|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil vê bases como irreversíveis, mas tenta reaproximar vizinhos
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O governo brasileiro já dá como certo que a cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), na sexta-feira em Bariloche, não provocará a reversão do acordo Colômbia/EUA
para o uso de bases na Colômbia por militares americanos.
A reversão era o objetivo não
explicitado da cúpula. Para a
Venezuela, continua sendo, como se vê da seguinte declaração
de seu chanceler, Nicolás Maduro: "Esperamos que da cúpula de Bariloche surjam importantes conclusões que permitam garantir ao continente sul-americano que as bases de paz
se multiplicarão e que as bases
militares dos EUA comecem
um processo de reversão".
Se não haverá a reversão,
quer dizer que a cúpula é um
fracasso pré-anunciado? Não
necessariamente.
Primeiro porque era absolutamente irrealista esperar a reversão. No mesmo dia em que
anunciou a disposição do presidente Álvaro Uribe de participar do encontro, a Chancelaria
colombiana já avisava que não
condicionava o acordo com os
EUA aos resultados da cúpula.
Segundo porque Bariloche
pode ser o palco para começar a
fechar a mais grave ferida aberta na pele da união sul-americana, que é o confronto Equador/Colômbia. Quito rompeu
relações com Bogotá depois do
bombardeio de um acampamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em território equatoriano,
no ano passado.
No périplo que encerraram
ontem pelas duas capitais,
Marco Aurélio Garcia, assessor
diplomático do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim,
encontraram, na versão de
Marco Aurélio, "sangue doce"
de parte a parte para "desatar o
nó bilateral".
De fato, somando o que autoridades equatorianas e colombianas disseram aos dois brasileiros ao que a Folha ouviu na
Chancelaria colombiana, parece haver espaço para ao menos
iniciar a reaproximação.
Ponto a ponto:
1 - Extraterritorialidade - É a
exigência equatoriana de que a
Colômbia renuncie definitivamente a perseguir os terroristas das Farc em território de
outros países. Marco Aurélio
encontrou boa disposição entre os colombianos para atender o pedido.
2 - Combate às Farc - Os colombianos, sem mencionar nomes de países, queixam-se de
que os vizinhos não colaboram
no combate ao narcoterrorismo representado pelas Farc. É
uma queixa que se dirige tanto
à Venezuela como ao Equador.
Mas os equatorianos exibiram a Jobim e Marco Aurélio
"dados muito significativos"
sobre a repressão ao pessoal
das Farc que cruza a fronteira.
Além disso, prometeram que
processarão judicialmente todos os equatorianos acusados
de vinculação com as Farc, inclusive pessoas que participaram da campanha eleitoral do
presidente Rafael Correa.
3 - O caso Juan Manuel Santos - É o ex-ministro colombiano da Defesa, eventual candidato à sucessão de Uribe e o
principal responsável pela repressão às Farc. A Chancelaria
colombiana não aceita que o
Equador queira processá-lo
por conta do ataque ao acampamento das Farc.
Os equatorianos disseram
aos brasileiros que o caso foi
iniciado pelo Poder Judiciário,
sem qualquer subordinação ao
Executivo.
Resolver a pendência Equador/Colômbia é um passo no
sentido de reafirmar que "nada
é mais importante que a Unasul. Ela tem prioridade sobre
qualquer outra questão", como
diz Marco Aurélio.
Sem negar que a questão das
bases continuará causando
"desconforto" ao governo brasileiro, o assessor de Lula não
deixa de dar relevo ao que Colômbia e EUA apontam como
único objetivo do acordo entre
eles (combate ao narcotráfico e
ao terrorismo, umbilicalmente
ligados): "O narcotráfico é um
inimigo fundamental. Não pode pesar nenhuma suspeição
sobre nenhum país de leniência no combate a ele".
Texto Anterior: Chávez prepara rompimento com Colômbia Próximo Texto: Governo Obama: Cheney repudia investigação acerca de interrogatórios da CIA Índice
|