São Paulo, sábado, 26 de julho de 2008

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Líder uribista é preso por elo paramilitar na Colômbia

Senador à frente da campanha por 3º mandato nega ter vínculos com milícias

Escândalo da parapolítica chega à cúpula do principal partido governista; suposta ligação com "paras" já levou à cadeia 11% do Congresso


Andre Moreno/El Tiempo
Carlos Garcia, detido ontem

DA REDAÇÃO

O senador colombiano Carlos García, líder do principal partido de sustentação do presidente Álvaro Uribe, foi preso ontem acusado de envolvimento com paramilitares. Com a prisão de García, chegam a 31 os políticos detidos no cargo sob o escândalo da parapolítica, que há um ano e meio investiga os vínculos entre o poder colombiano e milícias de direita e já envolveu mais de 60 congressistas da base do governo.
García foi preso na manhã de ontem na cidade caribenha de Santa María, próxima a Bogotá, por ordem da Suprema Corte. Segundo a Promotoria, paramilitares ajudaram o senador a vencer eleições e a consolidar o poder na Província de Tuma (sudoeste). "Paras" desmobilizados afirmam que García mantinha contato constante com as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) -maior milícia de direita colombiana até sua dissolução, em 2006.
Presidente do Partido da Unidade Social Nacional, ou Partido de la U, criado para promover a reeleição de Uribe e apoiá-lo no combate às guerrilhas de esquerda, García nega relação com as AUC. "Se a Corte tem dúvidas, eu as explicarei", afirmou o senador, horas depois da prisão.
Mais de 10% dos 268 membros do Congresso colombiano foram presos e outros 10% estão implicados no escândalo desde o início das investigações sobre o apoio ao financiamento de campanhas e coerção de eleitores pelas AUC. O grupo, fundado para combater os guerrilheiros marxistas, é responsável por milhares de assassinatos e controlava o narcotráfico em partes do país.
O mais recente relatório da missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) que monitora a desmobilização conclui que as AUC mataram os mais de 500 reféns que diziam ter sob seu poder. A missão alerta para o envolvimento de desmobilizados com o tráfico e para os assassinatos de seus ex-integrantes. Por acerto de contas ou por não atender às pressões de grupos criminosos, 819 ex-"paras" foram mortos após deixarem as armas.

Os homens do presidente
A prisão ameaça a frágil reaproximação entre o Executivo e o Judiciário, abaladas pelos processos da parapolítica e pelos questionamento da Suprema Corte à emenda de reeleição. A crise foi contornada neste mês, quando o presidente da Suprema Corte, Francisco Ricaurte, afirmou que não se questiona a legitimidade do presidente, mas apenas o modo como a reeleição foi aprovada -a deputada Yidis Medina foi condenada por vender o voto.
Entre os detidos da parapolítica estão alguns dos maiores aliados do presidente, como seu primo e colaborador Mário Uribe, acusado de fazer acordos ilegais com paramilitares. García é o articulador da campanha para que o Uribe possa concorrer a um terceiro mandato.
"É bom que a Suprema Corte, apesar da enorme popularidade do presidente Uribe [acima de 80%], tenha tido coragem de continuar a fazer valer o Estado de Direito", afirmou José Miguel Vivanco, diretor da Human Rights Watch nas Américas. "Se políticos tão próximos ao presidente forem condenados, a questão será saber se eles podem ter se envolvido com os paramilitares sem o conhecimento ou aprovação de Uribe."


Com agências internacionais


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