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Centrista sobe no muro, mas acena a Royal
Terceiro colocado no primeiro turno, Bayrou diz que não apoiará nenhum dos finalistas, mas reserva a Sarkozy palavras mais duras
Em batalha por apoio estão em jogo 6,8 milhões de votos; segundo centrista, "Sarkô" o procurou para
um pacto anti- Chirac
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O centrista François Bayrou,
transformado em estrela do segundo turno da eleição francesa, que ele nem sequer disputará, subiu no muro e recusou-se
a indicar o seu candidato favorito entre os dois que disputarão a rodada decisiva, o direitista Nicolas Sarkozy e a socialista
Ségolène Royal.
Mas do alto do muro e de
seus 6,8 milhões de votos (pouco mais de 18% do total), Bayrou deixou pelo menos um dedinho à esquerda.
Disse, à certa altura de uma
concorrida entrevista coletiva
na tarde de ontem, que não sabe o que fará no dia 6 de maio
(data do segundo turno), mas
sabe o que não fará. Um jornalista perguntou à queima-roupa: "não fará votar em Sarkozy?". Silêncio de Bayrou.
Um segundo indício, também indireto e frágil, surgiu em
reportagem publicada ontem
pelo jornal regional "Sud
Ouest", segundo o qual Bayrou
teria tido uma conversa com
leitores e jornalistas dessa publicação, no dia 19 de março,
durante a qual contou que, há
três anos, Sarkozy lhe havia
proposto uma aliança contra o
presidente Jacques Chirac, que
é apoiado pelos dois (Sarkozy
foi ministro do Interior de Chirac até sair para a disputa presidencial; Bayrou também foi ministro, mas há mais tempo).
O pacto levaria em conta o fato de que os dois são jovens e
poderiam "fazer Chirac, que é
velho, sair de moda", no relato
de Bayrou a cinco leitores, cinco jornalistas e alguns observadores convidados, segundo publicou ontem o "Sud Ouest",
que resolveu romper o embargo que Bayrou pedira à época
para essa história.
Bayrou teria contado a suposta conspiração para demonstrar o "fosso", como disse,
que o separa de Sarkozy.
"Três males"
Na entrevista de ontem, o
centrista criticou os dois finalistas, mas de uma maneira desigual. O teorema que traçou é
o seguinte, em resumo:
1 - A França sofre de "três
males", que devem ser curados
ao mesmo tempo. Um é a "democracia doente", o segundo é
o "tecido social esgarçado" e, o
terceiro, a falta de crescimento" econômico, do que resulta a
debilidade do poder de compra
e o desemprego;
2 - "Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal não vão curar tais males, mas podem agravá-los";
3 - Em Sarkozy, Bayrou vê "o
gosto pela intimidação e pela
ameaça", o que inexoravelmente levará "a uma concentração
de poderes como nunca houve", agravando portanto a
doença da democracia.
À candidata socialista, ao
contrário do que ocorreu em
relação a Sarkozy, Bayrou reservou um meio elogio, ao admitir que "parece mais atenta
ao tecido social", mas, do ponto
de vista econômico, pretende
"multiplicar as intervenções do
Estado", o que, na sua opinião,
vai contra "as orientações de
que a França necessita".
A reação dos dois lados foi
mais eloqüente do que os débeis sinais à esquerda emitidos
por Bayrou. Royal aplaudiu o
que chamou de "análise severa
da situação da França" traçada
no teorema do centrista, em
óbvia lembrança ao fato de que
é a direita que governa o país e,
portanto, seria a responsável
por seus males.
Sarkozy, ao contrário, reagiu
com mal dissimulada irritação
ao ser ele próprio entrevistado,
no telejornal das 20h da TF1, o
principal canal de TV francês.
Irritação que o levou a uma ironia que não é aconselhável na
hora em que os eleitores de
Bayrou são intensamente cortejados pelos dois lados. Disse
que o segundo turno era como
uma final de futebol: "Há o primeiro colocado e o segundo colocado, mas o terceiro não está
na disputa".
De fato, não está, mas é o responsável pelo que Sarkozy chamou de "agitação" nessa fase da
eleição, que, segundo espera,
durará pouco tempo. Pode estar enganado: Bayrou deu a entender que poderá, sim, acabar
se definindo por uma das candidaturas, em função do debate
Sarkozy/Royal, agendado para
dia 2. Antes, a socialista ofereceu ao centrista um debate entre eles na sexta-feira, quando
ela dará uma entrevista coletiva à mídia regional.
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