São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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Governo de Mianmar se reúne com oposição

Encontro entre "ministro do Diálogo" e a líder pró-democracia Aung San Suu Kyi ocorre após intermediação da ONU

Analistas questionam real disposição do governo em negociar abertura política e temem que novo passo vise apenas aliviar a pressão

DA REDAÇÃO

A principal líder da oposição birmanesa e vencedora do Nobel da Paz de 1991, Aung San Suu Kyi, se reuniu ontem com um general apontado pela ditadura de Mianmar para discutir uma possível reconciliação. O encontro chega após esforços da ONU para promover o diálogo entre os militares e os grupos pró-democracia no país e permitiu a Suu Kyi sair brevemente da casa onde ficou detida por 12 dos últimos 18 anos.
Segundo a junta, há o desejo de "suavizar" as relações com Suu Kyi. A TV estatal divulgou imagens da reunião, que durou uma hora e ocorreu em uma casa do governo, mas não deu detalhes. Foi a primeira reunião entre a líder e o general Aung Kyi, designado como "ministro do diálogo" pelo governo após a intermediação do enviado da ONU Ibrahim Gambari.
Críticos da junta militar no poder se mostraram céticos quanto à disposição do governo para negociar, sugerindo que a intenção seja apenas afastar as ameaças de sanções internacionais. Mas um membro da oposição ligado a Suu Kyi disse ao jornal "Financial Times" que a cúpula militar está sendo afetada pela pressão de oficiais intermediários e de base, descontentes com os rumos do país e com o uso da força contra monges budistas.
Enquanto isso, governos estrangeiros continuam pressionando o regime. A Austrália impôs nesta semana sanções contra mais de 400 membros do governo militar, familiares e investidores. O Congresso dos EUA, país que já aumentou suas sanções, estuda barrar o comércio de pedras preciosas com Mianmar.
De 19 de agosto ao final de setembro, Mianmar foi palco das maiores manifestações contra a junta militar em mais de 20 anos. Mais de 100 mil pessoas foram às ruas -inicialmente contra aumentos de preços- em um movimento que questionou a ditadura, no poder desde 1962. A repressão veio de forma violenta: o governo afirma que dez pessoas foram mortas, mas segundo dissidentes o número pode chegar a 200, além de 6.000 detidos.
O relator da ONU para Mianmar, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, citou anteontem relatos de fontes não-identificadas no país que dão conta de entre 30 e 40 monges budistas e entre 50 e 70 civis assassinados pelas forças de segurança birmanesas no último mês. Ele deve ir ao país em novembro, após quatro anos de pedidos de visitas negados, para analisar os episódios, incluindo o uso excessivo de força pelos militares, o destino dos detidos e o número real de mortos.


Com agências internacionais


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