São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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Oportunidades na África já atraíram 750 mil chineses

Economias incipientes impulsionam fluxo de emigrantes e empresas da China

Trocas comerciais entre o país asiático e o continente africano aumentaram cinco vezes em uma geração; convivência gera atritos

HOWARD W. FRENCH
LYDIA POLGREEN
DO "NEW YORK TIMES", EM LILONGWE (MALÁUI)

Quando Yang Jie deixou a casa de seus pais, aos 18 anos, fez o que as pessoas da pobre Província chinesa de Fujian vêm fazendo há gerações: emigrou em busca de uma vida melhor.
O que o diferenciou foi que, em vez de escolher os destinos tradicionais dos emigrantes chineses, como os EUA ou a Europa, Yang escolheu o Maláui, país pequeno do sul da África, sem saída para o mar.
"Antes de deixar a China, eu pensava que a África inteira fosse um grande deserto", disse Yang, hoje com 25 anos. Então ele imaginou que deveria haver grande demanda de sorvete e, com dinheiro obtido de familiares e amigos, construiu uma fábrica de sorvete na periferia de Lilongwe, a capital do Maláui. Sua empresa de sorvetes se tornou a maior do país.
Histórias como a dele vêm se multiplicando em toda a África nos últimos cinco anos, aproximadamente, período em que centenas de milhares de chineses começaram a descobrir o continente.
Recentemente a agência de notícias Xinhua estimou que pelo menos 750 mil chineses trabalham ou vivem por períodos prolongados no continente -um reflexo dos vínculos econômicos crescentes entre China e África, que, em 2006, chegaram a US$ 55 bilhões em trocas comerciais, contra menos de US$ 10 milhões uma geração antes.
Condições como as da África, em que muitas economias estão por desenvolver ou em ruínas, muitas vezes desanimam os investidores ocidentais, mas, para muitos empreendedores chineses, as economias africanas emergentes são convidativas precisamente por serem pequenas e acessíveis. A concorrência com freqüência é pequena ou inexistente e, para os consumidores africanos, os preços baixos de muitos bens e serviços os tornam mais acessíveis que os ocidentais.
O aumento do tráfego aéreo entre a China e países como a Etiópia está levando companhias aéreas chinesas a correr para oferecer novas rotas.
Boa parte da atividade reflete um apetite intenso pelo petróleo e os recursos minerais africanos, necessários para movimentar o setor manufatureiro chinês. Mas grandes empresas chinesas estão se tornando concorrentes fortes também em outros setores, especialmente nos contratos para grandes obras públicas, como rodovias e aeroportos.

Expectativa e medo
Os africanos vêem a maré de chineses com um misto de expectativa e medo. Empresários no Chade, país cujos laços petrolíferos com a China estão crescendo, estão preparando seus espíritos para receber o que desconfiam que será um exército de trabalhadores e investidores chineses. "Para os próximos anos, prevemos um influxo de pelo menos 40 mil chineses", disse Renaud Dinguemnaial, diretor da Câmara do Comércio do Chade. "Esse fluxo maciço pode ser benéfico para a economia, mas também nos preocupa. Quando chegarem, eles vão trazer seus próprios funcionários, ficar em suas próprias casas, mandar todo seu dinheiro para casa?"
No Zâmbia, onde o sentimento antichinês vem crescendo, comerciantes no mercado central da capital, Lusaka, disseram que, se os chineses querem vir para a África, devem fazê-lo como investidores, não como pequenos comerciantes que disputam com os locais.
"Eles vendem as mesmas coisas que nós, a preços baixos. Nós pagamos impostos e taxas, mas eles usam seus contatos para sonegar", disse Dorothy Mainga, que vende tênis Puma com desconto no mercado Kamwala, em Lusaka.
Algumas desavenças entre os chineses e os africanos são comuns, e os ressentimentos são inevitáveis. "Ficamos satisfeitos por termos os chineses aqui", disse Dennis Phiri, 21, estudante de engenharia no Maláui. "Mas o problema com as firmas chinesas é que elas reservam todos os bons empregos para seu próprio pessoal."
Outra crítica freqüente é que os chineses se fecham em clãs.
Em Adis Abeba, num arranjo que é típico na maioria das grandes empresas, os 200 funcionários chineses da construtora Road and Bridge Corporation vivem num condomínio próprio, fazem refeições preparadas por cozinheiros trazidos da China e recebem atendimento de um médico chinês.


Tradução de CLARA ALLAIN

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