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Discurso do "diabo" foi fatal para Chávez
WARREN HOGE
DO "NEW YORK TIMES", NAS NAÇÕES
UNIDAS
O venezuelano Hugo Chávez
provocou risos e gargalhadas
na ONU, no mês passado, com
seu discurso em que ridicularizou o presidente George W.
Bush, descrevendo-o como o
diabo. Agora parece que sua
performance -que visava conquistar o apoio dos muitos detratores dos EUA na ONU- pode ter custado a seu país a vaga
no Conselho de Segurança.
Os países em desenvolvimento compõem a imensa
maioria dos 192 membros da
Assembléia Geral, e os discursos contrários a Washington
costumam ser bem recebidos.
Mas esses países também valorizam a ONU, vista como um
lugar onde suas vozes podem
ser ouvidas, e tanto os defensores quanto os detratores de
Chávez nas Nações Unidas dizem que o presidente venezuelano pode ter errado seu cálculo ao tentar transformar o pódio da organização em púlpito.
O resultado fraco da Venezuela foi recebido com surpresa, e muitas pessoas, incluindo
aquelas que votaram a favor de
Caracas, apontam a performance de Chávez como a causa
disso. "O discurso desempenhou o papel mais importante
no que aconteceu", disse Riordan Roett, diretor do Programa
de Estudos Latino-americanos
da Universidade Johns Hopkins. "Aqui existe um respeito
tradicional pelo protocolo."
"O discurso prejudicou a causa dele", opinou o embaixador
Enrique Berruga, do México,
que optou desde o início pela
Guatemala. "Existem limites
na Assembléia Geral, e Chávez
os ultrapassou em muito."
Outro embaixador latino,
que disse saber de países que
votaram na Guatemala em função do discurso de Chávez, concordou que o presidente venezuelano transpôs o limite do
que é visto como aceitável.
"Criticar os EUA é aceitável,
mas o discurso de Chávez foi
visto como equivalendo a uma
crítica à ONU, que, em última
análise, é a casa de todos."
O grupo latino-americano e
caribenho nas Nações Unidas
em muitas instâncias demonstra desunião. O clima de discórdia gerado pela disputa entre
Venezuela e Guatemala nas
Nações Unidas reflete as divisões dentro da própria região.
Para começar, há a questão
do papel dos EUA, que fez lobby
intenso em favor da Guatemala
e cujas tentativas de exercer influência sobre a América Latina dividem a região há anos.
"Os dois países se sentem prejudicados, a Guatemala pela
Venezuela, e a Venezuela pelos
EUA", disse o embaixador brasileiro Ronaldo Sardenberg.
"Este é um momento muito
complicado."
Tradução de CLARA ALLAIN
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