São Paulo, terça-feira, 26 de junho de 2007

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Cúpula egípcia isola mais o Hamas

Israel, Jordânia e Egito se unem para manifestar apoio ao presidente palestino e pressionar grupo islâmico

Após liberar milhões para o governo de emergência de Abbas, premiê israelense promete libertar 250 presos palestinos ligados ao Fatah

DA REDAÇÃO

Num gesto destinado a isolar ainda mais o grupo islâmico Hamas, que tomou o poder em Gaza à força há 11 dias, os líderes de Israel, Jordânia e Egito se reuniram ontem no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh para manifestar apoio ao gabinete de emergência criado pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas.
Depois de anunciar, no sábado, a liberação de milhões de dólares em impostos da ANP, o premiê de Israel, Ehud Olmert, comunicou ontem que pedirá a libertação de 250 prisioneiros do Fatah, a facção liderada por Abbas que foi expulsa da faixa de Gaza -há cerca de 10 mil palestinos em prisões israelenses.
Perto de US$ 700 milhões em impostos foram coletados por Israel desde a chegada ao poder do Hamas, em janeiro de 2006, mas o repasse ao governo palestino foi congelado devido à recusa do grupo islâmico em reconhecer o direito de existência do Estado judeu. A expectativa é de que metade desse montante seja liberada.
Se as razões de Israel para buscar o isolamento do Hamas são claras, o apoio de Egito e Jordânia a Abbas demonstra a preocupação com o aumento da influência da Síria e do Irã e a crescente ameaça do islamismo político aos grupos dominantes da região.
Essa preocupação é mais clara no Egito, onde o principal foco de oposição ao ditador Hosni Mubarak é a Irmandade Muçulmana, movimento que inspirou a criação do Hamas. Mas a Jordânia também compartilha o temor e chegou a prender militantes do Hamas no ano passado, após acusá-los de um complô terrorista.
Apesar de defender a "legitimidade" de Abbas, Mubarak pediu a retomada dos contatos entre Fatah e Hamas. Para o ditador egípcio, "o retorno ao diálogo é uma necessidade urgente, que não pode esperar". Ismail Haniyeh, premiê destituído por Abbas após a tomada de Gaza, reagiu ao apelo dizendo que está disposto a dialogar com o Fatah "imediatamente".
É improvável, porém, que o presidente Abbas aceite a oferta. Na semana passada, o presidente palestino reiterou que não dialogará com o Hamas, em um discurso duro no qual chamou os militantes islâmicos de "assassinos golpistas" e "terroristas". Na reunião de Sharm el-Sheikh, Abbas deixou claro que a negociação que lhe interessa no momento é com Israel.
Deixando escapar um certo desapontamento com a falta de iniciativa do premiê israelense em retomar o processo de paz, Abbas exortou Olmert a "começar negociações políticas sérias, de acordo com um cronograma consensual, com o objetivo de estabelecer um Estado palestino independente". "Minha mão está estendida ao povo de Israel", disse Abbas.
Olmert, embora sem anunciar passos concretos para alcançar um acordo com Abbas, disse que o objetivo é esse. "Não pretendo deixar essa oportunidade escapar", disse o premiê de Israel.

Não à Al Qaeda
O número dois da rede terrorista Al Qaeda, Ayman al-Zawahri, pediu ontem aos muçulmanos espalhados pelo mundo que ajudem a financiar e a armar o Hamas. Em um vídeo veiculado ontem na internet, aparentemente para coincidir com a reunião de cúpula no Egito, ele pediu a união do mundo islâmico em favor do Hamas.
O grupo islâmico palestino, contudo, rejeitou associar seus objetivos aos da Al Qaeda. "O Hamas tem seu próprio programa, independentemente de comentários desse ou daquele grupo", disse ontem o porta-voz do grupo em Gaza, Sami Abu Zuhri.


Com agências internacionais


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