São Paulo, sábado, 26 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chávez contraria Marrocos e esvazia cúpula na Venezuela

Presença de separatistas faz Rabat enviar 4º escalão a encontro América do Sul-África

Decisão contraria governo Lula, que vê marroquinos como parceiros importantes; Venezuela apoia pleito de militantes da Frente Polisário


SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
LUÍS FERRARI
EDITOR-ADJUNTO DE MUNDO

Irritado com o convite feito pela Venezuela de Hugo Chávez ao grupo independentista Polisário, o Marrocos enviou um representante de quarto escalão à 2ª cúpula América do Sul-África (ASA), que começa hoje na ilha Margarita.
O caso contrariou o governo brasileiro, que vê no Marrocos um crescente parceiro comercial e um aliado importante na aproximação com o mundo árabe e muçulmano.
O Marrocos, que rompeu relações com Caracas no ano passado por causa do apoio ao Polisário, esteve desde o início relutante à ideia de Chávez assumir a segunda edição da ASA -a primeira, na cidade de Abuja em 2006, foi orquestrada pela Nigéria e copatrocinada por Luiz Inácio Lula da Silva.
Em vez de ir pessoalmente, o rei Mohamed 6º planejava enviar à Venezuela o premiê Abbas El Fassi -em 2006 mandara o chanceler. Ao saber que os saarauis terão uma delegação, Rabat preferiu despachar a vice-chanceler Latifa Akharbach.
Sem poder interferir na organização da cúpula, que cabe integralmente ao país anfitrião, o Brasil tentou até os últimos dias encontrar uma solução para conciliar as presenças marroquina e saaraui na cúpula.
O Itamaraty chegou a sugerir que os representantes do Polisário tivessem um status de "observadores não identificados", mas Caracas não quis se comprometer com o tema.
Chávez é um dos principais defensores da Frente Polisário, que milita pela criação da República Árabe Saaraui Democrática (RASD) numa região do litoral oeste-africano da qual a Espanha saiu às pressas, em 1975, e que o Marrocos considera seu território desde então.
Enquanto o impasse não se resolve nessa região rica em fosfato e cujo litoral é um dos mais abundantes do mundo em pescado, a ONU mantém tropas no setor para evitar um conflito entre o Marrocos e a Frente Polisário, que tem apoio militar da vizinha Argélia.
Ao contrário do Brasil, a Venezuela é um dos cerca de 70 países que reconhecem a RASD. Caracas encara todos os foros multilaterais como plataforma para a chamada causa saaraui. Na semana passada, Chávez pediu que o mundo "não se esqueça" dos saarauis.
Diplomatas brasileiros temem agora que a comitiva marroquina tente atrapalhar deliberadamente os esforços para chegar a uma declaração final.
De cunho essencialmente político, a cúpula na ilha Margarita terá a participação de vários líderes críticos das grandes potências, como o boliviano Evo Morales, o líbio Muammar Gaddafi e o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe.


Texto Anterior: Partido de Merkel intensifica campanha nos últimos dias
Próximo Texto: Relação bilateral: Em Nova York, Equador e Colômbia retomam diálogo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.