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DIREITOS HUMANOS
Estudo põe o Brasil como o "mais inclusivo" das Américas; ONGs de deficientes criticam conclusão
Relatório elogia tratamento brasileiro a deficientes
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
O Brasil é o país "mais inclusivo", o que fornece melhor proteção e tratamento a deficientes físicos entre todos das Américas, segundo relatório divulgado ontem
nos EUA.
O documento, "Monitoramento Internacional dos Direitos dos
Deficientes", realizado pelo Centro para a Reabilitação Internacional e divulgado em reunião na
ONU sobre o tema, lista cinco países entre os mais "inclusivos", de
um total de 24: EUA, Canadá,
Costa Rica, Jamaica e Brasil. Entre
os "menos inclusivos" estão Paraguai, Bolívia, Suriname, El Salvador e Nicarágua. Argentina, Chile,
Uruguai, Venezuela e México estão no time do meio, dos "moderadamente inclusivos".
O relatório baseou-se em seis
critérios principais: proteção legal, oportunidades de educação e
emprego, mobilidade, serviços de
saúde e moradia, facilidade de comunicação e apoio a tratados internacionais.
O Brasil foi bem qualificado em
todas as categorias, ao lado dos
EUA, que foram mal avaliados no
último critério, devido à oposição
do governo do presidente George
W. Bush a um tratado internacional de proteção e promoção dos
direitos humanos dos portadores
de deficiência física.
Questionado pela Folha, o presidente do centro, William Kennedy Smith, afirmou que a boa
avaliação do Brasil baseou-se
principalmente no arcabouço legal do país, que, entre outras coisas, proíbe discriminação no ambiente de trabalho, estabelece cotas de contratação e prevê garantias constitucionais de apoio financeiro.
Ele no entanto reconheceu que
foi "mais fácil" para os responsáveis pelo relatório terem acesso à
legislação do país que à realidade
quotidiana dos deficientes físicos.
"Há obviamente uma diferença
entre arcabouço legal e realidade", afirmou. "Não quero exagerar as conclusões. Não quer dizer
que tudo esteja ótimo."
De fato, o documento aponta
um desencontro entre legislação e
realidade: embora haja lei que
obrigue a facilidade de acesso em
prédios públicos para deficientes,
diz que apenas 10% de fato são
acessíveis.
"Se o Brasil é líder, como é que
estão os outros?", criticou Nadja
Soares de Pinho, tetraplégica e vice-presidente do Movimento Vida, uma das ONGs que participam do monitoramento da ONU
sobre a situação dos deficientes.
"O Brasil tem muitas conquistas,
mas está longe do ideal. Estamos
muito desassistidos. Políticas públicas praticamente inexistem e os
deficientes continuam à margem", disse ela, para quem o relatório é "contraditório".
Geronimo Ciqueira da Silva,
coordenador da Organização Nacional de Entidades de Deficientes
Físicos, concorda. "Estamos engatinhando ainda, a passo de tartaruga. Faltam políticas públicas."
Colaborou a Redação
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