São Paulo, sábado, 26 de março de 2011

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ANÁLISE

Governo de coalizão é solução apenas para o curto prazo

FÁBIO ZANINI
EDITOR DE MUNDO

Não é coincidência a proposta de um governo de unidade nacional na Líbia ter surgido na sede da União Africana, na Etiópia.
Esse tipo de paliativo político é uma tecnologia africana por excelência.
Já foi aplicado no Quênia (2008) e no Zimbábue (2009). Fala-se agora como uma possível saída para a crise na Costa do Marfim.
A solução é sempre a mesma: aplica-se pressão internacional sobre as partes beligerantes e produz-se um acordo em que um dos rivais vira (ou se mantém) presidente e outro torna-se primeiro-ministro.
Os postos de comando nos ministérios, Parlamento e Forças Armadas são divididos, um aperto de mãos é produzido para as câmeras (de preferência com algum figurão internacional no meio) e a violência imediatamente cessa. Vidas são poupadas e sangue para de escorrer.
O sucesso do primeiro momento costuma ser ilusório. Governos de união nacional tendem a ser cronicamente instáveis. No Zimbábue, o premiê Morgan Tsvangirai, que provavelmente venceu e não levou uma eleição em 2008, tem seu trabalho sabotado diariamente pelo ditador Robert Mugabe.
No Quênia, há paralisia e desconfiança entre o presidente Mwai Kibaki e o premiê Raila Odinga. Há três anos se enfrentaram, após uma contestada eleição, com saldo de mais de mil mortos.
Na Líbia, não há como imaginar algo diferente caso dois lados tomados de ressentimento sejam forçados a dividir um mesmo gabinete.
Rebeldes de Benghazi até podem fingir que tomarão ordens de Gaddafi, mas é difícil que o resultado final seja algo próximo do que a Líbia mais precisa, um governo efetivo.
A experiência africana mostra que formar um governo de coalizão é como rolar uma dívida impagável. Ganha-se tempo e joga-se o problema para a frente.
Como medida emergencial, faz algum sentido, mas antes que se louve um acordo que eventualmente seja produzido, é bom saber que existe um preço a pagar.


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