São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

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Discurso do "diabo" foi fatal para Chávez

WARREN HOGE
DO "NEW YORK TIMES", NAS NAÇÕES UNIDAS

O venezuelano Hugo Chávez provocou risos e gargalhadas na ONU, no mês passado, com seu discurso em que ridicularizou o presidente George W. Bush, descrevendo-o como o diabo. Agora parece que sua performance -que visava conquistar o apoio dos muitos detratores dos EUA na ONU- pode ter custado a seu país a vaga no Conselho de Segurança.
Os países em desenvolvimento compõem a imensa maioria dos 192 membros da Assembléia Geral, e os discursos contrários a Washington costumam ser bem recebidos.
Mas esses países também valorizam a ONU, vista como um lugar onde suas vozes podem ser ouvidas, e tanto os defensores quanto os detratores de Chávez nas Nações Unidas dizem que o presidente venezuelano pode ter errado seu cálculo ao tentar transformar o pódio da organização em púlpito.
O resultado fraco da Venezuela foi recebido com surpresa, e muitas pessoas, incluindo aquelas que votaram a favor de Caracas, apontam a performance de Chávez como a causa disso. "O discurso desempenhou o papel mais importante no que aconteceu", disse Riordan Roett, diretor do Programa de Estudos Latino-americanos da Universidade Johns Hopkins. "Aqui existe um respeito tradicional pelo protocolo."
"O discurso prejudicou a causa dele", opinou o embaixador Enrique Berruga, do México, que optou desde o início pela Guatemala. "Existem limites na Assembléia Geral, e Chávez os ultrapassou em muito." Outro embaixador latino, que disse saber de países que votaram na Guatemala em função do discurso de Chávez, concordou que o presidente venezuelano transpôs o limite do que é visto como aceitável.
"Criticar os EUA é aceitável, mas o discurso de Chávez foi visto como equivalendo a uma crítica à ONU, que, em última análise, é a casa de todos." O grupo latino-americano e caribenho nas Nações Unidas em muitas instâncias demonstra desunião. O clima de discórdia gerado pela disputa entre Venezuela e Guatemala nas Nações Unidas reflete as divisões dentro da própria região.
Para começar, há a questão do papel dos EUA, que fez lobby intenso em favor da Guatemala e cujas tentativas de exercer influência sobre a América Latina dividem a região há anos.
"Os dois países se sentem prejudicados, a Guatemala pela Venezuela, e a Venezuela pelos EUA", disse o embaixador brasileiro Ronaldo Sardenberg. "Este é um momento muito complicado."


Tradução de CLARA ALLAIN


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