São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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Sequestrada diz ser a favor de ação do governo

DO ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA

M. (ela pede para não ter seu nome divulgado) e o marido são duas das 3.041 vítimas de sequestro de 2001. Donos de uma pequena fazenda no Departamento (Estado) de Cesar, eles foram levados pelo ELN (Exército de Libertação Nacional), a segunda maior guerrilha do país, e libertados após o pagamento de resgate. Leia a seguir trechos da entrevista de M. à Folha, em Bogotá. (RW)

Folha - Como a sra. foi sequestrada?
M. -
Meu marido estava sequestrado desde março do ano passado. No afã de ajudar para tentar que o libertassem, marcaram um encontro, eu fui e me levaram também. Estive sequestrada três meses e meio.

Folha - E como havia sido o sequestro de seu marido?
M. -
Ele estava em uma pequena fazenda que temos, veio um grupo de oito pessoas fortemente armadas, quatro delas com uniformes militares, o tiraram do carro, o fizeram subir em sua camionete e o levaram.

Folha - E de que grupo eram?
M. -
Eles se identificaram como ELN.

Folha - E vocês já haviam recebido alguma ameaça antes?
M. -
Meu marido já havia sido sequestrado duas vezes em 1986, também pelo ELN.

Folha - Como foi o tratamento que vocês receberam dos sequestradores?
M. -
A maioria das pessoas, quando ouve essa pergunta, diz que o tratamento foi bom, pois havia comida. Mas eu acho que, só pelo fato de estar privado da liberdade, não é possível estar sendo bem tratado.

Folha - Eles explicavam suas motivações a vocês?
M. -
Diziam que faziam isso porque estavam lutando pelo povo, pelos camponeses. Mas eu dizia: o que sou, uma extraterrestre? Sou também povo, mereço respeito e não pertenço à classe alta.

Folha - Vocês foram libertados após pagamento de resgate?
M. -
Isso é muito difícil, porque esses grupos, se não recebem algo, não liberam os sequestrados. Isso não fomos nós que administramos, foram nossos filhos. Sei que houve um dinheiro.

Folha - Eles pediam somente dinheiro?
M. -
Era só dinheiro. Muito mais do que podíamos pagar.

Folha - Vocês não tiveram vontade de sair do país após o sequestro?
M. -
É muito difícil tomar essa decisão, quando temos toda a família aqui, temos nosso patrimônio aqui. E gostamos muito da Colômbia. É difícil ir viver em outro lugar. Já estivemos morando fora do país, por motivo de trabalho de meu marido, mas percebemos que o melhor é estar em seu país.

Folha - Como a sra. vê a atuação do governo no combate às guerrilhas?
M. -
Estou muito de acordo com o rompimento do processo de paz com as Farc. Para que haja negociações, primeiro eles têm de deixar o terrorismo, liberar os sequestrados, pelo menos nós, civis que não temos nada a ver com a guerra. Têm de deixar as armas.


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