São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2011 |
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ANÁLISE LÍBIA Esforços devem ser voltados para pacificar e reconstruir Líderes ocidentais terão de convencer eleitorado sobre gastos com pós-Gaddafi
LUCIANA COELHO DE WASHINGTON Com Muammar Gaddafi e seus herdeiros fora de cena, dois devem ser os focos na Líbia: 1) conter a violência, que pode recrudescer na forma de vinganças, purgas, rixas ou saques; 2) começar a reconstruir o Estado. Para ambos, será necessário auxílio das potências ocidentais. Resta saber em que medida elas estarão dispostas a se envolver, dada a limitação política e econômica que já enfrentam em casa. O raciocínio ecoa o pós-invasão do Iraque, mas uma comparação mais cautelosa não avança além do interesse ocidental em petróleo e da oposição desorganizada. A Líbia não encerra rixas sectárias como as do Iraque. Por mais distintos que sejam os interesses e históricos reunidos no balaio de gatos que é o CNT (Conselho Nacional de Transição), que agora domina Trípoli, dentro dele não há facções inimigas (ainda). Outra diferença crucial é na estrutura do Estado. O Iraque sempre teve uma estrutura e instituições desenvolvidas, ainda que dominadas por asseclas de Saddam Hussein e seu Partido Baath. A purga promovida pelos americanos e seus (poucos) aliados após dominarem o país, em 2003, foi um golpe na espinha dessa estrutura, que colapsou para só começar a se levantar em 2008. Na Líbia, vista por alguns analistas como Estado semifalido antes mesmo de estourar a revolta atual, o trabalho terá de começar do zero. E "nation-building", reconstruir nações e suas estruturas civis e militares, não é exatamente a expressão mais popular entre políticos ocidentais neste momento. É preciso que a União Europeia e os EUA, após triunfarem com a ação da Otan, analisem quem vão municiar com armas e fundos, uma vez que as sanções caiam. Por ora, o CNT tem legitimidade. Mas qualquer passo adiante deve ser dado com mecanismos legais, preferencialmente acordados na ONU, que garantam a transparência do processo. Discutir a presença reduzida de tropas de paz, por período limitado, tampouco faria mal -exceto, talvez, aos governos que terão de explicar ao seu eleitorado, outra vez, que intervenções não acabam no dia em que um ditador cai. Ao menos, não as bem-sucedidas. Texto Anterior: Diário de Trípoli: Hotel de luxo tem buracos de bala na varanda Próximo Texto: Álbum de retratos: Gaddafi guarda fotos de Condoleezza Índice | Comunicar Erros |
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