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Iraque pede contenção à Turquia
Tensões aumentam na fronteira, onde Exército turco diz ter matado mais 30 guerrilheiros do PKK
Ancara pede ajuda aos EUA para conter separatistas curdos e põe Washington diante de dilema; turcos se dividem quanto a problema
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DIYARBAKIR
(TURQUIA)
Enquanto a Turquia continuava a efetuar ataques a bases
do grupo guerrilheiro PKK
(Partido dos Trabalhadores do
Curdistão) no norte do Iraque e
mantinha a ameaça de invadir o
país vizinho, o governo iraquiano propôs ontem uma solução
política para evitar a ampliação
do conflito.
Pressionado por uma opinião
pública cada vez mais revoltada
com os ataques do PKK, que
deixaram dezenas de soldados
mortos nas últimas semanas,
Ancara, porém, deu mostras de
que sua paciência está no fim e
apelou aos EUA para que ajudem seu Exército a eliminar a
guerrilha curda da fronteira.
Na véspera da chegada de
uma delegação do governo iraquiano à Turquia, no que pode
ser uma das últimas chances da
diplomacia para impedir que a
Guerra do Iraque ganhe uma
nova e perigosa dimensão regional, o chanceler Hoshyar
Zebari antecipou o que Bagdá
oferecerá hoje, quando terão
início as conversações.
O governo iraquiano, segundo Zebari, ele próprio um influente político curdo, promete
"pacificar, isolar e desmantelar" as ações dos separatistas
curdos no norte do Iraque. Entretanto o governo turco, que
nos últimos dias concentrou
tropas na fronteira e relatou
operações aéreas e terrestres
contra os rebeldes curdos em
território iraquiano, tem indicado que não aceitará ações
meramente políticas.
Ataques
Ontem as TVs turcas deram
ampla cobertura a relatos pelo
Exército de ataques a bases do
PKK no norte do Iraque. Os
confrontos teriam deixado pelo
menos "30 terroristas mortos".
As imagens da ação militar foram ao ar graças a uma decisão
judicial que derrubou restrições impostas pelo governo a
notícias do conflito dias antes.
Sob censura, emissoras como
a SKYTurk transmitiam seus
noticiários nos últimos dias
apenas com reportagens leves,
enquanto uma tarja no pé do vídeo informava da proibição.
A delegação iraquiana, chefiada pelo ministro da Defesa,
Abdul-Qader Muhammad Jasim, chegou ontem a Ancara
para tentar uma solução para a
crise, mas advertiu que ações
militares contra o PKK, como
exige o governo turco, não estarão em pauta nas conversas que
serão realizadas hoje.
Zebari afirmou que a proposta iraquiana é fechar os escritórios políticos do PKK no Curdistão iraquiano, uma região semi-autônoma rica em petróleo, e interromper o suprimento de armas aos separatistas.
O próprio Zebari admitiu que
a proposta é bem menos do que
a Turquia vem pedindo. "As expectativas turcas podem ser altas, mas também precisam ser
razoáveis", disse.
Em meio às baixas expectativas em torno do encontro, o
premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, aumentou a pressão sobre os EUA, lembrando que os
americanos, por muito menos,
haviam invadido o Iraque. "Nos
perguntamos por que os EUA
vieram de tão longe para invadir o Iraque", disse Erdogan, líder de um país que tem o segundo maior Exército da Otan
(aliança militar do Ocidente),
atrás apenas do americano.
Em visita à Romênia, Erdogan não escondeu o momento
de tensão das relações com os
EUA. "Nós temos um problema
[na fronteira]. Que tipo de problema os EUA tinham com o
Iraque? Neste momento, os
EUA, como nosso aliado estratégico, estão na posição de
atuar conosco. Nós agimos junto com eles no Afeganistão."
As queixas da Turquia têm
colocado o governo americano
em uma posição delicada. Por
um lado, precisa manter o
apoio ao governo central do
Iraque, do qual depende para
que sua estratégia de segurança
funcione. Por outro, não pode
negar ajuda a um aliado da
Otan, sobretudo diante de argumentos que sempre usou, como o direito à defesa de um governo ante ataques terroristas.
Apesar de demonstrar compreensão com o problema turco, Washington já indicou que
não vai atuar militarmente
contra o PKK, que opera nas
montanhas de Kandil, uma das
regiões de mais difícil acesso do
Oriente Médio.
O aumento das tensões na
fronteira têm exposto as divisões dos turcos em relação ao
problema. Enquanto nas cidades mais ricas, como Ancara e
Istambul, prosseguem os protestos diários contra o PKK,
exigindo uma ação mais dura
do governo, no sudeste, onde
predomina a população de origem curda, o clima é de expectativa, mas não de temor.
"Vivemos essa crise há anos,
não acredito que haverá uma
guerra desta vez", disse Aziz,
um alfaiate de 37 anos. Como a
maioria dos curdos de Diyabarkir, ele reluta em falar de política. "O que mais nos preocupa
ainda é a pobreza em que vive a
maioria dos curdos."
Com agências internacionais
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