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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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"Havia pedaços de carne por toda parte"

MARIA ABRAHAM
DA REUTERS, EM BOMBAIM

Raju Ghosh se preparava para fazer uma pausa para o chá, depois de varrer uma rua agitada na capital financeira da Índia, Bombaim, quando ouviu uma explosão ensurdecedora. "Olhei para cima e vi fumaça por toda parte. Ouvi pessoas gritando. Comecei a correr até um táxi que explodira em pedacinhos", contou o gari, que tem 24 anos.
"Vi pessoas se contorcendo no chão. Havia pedaços de carne por toda parte, como postas de carne de carneiro. Recolhi 12 corpos com pernas, mãos ou cabeças faltando. Minha cabeça girava e eu tremia, mas continuei a carregar os corpos."
Horas após as explosões, o cheiro de carne humana continuava presente no ar, e pedaços de cimento, madeira e vidro quebrado se espalhavam pelo chão da feira, um dos alvos dos ataques.
As explosões trouxeram de volta memórias de uma série de atentados que deixaram pelo menos 260 mortos na cidade em 1993. "Bombaim não é um lugar seguro desde as bombas de 1993, e a situação está piorando. Hoje nenhum local público é seguro. Qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento", disse o joalheiro Raju Jain, 45, sentado numa loja cujo chão estava coberto de estilhaços de vidro.
Após as explosões que abalaram a cidade de quase 13 milhões de habitantes, o clima entre os sobreviventes é de medo. "Estou apavorado. Não posso mais trabalhar em Bombaim", lamentou-se Robin Shahturi, lavrador de 35 anos que passava seu primeiro dia na cidade trabalhando como entregador de comida. "Tanta gente morreu hoje. Sou pobre, não posso sobreviver aqui", disse ele, deitado num leito de hospital com sangue escorrendo de um ferimento em seu peito.
Shahturi era um dos 51 sobreviventes atendidos no hospital. Muitos deles estavam envoltos em bandagens e ainda usavam suas roupas ensanguentadas.
Um taxista contou que passava pela feira de objetos de ouro e prata quando a bomba explodiu. "Havia pernas e mãos em cima do meu táxi e dentro dele. Foi um milagre eu ter escapado", disse Lal Sahib Singh.
Uma testemunha da explosão no Portão da Índia contou que socorreu quatro ou cinco pessoas gravemente feridas, colocou-as em táxis e pediu aos motoristas que as levassem a um hospital às pressas. "Estavam cobertas de sangue", contou.
Grandes poças de sangue se espalhavam pelo chão perto do monumento, ao lado de pedaços de carros destruídos pela explosão.
Sangue e estilhaços de vidro cobriam a agitada rua Dhanji, no centro de Bombaim, local onde ocorre o comércio de ouro e prata. As vitrines das lojas ao longo de centenas de metros da rua estavam todas quebradas.
"Hoje é o dia da festa religiosa de Jain", contou o joalheiro Prashant Jhaveri. "Se a explosão tivesse acontecido duas horas mais tarde, haveria centenas de cadáveres nesta rua."


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