São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2008

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Poder que novo comandante terá sobre a guerrilha é questionado

DE CARACAS
DA REDAÇÃO

Há dúvidas entre os analistas políticos colombianos sobre o grau de aceitação interna que Alfonso Cano, 52, terá como líder máximo das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em substituição a Manuel Marulanda, o Tirofijo, morto em março.
Os especialistas divergem até mesmo sobre o papel que vinha exercendo nos últimos anos o fundador e líder histórico das Farc -se meramente simbólico ou efetivo- e o impacto que terá sua morte.
Para alguns, a escolha de Cano detonará uma sucessão traumática, com uma disputa entre as alas política e militarista das Farc. A questão em xeque é sua capacidade de replicar o estilo de liderança vertical, autocrático e carismático de Marulanda, e de manter a coesão entre os guerrilheiros. No ano passado, o grupo sofreu cerca de 2.400 defecções.
A transição ocorre ainda sob uma onda de reveses. Além da morte de Raúl Reyes e de Iván Ríos, houve deserções importantes, como a de Nelly Avila Moreno, a "Karina", mulher mais poderosa da guerrilha.

Primeiro momento
Mas há, contudo, quem acredite que o impacto no primeiro momento seja limitado, sem mudanças substantivas na dinâmica interna da guerrilha. Para Pedro Medellín, professor da Universidade Nacional da Colômbia, o efeito será meramente simbólico. Ele diz que os e-mails retirados de computadores de Reyes que o governo colombiano afirma ter apreendido após o bombardeio que o matou, atribuídos ao secretariado das Farc, revelam uma organização cujas decisões vêm de uma estrutura institucionalizada, na qual Marulanda já exercia pouca influência.
Por isso, disse à Folha, a morte do líder máximo pouco alterará as estratégias das Farc para questões emblemáticas -como a troca dos cerca de 40 seqüestrados políticos que têm sob seu poder por guerrilheiros presos por Bogotá.
Já Carlos Lozano, diretor do jornal comunista "Voz", ligado às Farc, discorda. "Tirofijo supria essa situação tomando decisões próprias que só ele, por ser quem era, poderia tomar. Seu sucessor talvez nunca tenha essa autoridade", afirmou.
Segundo a revista "Semana", Cano ainda enfrentará internamente a rivalidade de Jorge Briceño Suárez, o "Mono Jojoy", chefe militar das Farc que era apontado como o principal nome para suceder Marulanda e que tem enorme ascendência sobre a tropa.
"Depois dessa morte, haverá uma luta entre as linhas militarista e política das Farc", afirmou Carlos Gaviria, presidente do partido oposicionista de esquerda Pólo Democrático Alternativo. Ele vê como sinal positivo, para o futuro das negociações de paz, o fato de o novo líder vir da ala política.
Adam Isacson, do Centro de Política Internacional, de Washington, vai em linha semelhante. "Pelos últimos seis anos, não houve nenhuma mudança em estratégia política. É difícil dizer em que direção as Farc irão, mas parece certo que será uma direção diferente."
Mas o analista político Ramiro Bejarano relativiza. "Não me parece que Cano seja tão político como as pessoas acreditam.
A guerra continuará, não haverá mudanças. Chegamos aos extremos, é muito difícil um acordo entre as partes", declarou ontem à Folha.


Com FABIANO MAISONNAVE, de Caracas, e agências internacionais


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