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ANÁLISE
Jogada visa cenário doméstico
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O ditador norte-coreano
Kim Jong-il costuma ser pintado pela mídia internacional ora
como playboy sedento por sexo
e conhaque, ora como louco homicida em busca de armas atômicas. Ele parece de fato estar
empenhado em obter um arsenal nuclear, mas dificilmente
pode ser tachado de louco.
Muito pelo contrário, o
"grande líder" tende a ser um
jogador bastante racional, que
costuma apostar -e ganhar-
com lances ousados.
Foi assim que instituiu a política de chantagem atômica,
pela qual negociava recuos em
seu programa bélico em troca
de ajuda financeira, apenas para, algum tempo depois, lançar
uma nova ameaça e barganhar
um novo preço.
Tal padrão explica em parte o
mais recente teste nuclear do
"intimorato líder". Mas, agora,
há indicações de que razões domésticas foram determinantes.
A própria nota oficial divulgada por Pyongyang dá a pista:
"O teste nuclear, coroado de
êxito, inspira fortemente o
Exército e o povo a prosseguir
em sua campanha, intensificando esforços para promover
uma nova onda revolucionária
e abrir as portas para uma nação próspera".
Embora seja difícil distinguir
entre fatos, rumores e manobras de contrainteligência na
Coreia do Norte, acredita-se
que Kim esteja preparando sua
sucessão, em favor do filho
mais novo, Kim Jong-un. Para
isso, estaria cortejando os militares de linha dura.
Segundo a imprensa sul-coreana, o ditador promove uma
verdadeira razia entre as fileiras dos chamados liberais norte-coreanos. Membros do governo simpáticos à cooperação
com a Coreia do Sul e o Ocidente teriam sido presos ou afastados de suas posições e enviados
para um período de reeducação. Um desses moderados teria até mesmo sido fuzilado.
Verdadeiras ou não, o simples fato de essas informações
circularem indica que Pyongyang pretende jogar mais duro
e tornar-se membro oficial do
clube nuclear, hoje composto
por EUA, Rússia, França, Reino
Unido e China, além de Índia,
Paquistão e Israel.
Não haveria razão para o racional Kim não agir assim.
Além de o esquema de chantagem atômica ter funcionado
bem até aqui, os EUA e o Ocidente às vezes até recompensam países que ignoram a política de não proliferação e desenvolvem armamento nuclear -casos de Israel e da Índia.
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