|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Oportunidades na África já atraíram 750 mil chineses
Economias incipientes impulsionam fluxo de emigrantes e empresas da China
Trocas comerciais entre o país asiático e o continente africano aumentaram cinco vezes em uma geração; convivência gera atritos
HOWARD W. FRENCH
LYDIA POLGREEN
DO "NEW YORK TIMES", EM LILONGWE (MALÁUI)
Quando Yang Jie deixou a casa de seus pais, aos 18 anos, fez
o que as pessoas da pobre Província chinesa de Fujian vêm
fazendo há gerações: emigrou
em busca de uma vida melhor.
O que o diferenciou foi que,
em vez de escolher os destinos
tradicionais dos emigrantes
chineses, como os EUA ou a
Europa, Yang escolheu o Maláui, país pequeno do sul da
África, sem saída para o mar.
"Antes de deixar a China, eu
pensava que a África inteira
fosse um grande deserto", disse
Yang, hoje com 25 anos. Então
ele imaginou que deveria haver
grande demanda de sorvete e,
com dinheiro obtido de familiares e amigos, construiu uma
fábrica de sorvete na periferia
de Lilongwe, a capital do Maláui. Sua empresa de sorvetes
se tornou a maior do país.
Histórias como a dele vêm se
multiplicando em toda a África
nos últimos cinco anos, aproximadamente, período em que
centenas de milhares de chineses começaram a descobrir o
continente.
Recentemente a agência de
notícias Xinhua estimou que
pelo menos 750 mil chineses
trabalham ou vivem por períodos prolongados no continente
-um reflexo dos vínculos econômicos crescentes entre China e África, que, em 2006, chegaram a US$ 55 bilhões em trocas comerciais, contra menos
de US$ 10 milhões uma geração
antes.
Condições como as da África,
em que muitas economias estão por desenvolver ou em ruínas, muitas vezes desanimam
os investidores ocidentais, mas,
para muitos empreendedores
chineses, as economias africanas emergentes são convidativas precisamente por serem
pequenas e acessíveis. A concorrência com freqüência é pequena ou inexistente e, para os
consumidores africanos, os
preços baixos de muitos bens e
serviços os tornam mais acessíveis que os ocidentais.
O aumento do tráfego aéreo
entre a China e países como a
Etiópia está levando companhias aéreas chinesas a correr
para oferecer novas rotas.
Boa parte da atividade reflete
um apetite intenso pelo petróleo e os recursos minerais africanos, necessários para movimentar o setor manufatureiro
chinês. Mas grandes empresas
chinesas estão se tornando
concorrentes fortes também
em outros setores, especialmente nos contratos para grandes obras públicas, como rodovias e aeroportos.
Expectativa e medo
Os africanos vêem a maré de
chineses com um misto de expectativa e medo. Empresários
no Chade, país cujos laços petrolíferos com a China estão
crescendo, estão preparando
seus espíritos para receber o
que desconfiam que será um
exército de trabalhadores e investidores chineses.
"Para os próximos anos, prevemos um influxo de pelo menos 40 mil chineses", disse Renaud Dinguemnaial, diretor da
Câmara do Comércio do Chade. "Esse fluxo maciço pode ser
benéfico para a economia, mas
também nos preocupa. Quando
chegarem, eles vão trazer seus
próprios funcionários, ficar em
suas próprias casas, mandar todo seu dinheiro para casa?"
No Zâmbia, onde o sentimento antichinês vem crescendo, comerciantes no mercado
central da capital, Lusaka, disseram que, se os chineses querem vir para a África, devem fazê-lo como investidores, não
como pequenos comerciantes
que disputam com os locais.
"Eles vendem as mesmas coisas que nós, a preços baixos.
Nós pagamos impostos e taxas,
mas eles usam seus contatos
para sonegar", disse Dorothy
Mainga, que vende tênis Puma
com desconto no mercado
Kamwala, em Lusaka.
Algumas desavenças entre os
chineses e os africanos são comuns, e os ressentimentos são
inevitáveis. "Ficamos satisfeitos por termos os chineses
aqui", disse Dennis Phiri, 21, estudante de engenharia no Maláui. "Mas o problema com as
firmas chinesas é que elas reservam todos os bons empregos para seu próprio pessoal."
Outra crítica freqüente é que
os chineses se fecham em clãs.
Em Adis Abeba, num arranjo
que é típico na maioria das
grandes empresas, os 200 funcionários chineses da construtora Road and Bridge Corporation vivem num condomínio
próprio, fazem refeições preparadas por cozinheiros trazidos
da China e recebem atendimento de um médico chinês.
Tradução de CLARA ALLAIN
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Creme para pele de astro indiano causa indignação Índice
|