São Paulo, sábado, 26 de março de 2011

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Irã critica condenação em órgão da ONU

Para país, designação de relator de direitos humanos teve motivação política e foi decidida sob pressão dos EUA

Votação no Conselho de Direitos Humanos foi a 1ª manifestação do Brasil contra o regime iraniano em oito anos

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O Irã reagiu ontem à aprovação, na véspera, pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU de relator especial para investigar violações de direitos humanos no país, dizendo que a decisão foi tomada "sob pressão dos EUA".
A sessão do órgão, que aprovou a medida por 22 votos a favor, 7 contra e 14 abstenções, marcou a primeira vez que o Brasil votou contra o Irã na ONU em oito anos.
Para o porta-voz da Chancelaria iraniana, Ramin Mehmanparast, a decisão foi "politicamente motivada" e visou desviar a atenção de supostos abusos de direitos humanos cometidos nos EUA.
"A aprovação de uma resolução anti-Irã no Conselho de Direitos Humanos da ONU não é justificável", afirmou o porta-voz, em discurso transmitido pela televisão estatal.
"O objetivo por trás disso é pressionar a República Islâmica do Irã e desviar a atenção de abusos de direitos humanos cometidos no Ocidente, principalmente nos EUA."
A medida implica a nomeação de um especialista em direitos humanos na próxima reunião do CDH, em junho, que vai investigar as denúncias feitas sobre o país.
A designação do relator especial é um duro golpe a um membro do conselho e indica a ocorrência de violações sistemáticas dos direitos humanos no país em questão.
O governo iraniano acusa os EUA de cometerem graves abusos de direitos humanos em situações como as guerras do Iraque e do Afeganistão e a prisão na base militar de Guantánamo (Cuba) e por apoiar o governo de Israel na disputa com os palestinos.
"A política dos EUA, tanto em ações quanto em palavras, sempre foi paradoxal e baseada em dupla moral, e a resolução evidencia de modo claro esse comportamento."
O assessor de Segurança Nacional dos EUA, Tom Donilon, no entanto, disse que a decisão reafirma "consenso global e preocupação com os direitos humanos no Irã".
O chanceler do Reino Unido, William Hague, disse que há uma "inaceitável deterioração" nos direitos humanos no Irã e que a resolução no CDH "encoraja os iranianos a seguir apontando abusos".

BRASIL
O porta-voz da Chancelaria do Irã não fez referência, porém, ao voto do Brasil, que marcou mudança de orientação do governo Dilma Rousseff em relação ao antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Sob Lula, o Brasil só votou contra o Irã em 2003, mas em um órgão da Assembleia Geral da ONU, menos importante que o CDH, que viria a ser criado três anos depois.
Desde então, foram sete abstenções em votações sobre Irã no órgão da Assembleia Geral, política que rendeu atritos com os EUA.
Embora a condenação ao país persa agora signifique uma inflexão na política brasileira, o governo Dilma negou haver uma ruptura e justificou o voto dizendo que as chances de cooperação dadas não foram aproveitadas.
Mas ONGs da área de direitos humanos, contumazes críticas das posições brasileiras sob Lula, celebraram.
E o governo do presidente americano, Barack Obama, que realizou visita a Dilma há uma semana, cumprimentou o Brasil pelo voto no CDH.


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