São Paulo, sábado, 26 de março de 2011

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OPINIÃO

Usinas são bem adaptadas para resistir à natureza

LEONAM DOS SANTOS
GUIMARÃES
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Japão foi atingido, no último dia 11 de março, por um terremoto, seguido por um tsunami, que superou toda capacidade de resposta a desastres naturais desenvolvida ao longo de séculos.
Nenhum projeto de engenharia é dimensionado para resistir a tal evento.
Por isso, parte das refinarias de óleo, usinas termelétricas e indústrias químicas da região atingida desabou imediatamente.
As 14 usinas de geração elétrica distribuídas pelas três centrais nucleares da região afetada resistiram às titânicas forças da natureza.
Todas foram desligadas automaticamente e colocadas em seguro de resfriamento, mesmo após perdida a alimentação elétrica externa. Mas, cerca de uma hora depois, uma onda de dez metros varreu a costa.
Ao todo, oito usinas das centrais nucleares atingidas conseguiram resistir a mais esse evento para o qual não foram projetadas.
Entretanto, os seis reatores de Fukushima não foram capazes de superá-lo. O tsunami interrompeu o processo de resfriamento.
O governo japonês acionou o plano de emergência, isolando preventivamente os já desabrigados habitantes da primeira zona de 5 km de raio em torno do reator avariado. Vendo a situação se agravar, o raio de isolamento subiu para 30 km.
O Japão conseguiu concluir a retirada de mais de 100 mil sobreviventes. Isso garantiu que, mesmo que venha a acontecer uma liberação de materiais radiativos, a população está a salvo.
Quaisquer comparações do que pode ainda vir a ocorrer em Fukushima com o que ocorreu em Tchernobil, na Ucrânia, em 1986, não são tecnicamente corretas.
Naquele trágico acidente, os materiais radioativos foram dispersos em grande quantidade e a grandes distâncias devido à energia liberada pelo incêndio de centenas de toneladas de grafite que havia no reator.
Num reator a água, como os do Japão, não se usa grafite nem outra forma de acumulação de grande quantidade de energia liberável em curto período.
Que lições podem ser aprendidas pela indústria nuclear até o momento?
A primeira é que as usinas nucleares são as construções humanas mais bem adaptadas a resistir a eventos naturais de severidade milenar.
Outra é que a resistência das usinas localizadas em áreas de alto risco sísmico, especialmente em zonas sujeitas a tsunamis (muito poucas dentre as 440 em operação no mundo), deve ser reavaliada e reforçada.
Demandas no sentido de desligar usinas em operação ou interromper obras são precipitadas.

LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES , doutor em engenharia naval e mestre em engenharia nuclear, é assessor da presidência da Eletrobrás Eletronuclear


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