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Argentina pede prisão de ex-líder do Irã
Promotor acusa cúpula iraniana e o libanês Hizbollah por ataque terrorista que matou 85 em entidade judaica, em 94
Além do ex-presidente Rajsanjani, mais 7 iranianos tiveram a prisão pedida; juiz diz que se pronunciará
após verificar provas
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
O promotor Alberto Nisman,
que investiga o atentado a bomba ocorrido em 18 de julho de
1994 na sede em Buenos Aires
da Amia (Associação Mutual
Israelense Argentina), pediu
ontem à Justiça argentina que
determine a captura internacional de Ali Akbar Rafsanjani,
ex-presidente do Irã, de dois de
seus ministros de Estado e de
outros cinco funcionários de
seu governo (1989-1997).
A unidade especial que investiga o ataque, o maior atentado
terrorista da história argentina,
responsabilizou o Hizbollah e o
governo do Irã pelo episódio,
que matou 85 pessoas e deixou
ao menos 151 feridos e mutilados, segundo o promotor. O governo do Irã nega envolvimento no ataque.
Nisman disse ontem que a
decisão de praticar o atentado
terrorista foi "tomada pelas
mais altas autoridades do governo no Irã" em agosto de
1993 -quase um ano antes do
ataque- e que a execução foi
encomendada ao Hizbollah,
grupo xiita do Líbano. "O Hizbollah nunca age fora do território libanês, salvo sob ordens
diretas do regime de Teerã",
afirmou.
Era grande a expectativa da
comunidade judaica para este
anúncio, após um ano e meio de
trabalho da unidade especial de
investigação. "De uma vez por
todas é preciso saber quem foi o
responsável em nível internacional", afirmou ontem Luis
Grynwald, que dirige a Amia.
Ele afirma que o Irã foi o autor ideológico e financeiro do
atentado e que não há dúvidas
de que, em nível nacional, "alguém teve de encobrir [os fatos]". O pedido do promotor
atende a uma antiga reivindicação dos parentes das vítimas e
acontece poucos dias antes do
aniversário de dois anos da sentença que absolveu 22 acusados
na chamada "conexão nacional" do ataque, entre eles o mecânico Carlos Telledin, que teria preparado a van usada para
explodir o edifício.
Por irregularidades verificadas na instrução do processo
anterior, o juiz que respondia
pela causa, Juan José Galeano,
foi destituído do cargo e processado por peculato. Também
foram processados Hugo Anzorreguy, chefe da Side (Secretaria de Inteligência de Estado)
no governo do presidente Carlos Menem, acusado de sumir
com fitas que comprovavam o
envolvimento de Telledin, e
Rubén Beraja, ex-dirigente da
Daia (entidade que reúne e representa as associações judaicas argentinas). Todos teriam
participado de uma operação
para abafar o caso.
O juiz federal que hoje cuida
do caso é Rodolfo Canicoba
Corral. Ele disse que ordenará a
prisão se houver "respaldo nas
provas citadas" pelo promotor.
Ainda há muitas dúvidas sobre
o atentado à Amia, o segundo
contra a comunidade judaica
argentina-em 1992, um ataque a bomba na Embaixada de
Israel em Buenos Aires causou
27 mortos e cerca de 350 feridos, segundo a Daia.
O promotor comunicou ontem sua decisão, mas não divulgou as provas que a embasam.
O motivo do ataque, para a Promotoria, seria a ruptura de um
acordo nuclear da Argentina
com o Irã -mas especulações
relacionam ainda o caso ao envolvimento da Argentina na
Guerra do Golfo e a ações israelenses no Líbano.
Ontem, em nota, os EUA felicitaram o governo argentino e
disseram que o informe da Promotoria traz informações "convincentes" da responsabilidade
iraniana. No último 18 de julho,
os dirigentes da Amia haviam
pedido ao governo de Néstor
Kirchner que cortasse suas relações diplomáticas com o Irã,
o que não foi feito.
Neste ano, Teerã chegou a
oferecer apoio à Argentina na
retomada de seu plano nuclear
para enriquecer urânio. O Irã
não possui embaixador na Argentina, e é representado por
um diplomata que não tem o título. O governo de Teerã não se
pronunciou ontem.
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