São Paulo, sábado, 26 de setembro de 2009

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Ocidente acusa Irã de omitir usina nuclear

Em tom duro, líderes de EUA, França e Reino Unido dizem que Teerã escondeu da AIEA nova planta para enriquecer urânio

Para Obama, "esta usina não condiz com um programa nuclear pacífico'; Sarkozy dá três meses para Irã cooperar sob pena de renovar sanções


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A PITTSBURGH

EUA, França e Reino Unido acusaram ontem o Irã de construir secretamente uma segunda usina de enriquecimento de urânio, sob uma montanha na cidade sagrada xiita de Qom (sul de Teerã), e de esconder por anos o projeto das inspeções nucleares internacionais.
Ante a revelação, as potências ocidentais exortaram Teerã a expor em detalhes o seu programa nuclear, sobre o qual recai a suspeita de visar a bomba atômica -o que o Irã nega.
Ao lado do premiê britânico, Gordon Brown, e do presidente francês, Nicolas Sarkozy, o presidente dos EUA, Barack Obama, interrompeu pela manhã o início da reunião de cúpula do G20, em Pittsburgh, para soltar um comunicado fazendo a revelação e incitando o Irã a "assumir suas obrigações" perante a comunidade internacional.
"O tamanho e a configuração desta usina não são consistentes com um programa pacífico", disse Obama. "O Irã está quebrando regras que todos os países deveriam seguir, ameaçando diretamente o regime de não proliferação e negando ao seu próprio povo acesso às oportunidades que merece."
O Irã é alvo de sanções da ONU por se recusar a suspender seu programa de enriquecimento de urânio e por negar o acesso à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) às suas instalações nucleares.
Teerã opera há anos uma usina, em Natanz, com cerca de 4.500 centrífugas para enriquecer urânio (sua existência foi descoberta em 2002). A nova unidade, segundo os EUA, teria capacidade para outras 3.000 centrífugas e estaria localizada a 150 km da capital.
O Irã alega que o seu programa nuclear é pacífico e destinado à geração de energia elétrica -o que tem direito sob o Tratado de Não Proliferação, porém em cooperação com a AIEA.
"Se até dezembro não houver mudança profunda entre líderes iranianos, novas sanções serão adotadas. Tudo deve ser colocado na mesa", disse Sarkozy.
"Não há precedentes sobre o que aconteceu hoje, com todos os países envolvidos nessas negociações condenando o Irã", disse Obama, que não descartou usar a força contra o país.
"Não vou descartar nenhuma opção quando os interesses do povo americano estiverem em jogo. A minha preferência é resolver essa questão pela via diplomática. [Mas] isso quem vai decidir é o Irã", disse Obama.
Na semana que vem, o Irã e o P5+1 -grupo que reúne EUA, Reino Unido, França, China e Rússia (membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU) e a Alemanha- terão, em Genebra, o primeiro encontro desde o ano passado para discutir seu programa nuclear.
Obama disse que o Irã deve ir "limpo" para a reunião e "terá a chance de abandonar o seu desejo de ter armas atômicas".
Para Brown, "o nível de enganação do governo iraniano e a escala do que nós acreditamos que seja uma quebra de seus compromissos internacionais serão um choque e revoltarão a comunidade internacional".
O presidente russo, Dmitri Medvedev, disse por sua vez que "se pode contar com o fato de que o Irã dará resposta convincente" na reunião. A Rússia, ao lado da China, é o país mais reticente a novas sanções contra Teerã, embora tenha dado sinais de que pode endurecer.
Segundo a AIEA, o Irã comunicou a existência da usina em carta enviada na segunda passada à agência ligada à ONU.
O documento teria sido enviado após o Irã tomar conhecimento de que os EUA e outros países já sabiam da existência da usina. Ao saber da carta à AIEA, EUA, França e Reino Unido enviaram à agência todas as informações que vinham levantando "há algum tempo".
A AIEA disse ontem que o Irã descreveu a usina como "nova unidade de enriquecimento em construção". A agência disse que pediu formalmente novas informações sobre a unidade e uma inspeção o quanto antes.
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, não disse nada sobre a existência desta segunda usina em sua visita nesta semana à ONU. Na ocasião, ele disse que seu governo já colaborou com inspetores da AIEA e que são falsas as afirmações de que o programa nuclear do país serve a fins militares.
O governo dos EUA declarou que a nova usina está sendo construída em área fortemente protegida e pode ficar pronta "nos próximos meses com capacidade para produzir uma ou duas bombas atômicas ao ano".
Anteontem, o Irã já sofrera um revés ao ver aprovadas no CS da ONU e no G8 medidas que apertam o cerco a que seu programa nuclear seja adequado às normas internacionais.


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