São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2010

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Chávez refuta críticas a "cubanização"

Presidente responde em seu programa de TV a acusações de general que apontou excessiva influência de Havana nas Forças Armadas

Em medida para conter a insatisfação de militares, mandatário venezuelano anuncia aumento de 40% nos salários da categoria

Juan Barreto/France Presse
Venezuelanos votam em Caracas em primárias para escolher candidatos da oposição nas eleições legislativas de setembro

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, defendeu ontem a presença de militares cubanos nas Forças Armadas e afirmou que o general da reserva Antonio Rivero, que criticou a suposta ingerência de Havana no país, foi "envolvido" pelo discurso oposicionista.
"Estão sempre à caça de militares descontentes", disse Chávez durante seu programa de TV semanal, diante de uma plateia de militares no Estado de Apure, no sudoeste. "Que cubanização? Os cubanos estão aqui nos ajudando [...]. Nos disseram como reparar rádios de tanques e como deve ser o armazenamento de munição."
Na quinta, Rivero, na reserva desde o dia 7, disse que generais cubanos e militares de patentes intermediárias participam de áreas estratégicas da defesa venezuelana, como planejamento, treinamento e inteligência. Em entrevista à Folha, o general não descartou que sua crítica seja compartilhada por um grupo de militares da ativa.
Rivero, que estuda lançar-se candidato a deputado nas cruciais eleições legislativas de setembro, disse que rejeitava a presença cubana assim como rejeitou, no passado, a ingerência americana no país.
O militar fez parte da tentativa frustrada de golpe de Estado liderada por Chávez em 1992. "Tenho dor porque ele foi um bom soldado, que conheci bastante: o envolveram", disse o presidente ontem. "Que brilhe em seus 15 minutos", continuou. Chávez rejeitou a comparação da influência cubana com a dos EUA. "Eu vi quando aqui mandavam os ianques: tinham oficiais que mandavam nos componentes, tinham escritórios no Comando do Exército e lidavam com segredos que nós não tínhamos", disse ele, que é tenente-coronel da reserva.
Chávez disse que retirou Rivero de seu último posto -chefe do Estado-Maior da 5ª Divisão de Infantaria de Selva- porque ele era "preguiçoso" e vinha a Caracas encontrar-se com políticos da oposição. Disse ainda que, como chefe da Proteção Civil, equivalente à Defesa Civil, cargo que ocupou por cinco anos, Rivero não se subordinava ao Ministério do Interior.
No programa de TV, Chávez anunciou 40% de aumento salarial para os militares -a inflação acumulou 25,1% em 2009- e fez menção a outra crítica de Rivero, a "politização" das Forças Armadas. O presidente afirmou que os militares não estão envolvidos em atividades partidárias, mas que devem ter atuação política. Disse que, se a oposição ganhar a Presidência, haverá "perseguição" aos militares.
Segundo o governo, 60 mil cubanos estão na Venezuela como parte do acordo de cooperação entre Caracas e Havana, que prevê o fornecimento de petróleo a Cuba em troca do envio de médicos e educadores que atuam nos programas sociais do governo venezuelano.
Oposicionistas reclamam quase diariamente de que há cubanos em outras áreas da administração, como o sistema de identificação.
Ontem, o site do jornal "Últimas Noticias", o mais vendido do país, afirmou que Rivero havia sido preso. O general desmentiu, mas disse ser vítima de ações intimidatórias, como a ronda de carros sem placa nas proximidades de sua casa.


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