São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 2011

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FMI pede que EUA mexam na arrecadação

Bancos apelam para que o país evite um calote; agências ameaçam rebaixar nota se não houver ajuste do caixa

Cabo de guerra entre republicanos e democratas, acordo da dívida prende Congresso em debate

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Os EUA se viram ontem na estranha posição de alvo dos apelos do FMI (Fundo Monetário Internacional) e de grandes bancos de investimento do país, que dispararam duas advertências: é preciso evitar um calote; não há como resolver o problema sem mexer na arrecadação.
O cabo de guerra entre republicanos e democratas prende o Congresso no debate sobre a dívida do governo há semanas. O impasse os empurra para um calote -a conta bateu no teto, US$ 14,3 trilhões de deficit, e, sem acordo para elevá-lo, o dinheiro acaba em sete dias.
"Os EUA deveriam cortar gastos e elevar os impostos", declarou ontem Gian-Maria Milesi-Ferretti, chefe da missão do FMI aos EUA, em vídeo no site da organização.
A recomendação tem destinatário: a oposição republicana, que controla a Câmara dos Representantes (deputados) e descarta debater um plano que envolva acabar com os cortes de impostos iniciados por George W. Bush.
Ontem novamente, o líder republicano, John Boehner, veio a público marcar a posição.
"É do interesse de todos evitar um default [calote], e esperamos que se chegue a uma forma de elevar o teto da dívida até a eleição [de novembro] de 2012", afirmou Jan Loeys, estrategista global do banco JP Morgan, em análise a clientes à qual a Folha teve acesso. "Isso deve ser combinado com um acordo de longo prazo para reduzir o deficit, concentrado em cortes de gastos, mas também com uma dose de aumento de impostos."
O FMI, porém, alertou que os cortes mais drásticos devem ser graduais. Os republicanos miram os programas sociais do governo, como previdência e assistência médica. Os democratas aceitam enxugá-los, mas defendem gradualidade e ajustes. "Dada a magnitude da tarefa e a fragilidade da recuperação, não se deve fazer tudo de uma vez", diz Ferretti. "É preciso garantir que haja um plano bem estabelecido para os próximos anos."
Um calote afetaria a credibilidade dos EUA nos mercados de títulos da dívida e aumentaria os juros que o governo paga sobre os papeis -embora ninguém espere que a segunda maior economia do mundo seja punida como eram seus vizinhos do sul nos anos 80 e 90. Ainda assim, agências que avaliam risco ameaçam baixar a nota dos EUA, no topo da escala. Bancos como o JP Morgan e o Citibank advertiram que uma solução provisória para a dívida, que aumente o teto mas não ajuste o caixa, não livrará Washington do rebaixamento.
A tensão nos mercados cresce. Ontem o dólar registrou recorde de baixa contra o franco suíço, US$ 1,24.


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