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"Havia pedaços
de carne por
toda parte"
MARIA ABRAHAM
DA REUTERS, EM BOMBAIM
Raju Ghosh se preparava
para fazer uma pausa para o
chá, depois de varrer uma
rua agitada na capital financeira da Índia, Bombaim,
quando ouviu uma explosão
ensurdecedora. "Olhei para
cima e vi fumaça por toda
parte. Ouvi pessoas gritando. Comecei a correr até um
táxi que explodira em pedacinhos", contou o gari, que
tem 24 anos.
"Vi pessoas se contorcendo no chão. Havia pedaços
de carne por toda parte, como postas de carne de carneiro. Recolhi 12 corpos com
pernas, mãos ou cabeças faltando. Minha cabeça girava
e eu tremia, mas continuei a
carregar os corpos."
Horas após as explosões, o
cheiro de carne humana
continuava presente no ar, e
pedaços de cimento, madeira e vidro quebrado se espalhavam pelo chão da feira,
um dos alvos dos ataques.
As explosões trouxeram de
volta memórias de uma série
de atentados que deixaram
pelo menos 260 mortos na
cidade em 1993. "Bombaim
não é um lugar seguro desde
as bombas de 1993, e a situação está piorando. Hoje nenhum local público é seguro.
Qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento",
disse o joalheiro Raju Jain,
45, sentado numa loja cujo
chão estava coberto de estilhaços de vidro.
Após as explosões que
abalaram a cidade de quase
13 milhões de habitantes, o
clima entre os sobreviventes
é de medo. "Estou apavorado. Não posso mais trabalhar em Bombaim", lamentou-se Robin Shahturi, lavrador de 35 anos que passava seu primeiro dia na cidade trabalhando como entregador de comida. "Tanta
gente morreu hoje. Sou pobre, não posso sobreviver
aqui", disse ele, deitado num
leito de hospital com sangue
escorrendo de um ferimento
em seu peito.
Shahturi era um dos 51 sobreviventes atendidos no
hospital. Muitos deles estavam envoltos em bandagens
e ainda usavam suas roupas
ensanguentadas.
Um taxista contou que
passava pela feira de objetos
de ouro e prata quando a
bomba explodiu. "Havia
pernas e mãos em cima do
meu táxi e dentro dele. Foi
um milagre eu ter escapado", disse Lal Sahib Singh.
Uma testemunha da explosão no Portão da Índia
contou que socorreu quatro
ou cinco pessoas gravemente feridas, colocou-as em táxis e pediu aos motoristas
que as levassem a um hospital às pressas. "Estavam cobertas de sangue", contou.
Grandes poças de sangue
se espalhavam pelo chão
perto do monumento, ao lado de pedaços de carros destruídos pela explosão.
Sangue e estilhaços de vidro cobriam a agitada rua
Dhanji, no centro de Bombaim, local onde ocorre o comércio de ouro e prata. As
vitrines das lojas ao longo de
centenas de metros da rua
estavam todas quebradas.
"Hoje é o dia da festa religiosa de Jain", contou o joalheiro Prashant Jhaveri. "Se
a explosão tivesse acontecido duas horas mais tarde,
haveria centenas de cadáveres nesta rua."
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