São Paulo, quinta-feira, 26 de abril de 2007

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Centrista sobe no muro, mas acena a Royal

Terceiro colocado no primeiro turno, Bayrou diz que não apoiará nenhum dos finalistas, mas reserva a Sarkozy palavras mais duras

Em batalha por apoio estão em jogo 6,8 milhões de votos; segundo centrista, "Sarkô" o procurou para um pacto anti- Chirac

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O centrista François Bayrou, transformado em estrela do segundo turno da eleição francesa, que ele nem sequer disputará, subiu no muro e recusou-se a indicar o seu candidato favorito entre os dois que disputarão a rodada decisiva, o direitista Nicolas Sarkozy e a socialista Ségolène Royal.
Mas do alto do muro e de seus 6,8 milhões de votos (pouco mais de 18% do total), Bayrou deixou pelo menos um dedinho à esquerda.
Disse, à certa altura de uma concorrida entrevista coletiva na tarde de ontem, que não sabe o que fará no dia 6 de maio (data do segundo turno), mas sabe o que não fará. Um jornalista perguntou à queima-roupa: "não fará votar em Sarkozy?". Silêncio de Bayrou.
Um segundo indício, também indireto e frágil, surgiu em reportagem publicada ontem pelo jornal regional "Sud Ouest", segundo o qual Bayrou teria tido uma conversa com leitores e jornalistas dessa publicação, no dia 19 de março, durante a qual contou que, há três anos, Sarkozy lhe havia proposto uma aliança contra o presidente Jacques Chirac, que é apoiado pelos dois (Sarkozy foi ministro do Interior de Chirac até sair para a disputa presidencial; Bayrou também foi ministro, mas há mais tempo).
O pacto levaria em conta o fato de que os dois são jovens e poderiam "fazer Chirac, que é velho, sair de moda", no relato de Bayrou a cinco leitores, cinco jornalistas e alguns observadores convidados, segundo publicou ontem o "Sud Ouest", que resolveu romper o embargo que Bayrou pedira à época para essa história.
Bayrou teria contado a suposta conspiração para demonstrar o "fosso", como disse, que o separa de Sarkozy.

"Três males"
Na entrevista de ontem, o centrista criticou os dois finalistas, mas de uma maneira desigual. O teorema que traçou é o seguinte, em resumo:
1 - A França sofre de "três males", que devem ser curados ao mesmo tempo. Um é a "democracia doente", o segundo é o "tecido social esgarçado" e, o terceiro, a falta de crescimento" econômico, do que resulta a debilidade do poder de compra e o desemprego;
2 - "Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal não vão curar tais males, mas podem agravá-los";
3 - Em Sarkozy, Bayrou vê "o gosto pela intimidação e pela ameaça", o que inexoravelmente levará "a uma concentração de poderes como nunca houve", agravando portanto a doença da democracia.
À candidata socialista, ao contrário do que ocorreu em relação a Sarkozy, Bayrou reservou um meio elogio, ao admitir que "parece mais atenta ao tecido social", mas, do ponto de vista econômico, pretende "multiplicar as intervenções do Estado", o que, na sua opinião, vai contra "as orientações de que a França necessita".
A reação dos dois lados foi mais eloqüente do que os débeis sinais à esquerda emitidos por Bayrou. Royal aplaudiu o que chamou de "análise severa da situação da França" traçada no teorema do centrista, em óbvia lembrança ao fato de que é a direita que governa o país e, portanto, seria a responsável por seus males.
Sarkozy, ao contrário, reagiu com mal dissimulada irritação ao ser ele próprio entrevistado, no telejornal das 20h da TF1, o principal canal de TV francês. Irritação que o levou a uma ironia que não é aconselhável na hora em que os eleitores de Bayrou são intensamente cortejados pelos dois lados. Disse que o segundo turno era como uma final de futebol: "Há o primeiro colocado e o segundo colocado, mas o terceiro não está na disputa".
De fato, não está, mas é o responsável pelo que Sarkozy chamou de "agitação" nessa fase da eleição, que, segundo espera, durará pouco tempo. Pode estar enganado: Bayrou deu a entender que poderá, sim, acabar se definindo por uma das candidaturas, em função do debate Sarkozy/Royal, agendado para dia 2. Antes, a socialista ofereceu ao centrista um debate entre eles na sexta-feira, quando ela dará uma entrevista coletiva à mídia regional.


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