São Paulo, terça-feira, 26 de maio de 2009

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ANÁLISE

Jogada visa cenário doméstico

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O ditador norte-coreano Kim Jong-il costuma ser pintado pela mídia internacional ora como playboy sedento por sexo e conhaque, ora como louco homicida em busca de armas atômicas. Ele parece de fato estar empenhado em obter um arsenal nuclear, mas dificilmente pode ser tachado de louco.
Muito pelo contrário, o "grande líder" tende a ser um jogador bastante racional, que costuma apostar -e ganhar- com lances ousados.
Foi assim que instituiu a política de chantagem atômica, pela qual negociava recuos em seu programa bélico em troca de ajuda financeira, apenas para, algum tempo depois, lançar uma nova ameaça e barganhar um novo preço.
Tal padrão explica em parte o mais recente teste nuclear do "intimorato líder". Mas, agora, há indicações de que razões domésticas foram determinantes.
A própria nota oficial divulgada por Pyongyang dá a pista: "O teste nuclear, coroado de êxito, inspira fortemente o Exército e o povo a prosseguir em sua campanha, intensificando esforços para promover uma nova onda revolucionária e abrir as portas para uma nação próspera".
Embora seja difícil distinguir entre fatos, rumores e manobras de contrainteligência na Coreia do Norte, acredita-se que Kim esteja preparando sua sucessão, em favor do filho mais novo, Kim Jong-un. Para isso, estaria cortejando os militares de linha dura.
Segundo a imprensa sul-coreana, o ditador promove uma verdadeira razia entre as fileiras dos chamados liberais norte-coreanos. Membros do governo simpáticos à cooperação com a Coreia do Sul e o Ocidente teriam sido presos ou afastados de suas posições e enviados para um período de reeducação. Um desses moderados teria até mesmo sido fuzilado.
Verdadeiras ou não, o simples fato de essas informações circularem indica que Pyongyang pretende jogar mais duro e tornar-se membro oficial do clube nuclear, hoje composto por EUA, Rússia, França, Reino Unido e China, além de Índia, Paquistão e Israel.
Não haveria razão para o racional Kim não agir assim. Além de o esquema de chantagem atômica ter funcionado bem até aqui, os EUA e o Ocidente às vezes até recompensam países que ignoram a política de não proliferação e desenvolvem armamento nuclear -casos de Israel e da Índia.


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