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Poder que novo comandante terá sobre a guerrilha é questionado
DE CARACAS
DA REDAÇÃO
Há dúvidas entre os analistas
políticos colombianos sobre o
grau de aceitação interna que
Alfonso Cano, 52, terá como líder máximo das Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da
Colômbia) em substituição a
Manuel Marulanda, o Tirofijo,
morto em março.
Os especialistas divergem até
mesmo sobre o papel que vinha
exercendo nos últimos anos o
fundador e líder histórico das
Farc -se meramente simbólico ou efetivo- e o impacto que
terá sua morte.
Para alguns, a escolha de Cano detonará uma sucessão
traumática, com uma disputa
entre as alas política e militarista das Farc. A questão em xeque é sua capacidade de replicar o estilo de liderança vertical, autocrático e carismático
de Marulanda, e de manter a
coesão entre os guerrilheiros.
No ano passado, o grupo sofreu
cerca de 2.400 defecções.
A transição ocorre ainda sob
uma onda de reveses. Além da
morte de Raúl Reyes e de Iván
Ríos, houve deserções importantes, como a de Nelly Avila
Moreno, a "Karina", mulher
mais poderosa da guerrilha.
Primeiro momento
Mas há, contudo, quem acredite que o impacto no primeiro
momento seja limitado, sem
mudanças substantivas na dinâmica interna da guerrilha.
Para Pedro Medellín, professor da Universidade Nacional
da Colômbia, o efeito será meramente simbólico. Ele diz que
os e-mails retirados de computadores de Reyes que o governo
colombiano afirma ter apreendido após o bombardeio que o
matou, atribuídos ao secretariado das Farc, revelam uma
organização cujas decisões vêm
de uma estrutura institucionalizada, na qual Marulanda já
exercia pouca influência.
Por isso, disse à Folha, a
morte do líder máximo pouco
alterará as estratégias das Farc
para questões emblemáticas
-como a troca dos cerca de 40
seqüestrados políticos que têm
sob seu poder por guerrilheiros
presos por Bogotá.
Já Carlos Lozano, diretor do
jornal comunista "Voz", ligado
às Farc, discorda. "Tirofijo supria essa situação tomando decisões próprias que só ele, por
ser quem era, poderia tomar.
Seu sucessor talvez nunca tenha essa autoridade", afirmou.
Segundo a revista "Semana",
Cano ainda enfrentará internamente a rivalidade de Jorge
Briceño Suárez, o "Mono Jojoy", chefe militar das Farc que
era apontado como o principal
nome para suceder Marulanda
e que tem enorme ascendência
sobre a tropa.
"Depois dessa morte, haverá
uma luta entre as linhas militarista e política das Farc", afirmou Carlos Gaviria, presidente
do partido oposicionista de esquerda Pólo Democrático Alternativo. Ele vê como sinal positivo, para o futuro das negociações de paz, o fato de o novo
líder vir da ala política.
Adam Isacson, do Centro de
Política Internacional, de Washington, vai em linha semelhante. "Pelos últimos seis
anos, não houve nenhuma mudança em estratégia política. É
difícil dizer em que direção as
Farc irão, mas parece certo que
será uma direção diferente."
Mas o analista político Ramiro Bejarano relativiza. "Não me
parece que Cano seja tão político como as pessoas acreditam.
A guerra continuará, não haverá mudanças. Chegamos aos
extremos, é muito difícil um
acordo entre as partes", declarou ontem à Folha.
Com FABIANO MAISONNAVE, de Caracas, e
agências internacionais
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