São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Africanos pressionam Mugabe

Ditador do Zimbábue, que busca reeleição, é desencorajado por vizinhos; África do Sul pede adiamento

Líder opositor, que abdicou de candidatura, apela para União Africana; voto seria ilegítimo, afirmam Angola, Suazilândia e Tanzânia

DA REDAÇÃO

O projeto de Robert Mugabe de se reeleger de qualquer maneira, no segundo turno presidencial de amanhã, no Zimbábue, sofreu ontem duas pancadas: com a declaração conjunta dos três países representantes da SADC (Comunidade Sul-Africana de Desenvolvimento), de que a reeleição "não teria legitimidade" e com a iniciativa da África do Sul, até agora conivente com o ditador, de propor o adiamento das eleições.
No primeiro turno, em 29 de março, Mugabe ficou em segundo lugar, atrás de Morgan Tsvangirai, do MDC (Movimento pela Mudança Democrática). Mas o oponente retirou sua candidatura para o turno final ante a violenta campanha de intimidação que matou cerca de 90 de seus partidários.
Tsvangirai está refugiado na Embaixada da Holanda em Harare. Ele a deixou ontem brevemente para declarar que a reeleição de Mugabe seria "uma impostura" e lançar um apelo para que a União Africana, com o apoio da ONU, propusesse uma fórmula de transição.
O nome de Tsvangirai ainda está nas cédulas preparadas para amanhã. A comissão eleitoral, controlada pela ditadura, argumenta não ter como reverter as cédulas já impressas.
"O problema do Zimbábue é africano e requer uma solução africana", disse o líder da oposição. O "Financial Times" lembra que ele já pediu tropas internacionais e que outros inimigos de Mugabe pedem novas sanções econômicas, algo de efeitos duvidosos para um país que já está na bancarrota.
O posicionamento da SADC foi tomado na Suazilândia, que integra ao lado da Tanzânia e de Angola o trio de países que procura uma solução alternativa ao continuísmo do ditador.
"Efetuar eleições dentro das atuais circunstâncias poderá comprometer a credibilidade e a legitimidade dos resultados", disseram os presidentes dos países vizinhos, numa linguagem cuidadosa e, mesmo assim, sem maiores ambigüidades.

Recuo sul-africano
Quanto à África do Sul, que tem o peso de potência regional, a Reuters diz que seu governo enviou a Harare um emissário encarregado de negociar "toda e qualquer opção", entre elas o adiamento da votação de amanhã. A informação partiu do porta-voz do governo sul-africano, Themba Maseko.
O primeiro-ministro do Quênia, Raila Odinga, havia pedido que o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, deixasse de falar em nome dos países da África Austral, em razão de seu comprometimento com o regime zimbabuano. A missão enviada a Harare sinaliza que Mbeki está recuando e já considera alguma alternativa.
Quanto ao próprio ditador, ele reafirmou que o segundo turno presidencial seria realizado nesta sexta, conforme previsto. Além da hostilidade ou da desconfiança de seus vizinhos mais próximos, ele, caso "reeleito", não terá seu governo reconhecido pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos. Ambos querem que a mesma posição seja adotada pela União Européia e pela África do Sul.
Londres também pressiona para que a União Africana faça o mesmo. Se isso ocorresse, Mugabe ou seus representantes deixariam de ser convidados para as reuniões daquela organização africana.
Segundo a BBC, antes dessas alternativas mais radicais um dos cenários para romper o impasse estaria na possibilidade de o MDC aceitar participar de um governo de coalizão até a convocação de novas eleições presidenciais. Mas nada indica que essa alternativa esteja sendo por enquanto negociada.


Com agências internacionais


Texto Anterior: EUA: Justiça reduz multa à Exxon por vazamento
Próximo Texto: Elizabeth 2ª cassa honraria dada a ditador
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.