São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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CHILE

Juiz acha ex-ditador "cansado" e pode ordenar novos exames médicos; acusação pede amanhã a detenção do general

Pinochet depõe à Justiça e se diz inocente

DA REDAÇÃO

O ex-ditador chileno Augusto Pinochet declarou-se inocente das acusações de responsabilidade pelos crimes cometidos pela Operação Condor no Chile, em depoimento prestado ontem ao juiz Juan Guzmán Tapia.
Segundo fontes judiciais citadas pelo diário chileno "El Mercurio", Pinochet disse ao juiz que "não podia se preocupar com coisas menores porque era presidente da República".
O depoimento, de cerca de 45 minutos, foi tomado na casa do ex- ditador, no bairro de classe alta de La Dehesa, em Santiago.
Em entrevista a jornalistas após o depoimento, o juiz Tapia afirmou que o general de 88 anos parecia cansado e que, por isso, não pôde formular todas as perguntas que queria.
"Tinha mais perguntas para fazer, mas notei que [Pinochet] tinha muito cansaço. Então resumi as perguntas", disse Tapia. O general teria sido atendido por um médico depois de interrogado.
Segundo fontes próximas ao processo, o juiz deve ordenar que Pinochet se submeta a novos exames médicos e psiquiátricos para determinar se ele tem condições de enfrentar o processo.
A agência de notícias Reuters afirmou que uma junta médica apontada pela Justiça chilena já tinha exame agendado com o ditador para esta semana.
Se confirmada, essa decisão vai atender pedidos dos advogados do ex-ditador, que argumentam que ele está incapacitado mental e fisicamente para se defender judicialmente.
O juiz tem um prazo de cinco dias para decidir que rumo dará ao processo.
"Pediremos na segunda-feira que Pinochet seja detido e submetido a julgamento", disse um dos advogados de acusação do ex-ditador, Eduardo Contreras.
"O que cabe, de acordo com a lei chilena, é que depois do interrogatório o acusado seja processado e detido. Os exames médicos podem ser feitos depois de sua detenção", afirmou.
Já o advogado Pablo Rodríguez, do time de defesa de Pinochet, qualificou o depoimento de "imprudente", "porque o general não está em condições de suportar uma atuação dessa natureza".
Os advogados do ex-ditador conseguiram o adiamento do depoimento em várias ocasiões - inclusive pedindo que o juiz fosse afastado do caso.
O governo chileno se disse satisfeito de que o depoimento tenha ocorrido dentro da normalidade.

Processos
É a segunda vez que o general responde formalmente à Justiça por assassinatos e abusos de direitos humanos cometidos durante seu governo (1973-90).
Tapia investiga sua responsabilidade nos assassinatos e desaparecimentos da Operação Condor, ação conjunta das ditaduras militares do Cone Sul na década de 1970. Vinte chilenos teriam desaparecido nessa operação.
O processo foi aberto depois que, no mês passado, a Corte Suprema revogou a imunidade de que Pinochet dispunha desde 2001, quando o tribunal o considerou mentalmente incapaz.
Na ocasião, ele respondia a processo ante o mesmo juiz Tapia, por suposta responsabilidade pela "Caravana da Morte", em que 75 opositores ao seu regime foram seqüestrados e assassinatos.
Pinochet alegou que os crimes foram cometidos por seus subalternos, sem seu conhecimento. O processo foi fechado, sem sanções, em junho de 2002.
Especialistas afirmam que a alegação de que a saúde mental do ex-ditador está debilitada é cada vez mais difícil de sustentar, já que Pinochet fez aparições consideradas "lúcidas" na mídia no ano passado.
Além disso, no mês passado, o ex-ditador testemunhou perante outro juiz em processo no qual é investigado pela existência de contas bancárias secretas e milionárias em seu nome em paraísos fiscais. A denúncia provocou o afastamento de antigos aliados, aumentando o isolamento político do ex-ditador.


Com agências internacionais

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