São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

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Argentina pede prisão de ex-líder do Irã

Promotor acusa cúpula iraniana e o libanês Hizbollah por ataque terrorista que matou 85 em entidade judaica, em 94

Além do ex-presidente Rajsanjani, mais 7 iranianos tiveram a prisão pedida; juiz diz que se pronunciará após verificar provas

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

O promotor Alberto Nisman, que investiga o atentado a bomba ocorrido em 18 de julho de 1994 na sede em Buenos Aires da Amia (Associação Mutual Israelense Argentina), pediu ontem à Justiça argentina que determine a captura internacional de Ali Akbar Rafsanjani, ex-presidente do Irã, de dois de seus ministros de Estado e de outros cinco funcionários de seu governo (1989-1997).
A unidade especial que investiga o ataque, o maior atentado terrorista da história argentina, responsabilizou o Hizbollah e o governo do Irã pelo episódio, que matou 85 pessoas e deixou ao menos 151 feridos e mutilados, segundo o promotor. O governo do Irã nega envolvimento no ataque.
Nisman disse ontem que a decisão de praticar o atentado terrorista foi "tomada pelas mais altas autoridades do governo no Irã" em agosto de 1993 -quase um ano antes do ataque- e que a execução foi encomendada ao Hizbollah, grupo xiita do Líbano. "O Hizbollah nunca age fora do território libanês, salvo sob ordens diretas do regime de Teerã", afirmou.
Era grande a expectativa da comunidade judaica para este anúncio, após um ano e meio de trabalho da unidade especial de investigação. "De uma vez por todas é preciso saber quem foi o responsável em nível internacional", afirmou ontem Luis Grynwald, que dirige a Amia.
Ele afirma que o Irã foi o autor ideológico e financeiro do atentado e que não há dúvidas de que, em nível nacional, "alguém teve de encobrir [os fatos]". O pedido do promotor atende a uma antiga reivindicação dos parentes das vítimas e acontece poucos dias antes do aniversário de dois anos da sentença que absolveu 22 acusados na chamada "conexão nacional" do ataque, entre eles o mecânico Carlos Telledin, que teria preparado a van usada para explodir o edifício.
Por irregularidades verificadas na instrução do processo anterior, o juiz que respondia pela causa, Juan José Galeano, foi destituído do cargo e processado por peculato. Também foram processados Hugo Anzorreguy, chefe da Side (Secretaria de Inteligência de Estado) no governo do presidente Carlos Menem, acusado de sumir com fitas que comprovavam o envolvimento de Telledin, e Rubén Beraja, ex-dirigente da Daia (entidade que reúne e representa as associações judaicas argentinas). Todos teriam participado de uma operação para abafar o caso.
O juiz federal que hoje cuida do caso é Rodolfo Canicoba Corral. Ele disse que ordenará a prisão se houver "respaldo nas provas citadas" pelo promotor. Ainda há muitas dúvidas sobre o atentado à Amia, o segundo contra a comunidade judaica argentina-em 1992, um ataque a bomba na Embaixada de Israel em Buenos Aires causou 27 mortos e cerca de 350 feridos, segundo a Daia.
O promotor comunicou ontem sua decisão, mas não divulgou as provas que a embasam. O motivo do ataque, para a Promotoria, seria a ruptura de um acordo nuclear da Argentina com o Irã -mas especulações relacionam ainda o caso ao envolvimento da Argentina na Guerra do Golfo e a ações israelenses no Líbano.
Ontem, em nota, os EUA felicitaram o governo argentino e disseram que o informe da Promotoria traz informações "convincentes" da responsabilidade iraniana. No último 18 de julho, os dirigentes da Amia haviam pedido ao governo de Néstor Kirchner que cortasse suas relações diplomáticas com o Irã, o que não foi feito.
Neste ano, Teerã chegou a oferecer apoio à Argentina na retomada de seu plano nuclear para enriquecer urânio. O Irã não possui embaixador na Argentina, e é representado por um diplomata que não tem o título. O governo de Teerã não se pronunciou ontem.


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