a pasta da Defesa. Para o cargo que ele ocupou por cinco décadas, Raúl nomeou seu braço direito e até então número 2 na pasta, Julio Casas Regueiro, 72.
O general Casas -tem três estrelas, enquanto Raúl tem quatro- foi dos poucos a se mover na hierarquia: é agora um dos cinco vice-presidentes do Conselho de Estado, órgão máximo executivo em Cuba.
O conselho tem ainda mais três generais -dois deles que ascenderam à instância também no último domingo (veja quadro nesta página).
Para além das questões de segurança nacional, a folha de serviços de Casas mostra sua importância nos empreendimentos da ilha. Ele comanda o Grupo de Administração Empresarial SA (Gaesa), holding que reúne os negócios mais lucrativos de Cuba -um coronel genro de Raúl está na direção.
No longo elogio que fez ao novo ministro, do qual disse nunca ter discordado, Raúl afirmou que Casas era o único autorizado a vetar suas ordens nas Forças Armadas.
O principal negócio da holding militar é a companhia de turismo Gaviota, que transformou várias bases da Marinha em resorts, muitos dos quais hoje co-administrados com gigantes espanhóis do setor.
Segundo o Instituto de Estudos de Cuba da Universidade de Miami, os militares são responsáveis por 60% do PIB cubano e a Gaviota detém cerca de 25% do total de quartos do sistema hoteleiro -o turismo é a principal fonte de divisas.
A holding dirige uma companhia aérea e também estão nas mãos dos militares uma rede de pequenos mercados e projetos de parcerias com empresas estrangeiras na extração de níquel -principal produtos vendido à China- e petróleo.
As empresas militares foram as primeiras a passar por programas de "aperfeiçoamento", com incentivo à produtividade. Muitos analistas vêem nos empreendimentos, e na formação de executivos-militares com trânsito internacional, um laboratório para o modelo chinês de reforma econômica que Raúl estuda adaptar à ilha.

Igreja e Estado
Respaldados pela presença do secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, na ilha, os bispos cubanos cumprimentaram Raúl pela ascensão e pediram mudanças progressivas na ilha. Bertone, que será a primeira autoridade estrangeira a se reunir com Raúl, hoje, classificou como "gesto positivo" a libertação de presos políticos no começo do mês e disse ter pedido ao governo "gestos de reconciliação" no tema.


Com agências internacionais


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