São Paulo, terça-feira, 26 de maio de 2009

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Mundo condena Coreia por teste de bomba

Conselho de Segurança considera que nova explosão viola resolução adotada após detonação de 2006; aliada China se soma às críticas

EUA pressionam por novas sanções; potência de bomba é incerta, mas Rússia fala em impacto similar ao sofrido por Hiroshima e Nagasaki


Kim Jae-Hwan/France Presse
Manifestantes sul-coreanos protestam contra o teste nuclear no país vizinho

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

A Coreia do Norte foi alvo ontem de forte condenação de líderes mundiais e do Conselho de Segurança (CS) da ONU pelo teste nuclear que realizou na noite do último domingo (manhã de ontem na Ásia), ato que violou resoluções anteriores do órgão e os próprios compromissos de Pyongyang. Uma resposta prática ao regime do ditador Kim Jong-il ainda não havia sido definida até o fechamento desta edição.
Horas depois do teste, o país testou também três mísseis de pequeno alcance. Uma reunião de emergência do CS da ONU foi convocada pelo Japão durante a tarde, e os países seguiam tentando elaborar reação conjunta ao regime do ditador Kim Jong-il à noite.
"Os membros do CS expressaram sua forte oposição e condenação ao teste nuclear conduzido pela República Democrática Popular da Coreia em 25 de maio de 2009, que constitui uma clara violação da resolução 1.718", diz a nota do grupo. A resolução 1.718 foi elaborada em condenação a outro teste nuclear, realizado pelos norte-coreanos em outubro de 2006, e incluía sanções e proibição a novas explosões.
Os eventos de ontem indicam que ela foi ineficaz, assim como a estratégia adotada até agora de pressões e encorajamentos financeiros a Pyongyang. Ainda assim, os membros do conselho "decidiram começar a trabalhar imediatamente em nova resolução".
Os EUA disseram que a explosão é motivo de "preocupação grave" e pressionam por sanções. "A Coreia do Norte está diretamente e irresponsavelmente desafiando a comunidade internacional", disse o presidente Barack Obama. "[O teste] convida a pressão internacional mais forte. (...) A Coreia do Norte não encontrará segurança e respeito por meio de ameaças e armas ilegais."

Impasse
Novas sanções, porém, além de terem impacto questionável dado o já altíssimo nível de isolamento do país, poderão ser vetadas pela China, maior parceira comercial de Pyongyang.
Foram, contudo, vistas ontem como positivas as falas de Pequim, que exigiu "que a Coreia do Norte obedeça suas promessas de desnuclearização, pare quaisquer ações que possam piorar a situação e retorne à negociação de seis países [Coreia do Norte, EUA, China, Japão, Rússia e Coreia do Sul]". Rússia, França e outros seguiram caminho similar.
"Espero uma forte resolução do Conselho de Segurança da ONU (...) apoiando certo nível de sanções econômicas", disse à Folha Scott Snyder, diretor do Centro de Políticas EUA-Coreia do Norte da Fundação Ásia. Snyder vê boa medida de continuidade nas abordagens de Obama e de seu antecessor, George W. Bush, para a Coreia do Norte. Mas, segundo ele, "em vez de dizer que todas as opções estão na mesa [diplomacia e ação militar], Obama se preocupa em agir em todas as frentes ao mesmo tempo".

Potência
A explosão do artefato nuclear não foi surpresa. Pyongyang havia dito que reativaria seu programa nuclear e faria novo teste depois de ver o endurecimento das sanções ao país em resposta a outro teste com foguete realizado em abril.
Mais duas razões vem sendo apontadas para o teste de ontem. O primeiro é fortalecer o objetivo estratégico da Coreia do Norte de tornar permanente seu status de nação nuclear -os EUA rejeitam. O segundo está ligado à questão da sucessão no governo: acredita-se que Kim Jong-il esteja com saúde frágil e que tema que atores externos se aproveitem da situação para desestabilizar o país.
A força da explosão de anteontem é incerta. A detonação de 2006 foi considerada mal-sucedida e avaliada em aproximadamente um quiloton (poder explosivo equivalente a mil toneladas de TNT). Desta vez, a explosão pode ter sido bem mais forte.
Os EUA pediram alguns dias para verificar a força da explosão, mas a Rússia a estimou entre 10 e 20 quilotons, na mesma categoria das bombas que arrasaram Hiroshima e Nagasaki na Segunda Guerra Mundial.


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