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Governo de Mianmar se reúne com oposição
Encontro entre "ministro do Diálogo" e a líder pró-democracia Aung San Suu Kyi ocorre após intermediação da ONU
Analistas questionam real disposição do governo em negociar abertura política e temem que novo passo vise apenas aliviar a pressão
DA REDAÇÃO
A principal líder da oposição
birmanesa e vencedora do Nobel da Paz de 1991, Aung San
Suu Kyi, se reuniu ontem com
um general apontado pela ditadura de Mianmar para discutir
uma possível reconciliação. O
encontro chega após esforços
da ONU para promover o diálogo entre os militares e os grupos pró-democracia no país e
permitiu a Suu Kyi sair brevemente da casa onde ficou detida por 12 dos últimos 18 anos.
Segundo a junta, há o desejo
de "suavizar" as relações com
Suu Kyi. A TV estatal divulgou
imagens da reunião, que durou
uma hora e ocorreu em uma casa do governo, mas não deu detalhes. Foi a primeira reunião
entre a líder e o general Aung
Kyi, designado como "ministro
do diálogo" pelo governo após a
intermediação do enviado da
ONU Ibrahim Gambari.
Críticos da junta militar no
poder se mostraram céticos
quanto à disposição do governo
para negociar, sugerindo que a
intenção seja apenas afastar
as ameaças de sanções internacionais. Mas um membro
da oposição ligado a Suu Kyi
disse ao jornal "Financial Times" que a cúpula militar está
sendo afetada pela pressão de
oficiais intermediários e de
base, descontentes com os rumos do país e com o uso da
força contra monges budistas.
Enquanto isso, governos estrangeiros continuam pressionando o regime. A Austrália impôs nesta semana sanções contra mais de 400
membros do governo militar,
familiares e investidores. O
Congresso dos EUA, país que já
aumentou suas sanções, estuda
barrar o comércio de pedras
preciosas com Mianmar.
De 19 de agosto ao final de setembro, Mianmar foi palco das
maiores manifestações contra
a junta militar em mais de 20
anos. Mais de 100 mil pessoas
foram às ruas -inicialmente
contra aumentos de preços-
em um movimento que questionou a ditadura, no poder
desde 1962. A repressão veio de
forma violenta: o governo afirma que dez pessoas foram mortas, mas segundo dissidentes o
número pode chegar a 200,
além de 6.000 detidos.
O relator da ONU para Mianmar, o brasileiro Paulo Sérgio
Pinheiro, citou anteontem relatos de fontes não-identificadas no país que dão conta de
entre 30 e 40 monges budistas
e entre 50 e 70 civis assassinados pelas forças de segurança
birmanesas no último mês. Ele
deve ir ao país em novembro,
após quatro anos de pedidos de
visitas negados, para analisar
os episódios, incluindo o uso
excessivo de força pelos militares, o destino dos detidos e o
número real de mortos.
Com agências internacionais
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